Redação (18/07/06)- A missão de veterinários da União Européia, em visita ao país desde o início de julho, detectou “falhas” e “inconsistências” nos procedimentos sanitários adotados por frigoríficos brasileiros, nas ações oficiais de controle aos focos de febre aftosa em Mato Grosso do Sul e no sistema de rastreamento de bovinos (Sisbov).
Durante 15 dias, os europeus avaliaram o sistema de certificação de carnes, a ocorrência da febre aftosa e as medidas tomadas pelos governos estaduais e federal para combatê-la. “Não havia nenhuma perspectiva de abrir áreas nem de habilitar frigoríficos”, disse o diretor de Programa da Secretaria de Defesa Agropecuária, Jorge Caetano, ao Valor. “Quando o caso é grave, eles fazem um relatório de emergência. Nesse caso, foi um indício positivo”, afirmou. Uma missão brasileira deve visitar Bruxelas para explicar as dúvidas suscitadas no relatório preliminar, que será finalizado em 20 dias úteis.
Em reunião com dirigentes do Ministério da Agricultura na manhã de ontem, os europeus apontaram problemas no processamento de carnes por alguns frigoríficos visitados, falhas em operações de rotina – como o tratamento de carcaças, por exemplo – e desacordos com a atual legislação brasileira, segundo apurou o Valor.
Os europeus também indicaram “insatisfação” com a demora no atendimento aos 33 focos oficiais de aftosa em Mato Grosso do Sul e criticaram o ressurgimento de focos da doença em abril deste ano, cinco meses depois do primeiro registro, em outubro de 2005. E ficaram “estarrecidos” com as condições precárias de controle na faixa de fronteira com o Paraguai. “Não entenderam como estamos à mercê da condição sanitária de outro país”, disse um dirigente do ministério.
A missão teve acesso aos documentos de investigação dos focos, analisou os resultados parciais das sorologias e avaliou os testes de eficiência das vacinas. E apontou a falta da “vacinação de bloqueio”, que poderia impedir o alastramento dos focos. Os europeus não ficaram satisfeitos com a demora no abate do gado e tampouco com a “discussão conceitual de termos técnicos” na Justiça, episódio verificado nos debates entre pecuaristas do Paraná e os governos federal e estaduais.
O principal alvo das críticas, contudo, foi o Sisbov. Os veterinários detectaram muitas falhas em campo. Viram animais “brincados” com data anterior a inserção no banco nacional de dados. Também viram animais abatidos sem baixa na base de dados. “A base diz que está num lugar, mas o boi já está em outro. Não havia a baixa na base”, indicou o dirigente.
O secretário de Desenvolvimento Agropecuário, Marcio Portocarrero, admitiu falhas, mas ressalvou a boa vontade dos europeus. “Detectaram alguns erros, mas ficaram satisfeitos com o novo Sisbov”, disse. Mas o novo Sisbov não goza de unanimidade na cadeia produtiva. Os frigoríficos ainda reclamam da obrigatoriedade parcial do sistema e os pecuaristas queriam apenas o uso de brinco e a sua leitura na chamada “calha de sangria”, já no abate. “Mas o Sisbov ainda sofrerá mudanças de acordo com o mercado. Ele não foi feito para atender interesses internos de um ou outro lado”, afirmou.