Lideranças do setor e representantes das esferas, estadual e federal participaram do debate |
Redação (25/04/2006) – A atual estrutura de defesa sanitária para os setores de avicultura e suinocultura no Brasil foi alvo de debate na tarde desta terça-feira (25/04) na AveSui 2006. A mesa redonda fez parte do Painel Conjuntural e contou com participação ativa dos participantes do V Seminário Internacional de Aves e Suínos.
O debate foi oportuno. Neste ano, o Governo brasileiro reduziu a verba repassada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o serviço de defesa sanitária em 60%. Em 2006 estão previstos investimentos de R$ 142,8 milhões para a área de defesa animal.
Como se não bastasse, os setores de avicultura e suinocultura vêm acumulando prejuízos neste ano devido à ocorrência de episódios sanitários, que mesmo não estando diretamente ligados aos dois setores, vêm restringindo a participação de ambos no mercado internacional de proteína animal.
No segmento de suinocultura os recentes casos de aftosa registrados no País têm prejudicado as exportações de carne suína, afetando o equilíbrio entre oferta e demanda do produto no mercado interno e, consequentemente, derrubando o preço do suíno pago ao produtor.
A situação da avicultura brasileira não é muito diferente. A crescente difusão do vírus da Influenza Aviária pelo mundo reduziu o consumo da carne de frango em vários países. A queda da demanda mundial por produtos avícolas trouxe sérias conseqüências para a atividade no Brasil, como o abrupto e inesperado recuo das exportações do setor no início deste ano.
O objetivo da mesa redonda foi, através da reunião de representantes do setor produtivo e das esferas federal e estadual, discutir e levantar as principais fragilidades do sistema de defesa agropecuária brasileiro e, sobretudo, o que é preciso fazer para saná-las.
Além das principais lideranças do setor de produção, estiveram reunidos para o debate representantes das Secretarias de Agricultura dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Goiás e Guilherme Marques, coordenador do Programa Sanitário do Mapa. Antes de iniciar o debate, cada participante traçou um rápido panorama das ações e da estrutura de defesa sanitária de cada Estado.
“Registro de casos de aftosa tem restringido o comércio brasileiro de carne suína”, diz Valentini. |
Aftosa e autocrítica – Os recorrentes surtos de aftosa registrados no Brasil recentemente dominaram as discussões do segmento suinícola no debate. Para Rubens Valentini, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), é altamente preocupante ver como problemas sanitários como a febre aftosa são tratados no País.
“Preocupa-nos que por ocorrência de uma enfermidade alheia as nossas ações e aos nossos animais, tenhamos o mercado internacional reduzindo radicalmente”, argumenta. “Mas diante deste quadro qual tem sido nossa ação? É a de um País preparado e empenhado para evitar esse tipo de ocorrência?”, indaga Valentini.
O presidente da ABCS caracterizou como “patético” o impasse entre a União e o Governo Paranaense no episódio de confirmação de casos de aftosa no Estado no ano passado. Segundo Valentini, as autoridades do País têm que tratar com mais cuidado e responsabilidade questões de suma importância para o agronegócio brasileiro como é a sanidade. “O Brasil tem que decidir se quer de fato ser um player de destaque no mercado internacional de proteína animal ou continuar participando até quando Deus quiser”.
Camargo: “Incidentes sanitários fizeram o Brasil perder a credibilidade no mercado internacional de carnes” |
Já o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro Camargo Neto, avalia que o novo foco de aftosa registrado semana passada no Mato Grosso do Sul reforça, para os governos federal, estadual e iniciativa privada, a necessidade de realização de uma autocrítica. Segundo ele, os recentes incidentes sanitários fizeram o Brasil perder a credibilidade no mercado internacional de carnes. “Depois de conquistar a liderança nesse mercado somos obrigados a escutar quietos que perdemos a credibilidade”, afirma.
Para Camargo, o problema está na reincidência com que os focos de aftosa vêm sendo registrados no Brasil. “O problema não está em registrar uma eventual ocorrência de aftosa. Acidentes acontecem. Mas o fato é que o foco registrado no Mato Grosso do Sul na semana passada deixou claro que estamos cometendo falhas. Falhas que não se pode permitir”, argumenta. “Não podemos conviver com erros como esse. Toda essa situação nos coloca num momento de reflexão, para avaliarmos o que está acontecendo e encontrar formas de evitá-los”, conclui.
Coordenador do Programa Sanitário do Mapa, Guilherme Marques, afirmou que a crise de credibilidade é real, mas que ela se estende a todos os países da América do Sul. “Recentemente os países da América do Sul receberam uma carta da OIE pedindo uma verificação de como o vírus da aftosa estaria se disseminando em cada País”, comenta. “Essa investigação tem o objetivo de aferir que país está mantendo o vírus ativo na América do Sul”.
Marques ressaltou também a importância da responsabilidade compartilhada, através da interação entre o trabalho federal, estadual e iniciativa privada, no serviço de defesa sanitária. “Para a maior efetividade do serviço de defesa animal é fundamental a integração dos trabalhos dos âmbitos federal, estadual e privado”.