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Mercado de carnes em ebulição no país

Compra da Seara pela Cargill motiva boatos de aquisições e deixa uma certeza: competição vai crescer.

Da Redação 02/09/2004 – A entrada da Cargill no mercado brasileiro de carnes, com o anúncio da compra do controle da Seara Alimentos, na noite de terça-feira, pôs os frigoríficos nacionais no olho do furacão ontem. Para encarar um provável aumento da concorrência, analistas e especialistas do setor dão como certo que os dois principais players deste mercado, Sadia e Perdigão, vão acelerar seu processo de expansão no país, por meio de aquisições e aumento de investimentos em suas atuais unidades produtoras.

A boataria já corre solta no mercado. Um dos rumores mais ouvidos é o de que a Sadia poderá concentrar esforços para adquirir a gaúcha Avipal ou mesmo a Chapecó, que passou por um longo processo de fatiamento no ano passado, em virtude de seu pedido de concordata. Outro ressuscita a já tentada união entre Sadia e Perdigão. A Sadia negou todas as informações por meio de sua assessoria de imprensa. Procurada, a Perdigão não retornou as ligações.

Os boatos tiveram reflexo nas ações dos principais frigoríficos de capital aberto no país. Os papéis tiveram forte oscilação ontem, mas fecharam o pregão com baixa variação. “O mercado esteve muito confuso, sem direção. A dúvida era se a Cargill entraria no país para acirrar a competição ou para contribuir na abertura de novos mercados”, observou Clarissa Saldanha, analista do Banco Brascan.

O lote mil ações ON da Seara encerrou o dia a R$ 6,09, com recuo de 7,02%. Já o lote de papéis PN recuou 6,9%, para R$ 5,39. “Para o mercado, o valor da aquisição não foi muito alto [a compra foi avaliada em US$ 130 milhões com a aquisição de 53,3 bilhões de ações a US$ 2,48 por lote de mil ações]”, disse Saldanha. O lote de mil ações ON da Avipal subiu 1,39%, para R$ 7,25. A Avipal, entretanto, também negou uma eventual venda para a Sadia. “Temos uma posição mais compradora do que vendedora”, disse Francisco Ávila, diretor da empresa. No mercado, contudo, há especulações de que a divisão de carnes da Avipal seria negociada para que ela se dedique à expansão de sua atuação em lácteos.

Discreta, a Cargill informou que que a aquisição da Seara representa uma oportunidade para a múlti americana ingressar em um novo segmento de negócios no Brasil. A gigante tem operações de carnes em 20 países. Na noite de terça-feira, a companhia anunciou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que firmou acordo para adquirir 61,89% da ações da Seara e que pretende fazer oferta pública pelo restante dos papéis do frigorífico, que deve ter seu capital fechado. A Seara estava nas mãos da Mutual Investments Limited, pertencente aos mesmos acionistas da Bunge Ltd., com sede nos EUA. A transação ainda depende do aval das autoridades regulatórias.

Num primeiro momento, a Cargill pretende dar continuidade à estratégia exportadora da Seara, conforme informou Maria Helena Miessva, gerente de assuntos corporativos da multinacional no Brasil. A companhia pretende estudar o mercado doméstico em conjunto com os atuais executivos da Seara no país. “Dois executivos da Cargill vão trocar experiência com os executivos brasileiros”.

A entrada da Cargill no mercado de carnes no Brasil não surpreendeu. No início do ano, havia rumores de que a Cargill havia estudado a compra da Sadia. Em março, a aquisição da Seara já era considerada quase certa. A venda da Seara também era considerada uma barbada há pelo menos quatro anos, uma vez que a companhia estava fora do foco de negócios da Bunge, que ainda era responsável pela gestão administrativa do frigorífico.

No mercado, os rumores são de que a parceria entre Sadia e Cargill, fechada em 2001, por meio da associação da companhia brasileira na Sun Valley, seja rediscutida. A Sadia se associou à Sun Valley, subsidiária da Cargill, através de uma joint venture – a Concordia Foods Ltd. – para atender diretamente o varejo e os segmentos de food service no Reino Unido e Irlanda. Em princípio, a Cargill negou qualquer rediscussão da parceira.

Para Claudio Martins, presidente da Abef (entidade que reúne as empresas exportadoras de frango), a entrada da Cargill poderá facilitar o acesso das carnes brasileiras a outros mercados. “A Cargill tem forte tradição no setor de aves e suínos na Europa e Estados Unidos, e seu peso poderá abrir oportunidades para que outras empresas brasileiras se beneficiem de uma eventual maior abertura”.

A expectativa é de que possa haver uma abertura de mercado no Japão, onde a Cargill já atua com suínos, e também no mercado europeu. Neste caso com a formação de alianças, considerando-se a dificuldade para a entrada de produtos brasileiros em alguns mercados, como a Rússia, que impôs cotas para suínos, e na União Européia, que elevou a taxação sobre os cortes salgados de frango.

Com uma receita de R$ 1,119 bilhão, neste primeiro semestre, com aumento de 24,4% sobre o mesmo período de 2003, a Seara é hoje a terceira maior produtora e exportadora brasileira de carnes de frango, e a segunda exportadora de carnes suínas do Brasil.