Redação (23/04/07) – Foi investigado o efeito da utilização de simbiótico no controle de Salmonella Enteritidis em dietas para frangos de corte até 49 dias de idade. Foram utilizados 48 pintos de um dia , distribuídos em quatro tratamentos sendo: 1 – grupo controle, 2 – grupo com promotor de crescimento, 3 – grupo com promotor de crescimento e simbiótico e 4 –grupo com simbiótico. Cada grupo foi divido em dois subgrupos: A – aves desafiadas aos 21 dias de idade e B desafiadas aos 42 dias de idade. Foram realizadas contagem de Salmonella sp. três dias após o desafio necropsia e PCR sete dias após desafio. Foi verificado que o melhor controle de Salmonella foi obtido no tratamento 4 (<100 UFC/mL) em ambas as datas de desafio . Na análise da necropsia observou-se que somente no tratamento 4 não foram verificadas alterações, já nos tratamentos 2 e 3 verificou-se diarréia. No resultado do PCR foi confirmada a ausência de Salmonella no grupo 4, concluindo que a melhor resposta obtida no teste foi quando utilizou-se o simbiótico exclusivamente.
1.1 Salmonella enterica sorovar Enteritidis
As bactérias do gênero Salmonella continuam sendo uma das causas mais importantes de toxinfecções alimentares em todo o mundo.
Muitos sorovares de Salmonella têm um reservatório animal específico, estando sua transmissão ligada a alimentos obtidos destes animais. Este é o caso de algumas cepas de Salmonella enterica sorovar Enteritidis, também conhecida como Salmonella Enteritidis, que têm a capacidade de colonizar o canal ovopositor da galinha, o que pode vir a causar a contaminação da membrana que envolve a gema durante a formação do ovo (Humphrey, 1994). Essa contaminação torna-se um dos maiores desafios da avicultura industrial mundial devido à perda de produtividade, aumento da mortalidade e à contaminação de produtos de origem avícola para o consumo humano (Santos, 2005).
A alta freqüência de bactérias patogênicas para animais e humanos, presentes em produtos de origem animal, assim como sua resistência aos antimicrobianos utilizados como promotores de crescimento , levaram a questionar o uso indiscriminado desses promotores em rações animais, dando sustentação às recomendações do Comitê Swann, na Grã Bretanha, em 1969 (Swann Commitee, 1969) e culminando com a proibição do uso de antimicrobianos como promotores de crescimento em animais pela União Européia a partir de 2006 (Council of the European Union, 2003).
Torna-se difícil imaginar a produção animal, nos níveis atuais de tecnificação e produtividade, sem o auxílio de aditivos alimentares na prevenção de doenças ou como promotores de crescimento. Entre as diferentes alternativas que vêm sendo estudadas, os probióticos aparecem como as mais promissoras (Revington, 2002; Patterson & Burkholder, 2003).
1.2 Simbiótico
Um produto referido como simbiótico é aquele no qual um probiótico e um prebiótico estão combinados (Holzapfel & Schillinger, 2002). A interação entre o probiótico e o prebiótico in vivo pode ser favorecida por uma adaptação do probiótico ao substrato prebiótico anterior ao consumo. Isto pode, em alguns casos, resultar em uma vantagem competitiva para o probiótico, se ele for consumido juntamente com o prebiótico (Mattila-Sandholm et al., 2002). Alternativamente, esse efeito simbiótico pode ser direcionado às diferentes regiões alvo do trato gastrointestinal, os intestinos delgado e grosso (Holzapfel & Schillinger, 2002).
O produto avaliado é um simbiótico composto por Saccharomyces cerevisiae, bactérias láticas e ácidos orgânicos, que tem como característica melhorar o desempenho zootécnico de frangos de corte.
2. Objetivo
O objetivo desse trabalho foi avaliar a eficácia do uso de um simbiótico, associado ou não a um promotor de crescimento no controle de Salmonella Enteritidis em frangos de corte.
Materiais e Métodos
O presente trabalho foi conduzido no laboratório experimental Ecolvet, localizado em Londrina (PR). Foram utilizadas 48 aves de linhagem comercial Hybro, com um dia de idade e divididas em quatro.Cada tratamento foi subdividido em dois subgrupos contendo seis por subgrupo. As aves do subgrupo A foram desafiadas no 21o dia e as do subgrupo B no 42o dia.
• TRATAMENTO 1A: Controle (dieta normal, sem uso do simbiótico ou promotor de crescimento) e desafio no 21o dia.
• TRATAMENTO 1B: Controle (dieta normal, sem uso do simbiótico ou promotor de crescimento) e desafio no 42o dia.
• TRATAMENTO 2A: Dieta + promotor de crescimento (8,8 ppm) e desafio no 21o dia.
• TRATAMENTO 2B: Dieta + promotor de crescimento (8,8 ppm) e desafio no 42o dia.
• TRATAMENTO 3A: Dieta + promotor de crescimento (8,8 ppm) + Simbiótico e desafio no 21o dia.
• TRATAMENTO 3B: Dieta + promotor de crescimento (8,8 ppm) + Simbiótico e desafio no 42o dia.
• TRATAMENTO 4A: Dieta + simbiótico e desafio no 21o dia.
• TRATAMENTO 4B: Dieta + simbiótico e desafio no 42o dia.
No primeiro dia do experimento, foi realizado o isolamento de Salmonella sp. dos grupos de aves que participaram do experimento e da ração para garantia que as mesmas não continham patógenos.
As aves receberam ração composta de milho, soja e farinha de carne ad libtum, de acordo com seu grupo, desde o primeiro dia de experimento. As gaiolas e o ambiente foram higienizados duas vezes ao dia. A água foi trocada duas vezes ao dia e o bebedouro higienizado também duas vezes ao dia.
O produto simbiótico foi misturado na ração de forma homogênea, onde até o 21o dia foi feita a inclusão de 3 kg/tonelada e até o 49o dia a inclusão foi feita com 2 kg/tonelada.
No 21o dia foi inoculado, via oral, 1 mL de uma solução de alto desafio contendo 107 UFC/mL de Salmonella Enteritidis nos grupos 1A, 2A, 3A e 4A. (Woodward et al., 2002). Três dias após o desafio (24o dia do experimento), foi realizada a contagem de Salmonella sp. nas fezes retiradas do intestino das aves dos grupos 1A, 2A, 3A e 4A. No 28o dia do experimento, foi realizada a necropsia das aves para observação de possíveis lesões nos intestinos e detecção de Salmonella Enteritidis, através da Polimerase em Cadeia (PCR), conforme metodologia do Ecolvet (2006).
Nos grupos 1B, 2B, 3B e 4B o desafio foi realizado no 42o dia do experimento onde cada ave recebeu 1mL da solução de alto desafio contendo 107 UFC/mL de Salmonella Enteritidis (Woodward et al., 2002). Ao 45o dia foi realizada a contagem de Salmonella sp e aos 49 dias , a necropsia das aves para observação de possíveis lesões nos intestinos e detecção de Salmonella Enteritidis, através da Polimerase em Cadeia (PCR), conforme metodologia do Ecolvet (2006). Para análise estatística foi utilizado o programa SAS (2000), sendo que as diferenças estatísticas foram consideradas a 5% de probabilidade.
Resultados e discussão
A tabela 1 mostra o resultado da contagem de Salmonella sp. realizada três dias após a inoculação da Salmonella Enteritidis e o resultado do PCR realizado sete dias após a inoculação . A presença nas fezes e a colonização dos cecos das aves por Salmonella Enteritidis foi acentuadamente reduzida no grupo tratado somente com o simbiótico.
Três dias após a infecção verificou-se que o uso do simbiótico inibe o desenvolvimento de Salmonella sp. (<100 UFC/mL) no trato intestinal das aves, já que a sua presença foi constatada no grupo controle 1A (10.000 UFC/mL) e 1B (18.000 UFC/mL), resultado confirmado através de PCR, que somente teve resultado negativo nos grupos que foram tratados exclusivamente com o simbiótico.
O uso do promotor de crescimento sozinho ou em associação com o simbiótico diminui o número de Salmonella Enteritidis ( 2A: 5.000 UFC/mL, 2B: 8.000 UFC/mL, 3A: 1.000 UFC/mL e 3B: 5.000 UFC/mL), mas ambos não foram capazes de evitar a presença do patógeno nas duas idades avaliadas.
A diminuição da presença de Salmonella sp. no trato digestivo está associada à existência de um equilíbrio melhorado do ecossistema microbiano intestinal, o qual produz condições desfavoráveis para o seu crescimento. Esta melhora deve-se basicamente ao aumento na produção de ácidos orgânicos e à diminuição de pH, associado a uma população maior de bactérias láticas (Jorgensen et al., 1999).
A inatividade da Salmonella sp. é causada pela diminuição do pH e o efeito direto do ácido orgânico sobre o metabolismo bacteriano. Isto acontece porque a forma não dissociada do ácido penetra através da membrana do patógeno e, ao se dissociar intracelularmente, altera o gradiente de prótons e inibe o sistema enzimático necessário para a síntese de proteína microbiana e o transporte de nutrientes (Roth, 2000).
Tabela 1. Resultado da Contagem de Salmonella Enteritidis e de PCR em frangos de corte desafiados no dia 21 e 42.
TRATAMENTO | CONTAGEM DE Salmonella sp. (UFC/ml) | PCR para detecção de Salmonella Enteritidis |
1A | 10.000 | Positivo |
1B | 18.000 | Positivo |
2A | 5.000 | Positivo |
2B | 8.000 | Positivo |
3A | 1.000 | Positivo |
3B | 5.000 | Positivo |
4A | <100 | Negativo |
4B | <100 | Negativo |
Pascual et al. (1999) constataram que probióticos à base de Lactobacillus sp. inibiram a infecção por S. Enteritidis em frangos de corte. Trabalho realizado por Carli et al. (2006) demonstrou que o Lactobacillus paracasei possui uma atividade inibitória em relação à Salmonella Enteritidis, principalmente quando aplicado na água de bebida.
Na tabela 2, encontram-se os resultados obtidos na necropsia das aves sete dias após o desafio. Foi observado que somente no tratamento com simbiótico não houve a presença de nenhuma lesão, concluindo que este foi eficaz em evitar a colonização do patógeno nas duas idades avaliadas.
Tabela 2. Resultado da necropsia de frangos de corte desafiados no dia 21 e 42.
TRATAMENTO | Lesões observadas na necropsia das aves |
1A | Diarréia e enterite |
1B | Diarréia e enterite |
2A | Diarréia |
2B | Diarréia |
3A | Diarréia |
3B | Diarréia |
4A | Sem alteração |
4B | Sem alteração |
No intestino, a Salmonella sp. pode produzir enterotoxinas, causar diarréia ou invadir a mucosa e causar lesões e perda de fluidos. Via lesão da parede intestinal, a Salmonella sp. pode produzir eventualmente infecção sistêmica e invadir órgãos internos e o aparelho reprodutor, podendo haver aumento da taxa de transmissão, porém as aves adultas não manifestam sinais clínicos. Por outro lado, a infecção em aves jovens muitas vezes resulta em sinais clínicos e também favorece a persistência e eliminação da Salmonella sp. pelas fezes por períodos bastante longos ( Beck et al., 2006).
Para que as bactérias consigam colonizar o trato intestinal e criar uma condição patológica, precisam inicialmente aderir-se à superfície epitelial. Esta adesão ocorre através de glicoproteínas (lectinas ou fímbrias), que reconhecem determinados açúcares da superfície do epitélio intestinal. Portanto, se as bactérias se ligarem a um açúcar ou oligossacarídeo dietético (ex.: Mananoligossacarídeo), e não à mucosa intestinal, irão passar com a ingesta sem causar problemas digestivos para os animais. Desta forma, os mananoligossacarídeos são capazes de bloquear a aderência dos patógenos e evitar a colonização (Furlan, 2004).
Do ponto de vista da produção de frangos, a manutenção da sanidade intestinal, em especial contra a Salmonella sp., é fundamental, pois esta é a via de entrada dos nutrientes para o melhor desenvolvimento da ave. Considerando que a ração representa entre 70 a 80% do custo de produção, a integridade dos mecanismos fisiológicos de digestão e absorção dos nutrientes, isto é, a integridade das células epiteliais da mucosa, assegura o bom desempenho e produção.
Na tabela 3, encontra-se o resultado do número de mortalidade em cada tratamento. Foi observado que não houve mortalidade nos tratamentos em que o simbiótico esteve incluído (trat. 3 e 4) , sendo que o tratamento 2 somente com antibiótico não foi suficiente para evitar o alto índice de mortalidade (8,3%-1/12).
Tabela 3. Número de mortalidades em cada tratamento.Estudos têm demonstrado que a administração precoce de simbióticos em neonatos diminuíram os índices de mortalidade e melhoraram seu desempenho e em casos de diminuição das defesas orgânicas o uso de simbiótico é vantajoso pela normalização da flora intestinal e pelo aumento da resistência das aves ao estresse (Furlan, 2004).
Na tabela 4, encontra-se o ganho médio diário (GMD) das aves desafiadas no 21o dia. Observou-se que após a inoculação da alta dose desafio de Salmonella Enteritidis, que o grupo 4 , onde foi administrado somente o simbiótico obteve o maior ganho de peso três dias e sete dias após a inoculação ,GMD: 7,0g e 5,8 respectivamente.
TRATAMENTO | AVES/TRATAMENTO | NÚMERO DE MORTALIDADES |
ÍNDICE DE MORTALIDADE |
1 | 12 | 3 | 25% |
2 | 12 | 1 | 8,3% |
3 | 12 | 0 | 0% |
4 | 12 | 0 | 0% |
Tabela 4. Desempenho do GMD do grupo A durante 3 e 7 dias após a inoculação da Salmonella Enteritidis.
GRUPO | GMD em 28 dias (g) | GMD três dias após inoculação (g) | GMD sete dias após a inoculação (g) |
1A | 30,49 a | 3,4a | 4,0a |
2A | 32,19b | 4,5b | 4,6a |
3A | 33,22b | 4,1c | 4,7b |
4A | 33,09b | 7,0d | 5,8c |
Dados seguidos por diferentes letras na mesma coluna diferem entre si através do Teste de Tukey (p<0.05)
Na tabela 5 encontra-se o GMD das aves desafiadas no 42o dia até o 49o. Verificou-se que três dias após a inoculação o maior GMD foi encontrado no tratamento 4, tratado exclusivamente com o simbiótico (GMD: 32,9 g) e que sete dias após, o maior ganho de peso foi verificado nos tratamentos onde utilizou-se o simbiótico ( 3B: 34,12 g e 4B: 33,65g ).
Tabela 5. Desempenho do GMD do grupo B durante 7 dias após inoculação da Salmonella Enteritidis.
Dados seguidos por diferentes letras na mesma coluna diferem entre si através do Teste de Tukey (p<0.05).
GRUPO | GMD em 49 dias (g) | GMD três dias após inoculação (g) | GMD sete dias após a inoculação (g) |
1A | 20,67a | -17,17a | 16,43a |
2A | 24,82b | 23,50b | 32,71b |
3A | 22,97c | 30,95c | 34,12b |
4A | 23,97b | 32,90d | 33,65b |
Estes resultados demonstram que mesmo com um alto desafio, o simbiótico foi capaz de manter o GMD durante os setes dias de desafio. Esse melhor desempenho de GMD é resultado do efeito do controle da Salmonella Enteritidis, já que esta resulta em baixa produtividade em frango de corte.
Conclusão
O tratamento em que o simbiótico foi utilizado separadamente foi eficaz na redução da Salmonella Enteritidis, além disso não foi verificada nenhuma lesão intestinal.
No tratamento em que utilizou-se o simbiótico associado ao promotor de crescimento ou somente promotor, ocorreu uma diminuição de Salmonella Enteritidis, mas este manejo não foi suficiente para a prevenção de diarréia nas aves desafiadas.
Não houve mortalidade nos tratamentos em que o simbiótico foi administrado e o uso do antibiótico não foi eficaz para evitar a mortalidade em aves com alta dosagem de desafio.
O melhor desempenho de GMD durante os sete dias de desafio foi observado no grupo onde somente foi incluído o simbiótico.
O uso do simbiótico na produção de frango de corte é uma alternativa viável na substituição de promotores de crescimento antimicrobianos.
Mais informações: [email protected]
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