Redação (24/08/07) – Safra recorde, quase sempre, é sinônimo de excesso de oferta, preços baixos ao produtor, prejuízos e desestímulo ao plantio seguinte, mas não é isso que está acontecendo no Brasil em relação ao milho.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção estimada do País, neste ano, é de cerca de 51 milhões de toneladas do grão, e a perspectiva de exportação é da ordem de 7,5 milhões de toneladas. Minas Gerais tem uma safra prevista de cerca de 6,3 milhões de toneladas, mil toneladas a mais que o ano passado. Apesar do grande volume ofertado, o milho brasileiro está sendo vendido com boa cotação no mercado interno e a demanda internacional aumentou muito.
Para a Superintendência de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, a atual conjuntura aponta para o aumento da rentabilidade da cultura e os produtores estão animados para o próximo plantio. “Os números das exportações são os maiores dos últimos oito anos”, explicou o superintendente João Ricardo Albanez. “Esse incremento nos negócios é devido à oportunidade surgida no mercado internacional com a menor disponibilidade do milho americano, tendo em vista que o mesmo foi destinado à produção de etanol nos Estados Unidos.”
De acordo com o Ministério da Agricultura, as exportações do milho brasileiro nos primeiros sete meses deste ano foram de 4,2 milhões de toneladas, com crescimento de aproximadamente 130% em relação ao mesmo período de 2006. Segundo o levantamento, as exportações do milho mineiro foram proporcionalmente superiores à do Brasil. Apesar da maior parte do grão colhido no estado ser consumida no mercado interno, os embarques subiram de 1.163 toneladas para 65.526 toneladas no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2006, representando um incremento de 5.635% na quantidade e 761% no valor exportado. “Anteriormente, as exportações ocorriam para os produtos processados do milho que apresentam maior valor agregado. Agora, o incremento à exportação se deve ao milho em grão, cotado em cerca de US$ 162,80 a tonelada”, explica o superintendente João Ricardo Albanez.
Para ele, é importante nesta fase que os produtores controlem a euforia e programem bem o próximo plantio, considerando prováveis aumentos dos preços dos insumos, entre outros fatores. Ele recomenda aos agricultores e demais integrantes da cadeia do milho que consultem o site do Centro de Inteligência do Milho (http://cimilho.cnpms.embrapa.br) para dar suporte à programação de suas lavouras. Albanez informa que o CIMilho foi criado pela Secretaria da Agricultura de Minas em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo e Universidade Federal de Viçosa, entre outras instituições, para atender ao fortalecimento do setor em todos os seus segmentos.
O pesquisador João Carlos Garcia, da Embrapa Milho e Sorgo, integrante da coordenação do CIMilho, reforça a recomendação para os produtores buscarem informações sobre a conjuntura do milho, que está possibilitando o paradoxo de uma grande safra com preços remuneradores ao agricultor. “A situação é decorrente dos Estados Unidos, que fez a opção pelo etanol a partir do milho. Por isso, o país está projetando um mercado de quase 80 milhões de toneladas de milho para os próximos três anos. Apesar de a produção americana receber subsídios do governo Bush, houve a geração de uma demanda muito alta, inclusive no mercado internacional”.
Segundo o pesquisador, a situação gerada pelos Estados Unidos reflete-se em diversos produtos, com aumento da área do milho em prejuízo das culturas da soja e do algodão naquele país. “Além dos Estados Unidos, comandam as exportações de milho a Argentina e o Brasil, e por isso nós fomos beneficiados”, acrescenta Garcia. “Tivemos também uma safra de 2006/2007 beneficiada pelo clima e a produtividade foi alta, em razão do baixo custo de produção. Em outras circunstâncias, uma alta produção de milho no Brasil, como a estimada para este ano, poderia causar problemas, mas o mercado internacional é favorável”.
Outro fator benéfico aos produtores brasileiros é o de que o Brasil é o único dos três maiores produtores mundiais que não oferece milho transgênico, o que lhe abre o mercado de uma parte da Europa e possibilita ao país bater recorde na exportação. “Completa este quadro favorável a expansão da demanda do grão no mercado interno, principalmente em razão do aumento das exportações de aves e suínos. Por isso, aumentou o consumo de ração à base de milho” diz o pesquisador. Além disso, ele recomenda ao produtor decidir agora se vai plantar mesmo o milho ou a soja, que também foi beneficiada pela situação favorável do mercado internacional.
A cotação da saca de 60 quilos de milho chega a R$ 21,00 no mercado interno, segundo a Minasbolsa. O maior volume da produção de Minas Gerais está concentrado no Sul, Triângulo e Alto Paranaíba. As lavouras da região Sul se destacam principalmente por não dividir espaço com outros cultivos, como a soja. Além disso, existe estímulo para o desenvolvimento de plantio em regiões próximas de criatórios de aves e de suínos, a fim de possibilitar a economia de frete e a garantia de abastecimento. Este trabalho é feito pelo programa Minas-Milho, coordenado pela Secretaria da Agricultura.
A principal justificativa do Minas-Milho é de que mais de 70% dos custos das granjas estão concentrados na ração dos animais e, neste caso, as ações do programa podem facilitar o abastecimento. O programa apóia a formação de parcerias entre produtores, pecuaristas e indústrias com a participação também de instituições financeiras, cooperativas e prefeituras, entre outras.