Da Redação 24/11/2004 – A manutenção do embargo da Rússia às carnes brasileiras – por enquanto, só Santa Catarina voltou a embarcar ao país – frustrou os exportadores e minou o aparente otimismo que havia até a chegada do presidente russo Vladimir Putin ao Brasil. Cláudio Martins, diretor-executivo da Abef (reúne exportadores de frango), não acredita em solução rápida para o impasse e já avalia que o fim do embargo pode ocorrer só em 2005.
O setor de carnes e parte do governo brasileiro acreditavam que o fim do embargo poderia ser anunciado durante a visita do presidente Putin. Também esperavam uma definição sobre as cotas russas para as carnes do Brasil. Mas nada foi resolvido e houve apenas um compromisso de buscar “soluções mutuamente aceitáveis ” para as vendas de carne e de farelo de soja do Brasil, assim como de trigo russo para o mercado brasileiro.
Na visão de Martins, a não-definição das cotas e a manutenção da restrição às carnes – motivada pelo surgimento de um foco de aftosa em Careiro do Várzea (AM) – “mostra que o assunto é político”, isto é, está relacionado a questões como a concorrência para compra de aviões caças pelo Brasil – cuja decisão foi adiada – e ao apoio da entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC). “Tecnicamente não há como discutir [o embargo]”, observou Martins, referindo-se ao fato de que Careiro do Várzea está numa região que não exporta carnes.
O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Maçao Tadano, também revela pouco otimismo. “Não podemos falar em expectativa”, afirmou. Acrescentou que é “desejo de todos que o problema seja resolvido”. Mas isso dependerá da decisão da missão russa que visita o país para avaliar o sistema de defesa animal. Em Recife, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, afirmou esperar o fim da suspensão ainda este ano, mas não falou em data.
Há setores mais otimistas. Pratini de Moraes, presidente da Abiec (reúne exportadores de carne bovina), acredita que uma decisão sobre o fim do embargo pode sair na semana que vem, depois que a missão de técnicos voltar à Rússia. Ele disse ter obtido essa indicação em conversas com o diretor do Serviço Federal de Supervisão Veterinária e Fitossanitária da Rússia, Sergei Dankvert.
Pratini reconheceu que as vendas externas de carne bovina em novembro podem ter algum efeito do embargo russo. Explicou, porém, que por questões sazonais de demanda os embarques em novembro e dezembro costumam ser menores que em outros meses.
Em outubro, a Rússia foi o principal destino da carne bovina brasileira, confirmou ontem a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). No mês, o Brasil embarcou para o mercado russo 17,6 mil toneladas. Até outubro, as exportações brasileiras de carne bovina bateram a marca dos US$ 2 bilhões, com embarques de 1,5 milhão de toneladas. Em relação aos dez primeiros meses de 2003, as exportações para a Rússia cresceram este ano 162% em receita (de US$ 74,7 milhões para US$ 196 milhões) e 147% em volume (de 66 mil para 127,2 mil toneladas).
“Não acredito que o embargo vá trazer prejuízos [para o setor], devemos ter novidades em poucos dias”, disse o presidente do Fórum Nacional da Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira. Mas já existe um “plano B”, caso o embargo russo não seja suspenso rapidamente. Nogueira revelou que um grupo de exportadores prepara um lote de carne bovina a ser embarcado nos próximos dias para a China, que na semana passada, durante a visita do presidente Hu Jintao ao Brasil, decidiu abrir seu mercado para o produto brasileiro. “O tamanho do mercado chinês é semelhante ao da Rússia e é uma alternativa ao embargo, caso este se prolongue”, disse Nogueira.