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Chirac não garante apoiar abertura agrícola

<p>Presidente francês atacou os EUA em seu discurso.</p>

Redação (26/05/06)-  Em visita de Estado ao Brasil, o presidente da França, Jacques Chirac, não apresentou nenhuma garantia de que apoiará uma maior abertura do mercado agrícola da União Européia, caso o governo brasileiro e seus aliados do G-20 concordem com uma maior liberalização dos setores industrial e de serviços na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio da Alvorada, Chirac atacou os Estados Unidos, por sua resistência em reduzir os subsídios à produção agropecuária, e cobrou do Brasil e das demais economias em desenvolvimento a ausência de ofertas nas áreas industrial e de serviços. Por fim, em uma expressão clara de suas intenções na Rodada, declarou que a Europa já fez tudo o que podia e devia.

As declarações foram feitas depois de um encontro de três horas entre Chirac e Lula, na residência oficial do Presidente da República. Chirac, entretanto, reagiu com nervosismo quando questionado sobre as garantias de apoio francês a uma proposta melhorada da União Européia na área agrícola, se o Brasil e seus aliados fizerem os movimentos cobrados pela Europa. Tirou o fone de ouvido, que lhe permitia escutar a tradução simultânea, e passou a fazer perguntas a Lula, que não entende francês. Sem saída, disparou: Não vou repetir pela segunda vez o que eu disse. Eu disse há pouco qual era a posição da Europa, dos países emergentes, dos países menos adiantados. Deixe que cada um faça um pouquinho. Os Estados Unidos é que devem dizer o que deve ser feito.

O líder francês mostrou-se visivelmente alheio à avaliação do governo brasileiro, para quem essa postura da União Européia levará a Rodada Doha ao fracasso. Primeiro, porque será impossível obter dos Estados Unidos uma proposta melhor na área de subsídios domésticos; segundo, porque será improvável arrancar das economias em desenvolvimento maior liberalização dos setores industrial e de serviços. (AE)

Lula
Na condição de anfitrião, o presidente Lula não deixou de fincar pé nas posições do Brasil na Rodada Doha. Insistiu mais uma vez que o País e o G-20 (o grupo de economias em desenvolvimento que pretende a abertura e o fim dos subsídios agrícolas) estão dispostos a fazer as concessões possíveis e concordou que, tanto a Europa quanto os Estados Unidos, precisam fazer movimentos na área agrícola.

Lula, porém, alertou que o fracasso da Rodada significará aumento da pobreza no mundo e que as decisões sobre a Rodada devem, a partir de agora, deixar de seguir lógicas econômicas e comerciais e tornar-se atos políticos. Se a Rodada Doha fracassar, o meu medo é que, dentro de dez anos, em vez de nós cumprirmos as Metas do Milênio, estaremos assistindo ao crescimento da pobreza no mundo inteiro. A decisão não é mais econômica e comercial. É uma decisão política que os líderes podem tomar, declarou.