Da Redação 15/10/2004 – Será limitado o impacto do embargo russo sobre as exportações brasileiras de carnes em 2004. Mas, caso o problema decorrente da descoberta de um foco de febre aftosa no Amazonas em setembro se estenda até o fim do ano, como previu o Ministério de Agricultura da Rússia esta semana, estará configurado um cenário realmente mais adverso para 2005, a ser contornado, conforme as entidades que representam os exportadores, com maior rigor sanitário e diversificação de mercados principalmente no caso da carne suína.
Na quinta-feira, tanto a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs) quanto a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef) confirmaram o aumento de embarques de janeiro a setembro, como já havia feito a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec) em relação à carne bovina. E também confirmaram que, até agora, o embargo russo não provocou prejuízos. Mas os números mostram que há sinais concretos de perdas para o Brasil neste último trimestre, a não ser que o já identificado aumento da demanda de clientes da Rússia “force” Moscou a suspender a barreira.
Conforme a Abef, as vendas de carne de frango no exterior totalizaram 1,779 milhão de toneladas nos primeiros nove meses de 2004, 43,25% mais que em igual período do ano passado. A receita proveniente desses embarques subiu 75,46%, e alcançou US$ 1,847 bilhão. No caso da carne suína, informou a Abipecs, as exportações para todos os destinos somaram 373,1 toneladas, 1,17% mais que entre janeiro e setembro de 2003, e o valor dessas vendas cresceu 38,28%, para US$ 534,5 milhões. Para a carne bovina, como informou o Valor, houve saltos de 45,58% em volume (832,1 mil toneladas) e 76,78% em valor (US$ 1,798 bilhão).
“Nossa meta é encerrar o ano com aumentos de 8% a 10% no volume das vendas em relação a 2003, e de 15% a 20% na receita. E a Rússia ainda não é um fator determinante para que esses números não sejam alcançados”, afirmou Cláudio Martins, diretor-executivo da Abef. Segundo ele, a demanda russa é crescente no fim do ano (inverno no Hemisfério Norte) e, além do Brasil, não há fornecedores de peso no mercado no momento. Mas, conforme Martins, houve uma perda de rentabilidade a partir de agosto que preocupa. A Rússia responde por menos de 10% das exportações brasileiras de frango.
No caso da carne suína, as vendas para a Rússia, que atingiram 313,5 mil toneladas e representaram 64% das exportações do Brasil em 2003, deverão ficar entre 300 mil e 315 mil toneladas em 2004, segundo adiantou Pedro Benur, coordenador-conselheiro da Abipecs, cuja presidência-executiva foi assumida por Pedro de Camargo Netto, que tem larga experiência em comércio internacional, inclusive como mentor, na época em que estava no Ministério da Agricultura, dos painéis do algodão contra os Estados Unidos e do açúcar contra a União Européia na Organização Mundial do Comércio.
Um dos desafios de Camargo Netto, conforme Benur, será a diversificação de mercados para a carne suína do país, que hoje chega a cerca de 50 países, contra os 127 da carne de frango. E a própria Rússia deve colocar uma nova pedra no caminho do Brasil ainda neste mês, com a definição de suas novas cotas para a importação de carnes em 2005, que aparentemente privilegiarão americanos e europeus. A boa notícia é que os russos ainda têm de importar, para suprir sua demanda, de 60 mil a 70 mil toneladas de carne suína em 2004.
Em Santa Catarina, principal Estado produtor e exportador de carne suína do Brasil, a queda de preços dos suínos observada logo após o anúncio do embargo russo estancou. Segundo Jurandi Machado, analista do Instituto de Planejamento e Economia Agrícola do Estado (Icepa), o quilo do suíno vivo está em R$ 2,25 desde 6 de outubro, com queda de 2,17% no mês. Machado não acredita, porém, que as vendas à Rússia tenham muito espaço para crescer até dezembro, porque no inverno as operações portuárias do país ficam prejudicadas.
Em relação aos embarques catarinenses em si, ainda não há sinais de problemas significativos. Segundo Héder Cassiano Moritz, diretor de logística do porto de Itajaí, o embargo não está provocando lotação de armazéns. De Itajaí foram enviadas à Rússia as cargas inspecionadas antes do embargo e que já estavam à espera de navio. Mas, se a situação não for normalizada, navios com destino à Rússia programados para o Estado não farão a parada. Mas os frigoríficos estão preocupados. “Tememos superoferta de suínos no mercado em 2005, e como resultado, queda brusca de preços”, afirmou um executivo de uma das empresas.