Redação (24/09/07) – Na semana passada a Perdigão anunciou investimento de R$ 280 milhões em uma nova unidade. Para falar sobre os planos da empresa, quinta maior do mundo no ramo, a coluna convidou Nildemar Secches. Aqui vão trechos da sua entrevista:A Perdigão acaba de anunciar nova fábrica em Pernambuco. Por que tão longe?
Queremos melhorar o atendimento ao Nordeste, principalmente em lácteos, mas também em produtos tradicionais à base de carne. Sendo assim, buscamos um ponto estratégico, central, que ajude na distribuição para toda a região. Temos tamanho hoje no Nordeste que já justifica uma unidade industrial: conseguimos ser líderes em congelados e industrializados de carne.
Em congelados, nossa participação chega a 40,4% e em industrializados, a 37,9%. Além disso, o projeto receberá incentivos do governo do Estado, através do Prodepe.Como é a logística da empresa? O custo do transporte é alto? A Perdigão não tem terminal próprio de navegação. Utilizamos majoritariamente o Porto de Itajaí, que tem escala de navios e armazenagem compatíveis com nossos volumes. Também exportamos pelos portos de Paranaguá e Santos. Nossa intenção é desenvolver mais opções fora a região Sul. A Perdigão perde competitividade externa em razão da infra-estrutura brasileira? Evidentemente que a questão do transporte no Brasil é deficiente e causa transtornos, especialmente à exportação.
Os portos, que já foram um problema grande no passado, com os investimentos dos últimos anos estão se tornando problema menor. O que tem atrapalhado muito nos últimos meses é o impasse na negociação salarial com os fiscais sanitários do Ministério da Agricultura.Como se divide o mercado da Perdigão hoje, entre interno e externo?Estamos com volume de 43% no mercado externo e 57% no interno. O mercado internacional está bastante ativo. Há demanda crescente de todas as proteínas de origem animal e, este ano, apresentamos taxas de crescimento superiores a 20%. O mercado interno também está crescendo.
Os produtos processados registram crescimento acima de 10% por causa do aumento da renda disponível. A expectativa é que esse processo continue no decorrer de 2008. A política de subsídios americana e européia atrapalha as exportações brasileiras de frango? Sofremos hoje concorrência das empresas européias, principalmente no Oriente Médio. Temos progressivamente avançado neste mercado mesmo com subsídios médios de 300 euros por tonelada, o que prova a extrema competitividade do Brasil. É evidente que, se conseguirmos em Doha a restrição dos subsídios dos Estados Unidos e da Europa, o Brasil poderá ter market share ainda maior no mercado internacional. Já há acordo sanitário com o Japão? Temos um mercado com acordo sanitário para frangos, que já é tradicional e está fluindo bem. Para suínos, estamos trabalhando, mas ainda estão pendentes negociações entre os governos.E na Rússia?
Há mercado aberto para frango e semi-aberto para suínos, uma vez que hoje apenas o Rio Grande do Sul está habilitado para suínos. Mas esta semana recebemos a visita de uma missão russa, que está reavaliando toda esta questão.China? Índia? Também estamos em negociações para a abertura de suínos e a parte de aves está parcialmente aberta. São poucas as habilitações sujeitas a licenças de importação, o que faz com que o mercado fique restrito.
O câmbio atrapalha as exportações? Como o Brasil é hoje grande player no mercado internacional de carnes, tem sido possível aumentar o preço dos produtos num ritmo similar à perda do câmbio. Até onde vai esse limite é incerto, de forma que começa a preocupar efetivamente a questão do câmbio nos níveis atuais, abaixo de US$ 1,90 por real. Especialmente porque o custo da mão-de-obra tem crescido em termos reais e muito mais se consideramos os salários em dólar.A migração da Perdigão para o Novo Mercado deu frutos? Enormes. Hoje figuramos em todos os principais índices, especificamente no Índice Bovespa. Nosso volume de negociação subiu de uma média diária de US$ 7,3 milhões nos seis meses anteriores à divulgação da entrada no Novo Mercado para um volume atual de US$ 21,9 milhões nas Bolsas do Brasil e de Nova York.
Um aumento de 200%, que possibilita aos acionistas comprar ou vender grandes volumes de ações a qualquer momento.Para ter maior força para competir no exterior, a Perdigão teria de crescer mais? Cada vez mais é preciso ter escala. Nossas fábricas já têm escala compatível com o mercado internacional. Tanto em aves como em produtos de carne em geral, a Perdigão está entre as 5 maiores do mundo. O que se procura viabilizar é a escala maior para nossa estrutura comercial no exterior e, para isso, a empresa está buscando enriquecer o mix de produtos. A tentativa de take-over da Sadia não deu certo. Há chances de vocês quererem comprar a empresa? O assunto Sadia para nós está encerrado. A empresa segue com seus projetos de investimentos previstos no plano estratégico e aprovados pelos acionistas.O senhor deixa a presidência executiva e passa para o conselho quando? Eu já acumulo a presidência da empresa e a do Conselho. Nosso planejamento prevê para meados do próximo ano a indicação do novo diretor-presidente. Quem será seu sucessor? A escolha é um processo que está em curso há bastante tempo e será feita no momento apropriado. Ele terá a missão de continuar o processo de expansão da empresa no mesmo ritmo que ela teve nos últimos 13 anos e torná-la efetivamente empresa de classe mundial.