Redação (23/01/07) – O volume é recorde para o período. Metade da produção brasileira de soja da safra, de 54,8 milhões de toneladas, já foi comercializada antecipadamente, segundo estimativas da AgRural. Foram cerca de 22,6 milhões de toneladas em todo o País, volume considerado recorde para a época. O percentual é bem superior ao registrado no mesmo período de 2006 (14%) e de 2005 (23%).
Parte deste valor foi negociado a termo – com tradings por troca com insumos – e outra na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) – via contratos futuros. Os valores por tipo de negociação não foram especificados pela consultoria.
“Certamente é um recorde”, segundo o analista de soja da AgRural, Seneri Paludo. De acordo com ele, a necessidade de garantir bons preços, depois de três safras de rentabilidade entre baixa e negativa, motivou o desempenho.
Na BM&F, a negociação com a soja tem aumentado. No ano passado foram 2,6 milhões de toneladas – quase 5% da colheita anterior – mais que o dobro de 2005, quando foram fechados contratos futuros para 1,2 milhões de toneladas.
Na média, os preços fixados estão 8,3% melhores que na safra passada, segundo dados da consultoria. Os contratos foram fechados entre US$ 6,5 e US$ 6,8 por bushel, ante o valor de US$ 6 por bushel da safra 2005/06. “Alguns papéis foram fixados até abaixo de US$ 6 em 2006”, recorda Paludo.
Apesar de metade da safra já ter sido comercializada, o analista afirma que os valores ainda não cobrem os custos de produção na maior parte das regiões sojicultoras.
Diferente do que normalmente ocorre, os preços pré-fixados estão mais baixos que os registrados no dia, segundo o analista. Ontem, os contratos para março na Bolsa de Chicago (CBOT) ficaram entre US$ 7,10 e US$ 7,20 por bushel, cerca de 5,8% mais alto que o máximo de US$ 6,8 por bushel registrado nas vendas antecipadas.
“Essa condição é atípica. Isso porque não é mais a relação oferta e demanda que influencia sozinha este mercado. Mas, há forte influência dos fundos de investimento que atuam de forma especulativa”, afirma.
De acordo com o analista, este ano foi a segunda vez na história que a cotação do cereal subiu na boca de safra, ou seja, em novembro, o que não é nem um pouco normal. “Isto tudo por conta do mercado especulativo e da alta demanda por biocombustivel”, avalia.
Vantagem
Mas, segundo Paludo, não há desvantagem, mesmo com os preços em alta e com perspectivas de aumentarem mais. Isso porque o produtor precisa cobrir seus custos de produção e ainda pagar dívidas das últimas duas safras. “Não dá para arriscar mais, esperando uma alta ainda maior para fixar”, explica.
Esta também é a visão do presidente da Associação Nacional de Cereais (Anec), Sérgio Mendes. “O produtor está desde 2004 com preços ruins. Não quer arriscar”, afirma o executivo da Anec. Segundo ele, como os Estados Unidos estão plantando mais milho por causa do etanol, há menos área para o cultivo da soja e, com isso, a cotação do grão melhora.
Paludo explica que a vantagem da venda antecipada é reduzir a pressão da safra, cuja colheita já iniciou em algumas regiões de Mato Grosso.
No geral, o produtor do Sul do País é mais conservador que o do Centro-Oeste, que faz mais hedge. “Mas nesta safra, a alta foi generalizada em todas as regiões sojicultoras”, afirma Paludo. O estado de Mato Grosso foi o que mais comercializou antecipadamente. Foram cerca de 61% da colheita – estimada em 14,6 milhões de toneladas – até final de dezembro, percentual que deve estar em 70%, segundo estimativas de Paludo.
O estado do Maranhão também surpreendeu nesta safra, segundo o analista. Isso porque realizou até agora 53% de vendas antecipadas, percentual que estava em 17% na safra passada. “Nesse caso, foi a melhora logística da região”, afirma Paludo.