Redação (29/05/06)- Com um aporte de R$ 20 milhões, o fundo de investimentos Latin American Equity Partners (Laep) se transformou ontem no acionista controlador da Parmalat Alimentos, com 98,5% das ações. Como parte do acordo, a Perdigão adquiriu, por R$ 101 milhões, a participação de 51% que a Parmalat detinha na Batávia, dona da marca Batavo. As operações foram aprovadas ontem durante assembléia de credores e contou com 100% dos votos.
A aprovação dos novos investidores marca o fim da crise da Parmalat no Brasil, iniciada na Itália em dezembro de 2003 com o escândalo financeiro envolvendo o fundador da empresa, Calisto Tanzi, responsável por um rombo de mais de 10 bilhões. Os credores financeiros sem garantias, cerca de 20 bancos estrangeiros, concordaram com um deságio de mais de 80% em seus créditos, em troca de um pagamento à vista. Eles receberam ontem R$ 19 milhões e, quando a venda da Batávia for homologada pela Justiça, o que está previsto para acontecer até o início de junho, receberão mais R$ 101 milhões. A empresa deve outros R$ 120 milhões para fornecedores e R$ 50 milhões para o Banco do Brasil. Com isso, a dívida total caiu de R$ 970 milhões para R$ 170 milhões. Como estava previsto no plano de recuperação judicial aprovado em dezembro, a dívida com o BB será quitada num prazo de três a seis anos. Os fornecedores têm a opção de receber de uma vez, com o mesmo deságio dos bancos, ou receber o valor integral ao longo de quatro anos.
Formado em 1994 pelos executivos Marcus Alberto Elias e Eduardo Aguinaga, o Laep é um fundo voltado para empresas com necessidade de reestruturação. Nos últimos anos, o Laep investiu em empresas como Camil, Gomes da Costa e Unidas. “Nossos planos para a Parmalat são de pelo menos dez anos”, garante Elias.O novo conselho de administração deve ser eleito dentro de 15 dias. Os atuais conselheiros, incluindo o presidente, Nelson Bastos, da consultoria Íntegra Associados – contratado pela Parmalat italiana em abril de 2004 -, estão renunciando a seus cargos. “Nos sentimos realizados por termos conseguido levar essa reestruturação a bom termo, sobretudo considerando que havia muita gente achando que não ia dar certo”, afirmou Bastos.Durante a gestão da Íntegra, a Parmalat diminuiu de tamanho, mas ganhou em rentabilidade.
A empresa, que durante toda a sua história no Brasil nunca saiu do vermelho, hoje exibe lucro operacional. No ano passado, a empresa faturou quase R$ 1 bilhão. Para comemorar a nova fase, a Parmalat estréia amanhã uma campanha publicitária, assinada pela BorghiErh. Famosa pela campanha dos mamíferos, a Parmalat ficou praticamente sem anunciar desde o início da crise. Foi feita apenas uma curta campanha institucional, em dezembro de 2004.
Batávia
O presidente da Perdigão, Nildemar Secches, passou os últimos dois anos interessado em comprar a Batávia, com a avaliação de que a empresa ajudaria a diversificar a oferta de produtos à base de proteína animal. feira, o executivo finalmente alcançou seu objetivo. Pagará à vista R$ 101 milhões por 51% da empresa e gastará mais R$ 8,7 milhões para adquirir ações de minoritários. Falta apenas a homologação da Justiça para que o negócio se concretize. “Há dois anos decidimos que queríamos entrar no mercado de refrigerados não vinculados a carnes e fizemos uma proposta”, disse. Porém, a compra esbarrou na disputa entre a Parmalat – que controlava a Batávia – e as cooperativas CCLPL e Agromilk, que detêm 49% do capital. Os minoritários obtiveram, disse.
As cooperativas comprometeram-se a retirar as ações judiciais contra a Parmalat quando a venda for homologada. A Batávia, que produz iogurtes e leite, tem 1,7 mil funcionários e faturou R$ 640 milhões em 2005. A Perdigão deverá comprar também a fábrica de leite e refrigerados da Parmalat em Garanhuns (PE) e a unidade de biscoitos, que fica em Jundiaí (SP), para a qual buscará um sócio. Serão investidos mais R$ 62 milhões nesses ativos. Secches acrescentou que a Batávia tem sinergias com o frigorífico Batavo, que pertence à Perdigão. As duas empresas, que ficam em Carambeí (PR), são vizinhas. Apenas um muro separa as operações, que já compartilham insumos como luz e água. Ambas tiveram origem numa cooperativa formada por holandeses. Serão mantidas as marcas Batavo e Parmalat nos produtos da Batávia. A Perdigão firmou, com a matriz do grupo italiano, contrato de licenciamento da marca por três anos renováveis.
A Perdigão já comercializa frios e refrigerados de carne com o nome Batavo. dade, segundo o executivo, será o compartilhamento da rede de distribuição. A Perdigão tem presença em 70 mil pontos de venda, enquanto a Batávia está em 10 mil. “A marca Batavo é muito importante no Sul, mas carece de força no Nordeste. Vai ficar mais forte agora”, disse. O muro que separa as duas Batavo será mantido por questões sanitárias. “Mas quem sabe não substituiremos a passarela que liga um lado a outro por um portão”, afirmou Secches.