Da Redação 12/08/2005 – Em meio a um clima pouco animador para os agricultores, com boa parte deles ainda negociando a rolagem de suas dívidas, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, anunciou ontem (dia 11), em São Paulo, a liberação a partir desta sexta-feira de R$ 4 bilhões para financiar custeio e comercialização da nova safra de grãos, a 2005/06. Mas, apesar do início da liberação de recursos, os rumos da nova temporada agrícola do país seguem indefinidos. Mas entre as muitas incertezas, que envolvem desde o clima até o montante total de crédito rural que será disponibilizado, há pelo menos um consenso: a área plantada com grãos deve cair aproximadamente 5%.
Ricardo Conceição, vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, confirmou que os recursos anunciados por Rodrigues estarão de fato disponíveis e disse que, dos R$ 4 bilhões, R$ 3 bilhões são destinados à agricultura empresarial e R$ 1 bilhão aos produtores familiares. Conceição lembrou que o BB já liberou de R$ 1 bilhão desde julho, destinados às culturas de inverno e pecuária. No total, o crédito rural programado pelo governo para 2005/06 atinge R$ 45 bilhões.
Sem alarde, uma vez que as informações ainda são desencontradas, Rodrigues afirmou, no 20 Fórum de Debates do Projeto Brasil, que a prorrogação do prazo das dívidas dos agricultores referentes à safra 2004/05 está quase definida. O governo pretende prorrogar as parcelas com vencimento em junho, julho e agosto para março e abril de 2006. No mês passado, os ministros Rodrigues e Antonio Palocci, da Fazenda, concordaram em estender a prorrogação das dívidas dos agricultores do Centro-Oeste para outros Estados.
Apesar de considerar certa a prorrogação, o ministro admitiu que ainda há alguns entraves. A Comissão Mista de Orçamento do Congresso não concluiu na quarta-feira a votação do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2006, quando seriam votadas duas reivindicações da bancada ruralista, entre elas a prorrogação. A votação foi adiada para a terça-feira da semana que vem.
Em meio às indefinições sobre a prorrogação das dívidas, os produtores tiraram o pé do acelerador. O próprio ministro Roberto Rodrigues acredita que a área plantada deverá diminuir e que os produtores usarão menos tecnologia, o que certamente terá impacto na produtividade das lavouras. Rodrigues prevê a colheita de grãos entre 120 milhões e 125 milhões de toneladas, ante as 112,3 milhões colhidas no ciclo 2004/05.
Segundo André Pessôa, da Agroconsult, a área plantada das safras de verão e inverno poderá cair até 2 milhões de hectares em relação à temporada anterior – de 48,27 milhões de hectares, de acordo com a Conab. Pessôa afirmou que somente as culturas de milho e feijão terão área maior. As áreas de algodão, soja, arroz terão quedas expressivas. Para soja, Pessôa prevê uma redução de área no país de 9,1%. Nos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, as baixas são estimadas em 13,4% e 15,5%, respectivamente. Recentemente, o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, previu queda de 20% no Estado. A Agroconsult prevê produção de 54 milhões de toneladas de soja, 8% mais que em 2004/05.
Real apreciado, quebra de produção das últimas duas safras, comercialização frustrada na safra passada, rentabilidade baixa e altos custos de produção são apontados como principais desestímulos para o aumento de área na nova safra. “Se o dólar estivesse em R$ 2,80, a agricultura estaria bombando”, disse Pessôa. A Agroconsult prevê safra de grãos de até 120,8 milhões de toneladas, considerando clima favorável.
A MSConsult, por sua vez, estima uma colheita de 123 milhões de toneladas, também levando em conta boas condições climáticas. A MB Associados é um pouco mais otimista. Glauco Carvalho, analista da consultoria, acredita em uma produção entre 120 milhões e 126 milhões de toneladas. Segundo ele, a área para soja deverá cair 1 milhão de hectares. “As áreas arrendadas perderão espaço, as novas fronteiras não serão ampliadas e os produtores pouco tradicionais devem recuar o plantio”, disse. De acordo com Carvalho, o plantio de milho, cana e café deverá migrar para parte da área de soja.