Da Redação 04/08/2005 – Uma decisão estratégica errada, tomada no começo de 2004, afetou negativamente o resultado operacional da Sadia no primeiro semestre deste ano. Quase 20 meses depois, a direção da empresa ainda lamenta a “decisão que se mostrou inadequada” e faz um mea culpa. Tudo começou em 2003, quando a Rússia informou que reduziria as cotas de importação de carne suína para 2004, relatou Luiz Murat, diretor de finanças da Sadia. Temendo que sobrasse oferta do produto e os preços caíssem por causa das cotas menores para a Rússia, a empresa decidiu reduzir a produção de suínos.
No entanto, o quadro negativo não se confirmou em 2004 porque o Brasil conseguiu utilizar cotas de países que não tinham como cumprir o volume acertado. “Houve leilão de cotas, então os brasileiros puderam exportar”, explicou.
Segundo ele, a empresa foi punida duas vezes porque havia reduzido a produção própria de suínos, e para voltar a exportar os volumes anteriores precisou comprar mais animais no mercado spot, ou seja, de produtores independentes. E é claro, pagou mais caro pelos suínos do que outras empresas que já compram grande volumes nesse mercado.
O resultado foi a elevação expressiva dos custos dos produtos vendidos no primeiro semestre deste ano na comparação com igual período de 2004. Eles passaram de R$ 1,994 bilhão para R$ 2,545 bilhão, um aumento de 27,6%. Murat admitiu que a estratégia errada foi o que mais contribuiu para a alta dos custos.
Os custos maiores afetaram a lucratividade da Sadia – o lucro bruto ficou estável em R$ 900 milhões – e reduziram a geração de caixa no primeiro semestre, explicou Murat. O EBITDA, que alcançou R$ 518,7 milhões de janeiro a junho de 2004, caiu 31,8% para R$ 353,8 milhões no primeiro semestre deste ano.
Para recuperar o espaço que deixou no mercado quando decidiu cortar a produção de suínos, a Sadia está retomando a produção própria e ampliando as granjas de suínos, segundo Murat. O objetivo é voltar aos volumes de 2003, quando produziu 151,449 mil toneladas de carne suína. No ano passado, a produção caiu para 128,478 mil toneladas.
A expectativa é de que a situação se normalize no segundo semestre, segundo Murat. No primeiro, a Sadia conseguiu ampliar as vendas externas de carne suína (alta de 24,5%) porque redirecionou produto que seria destinado ao mercado doméstico, para onde as vendas recuaram 35,2%.