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Cenário menos favorável

Deve cair pela metade ritmo de aumento da demanda por adubos no País.

Da Redação 01/12/2004 – Ainda que as estimativas sinalizem estabilidade da demanda brasileira por fertilizantes em 2004 em relação a 2003, este certamente será um ano de bons resultados para as empresas do setor, que de uma forma geral conseguiram repassar o aumento dos custos de suas matérias-primas ao consumidor final, preservando – e em alguns casos ampliando – margens.

E, conforme projeções apresentadas ontem durante o Fórum Brasileiro de Fertilizantes, realizado em São Paulo, 2004 deixará saudade, tendo em vista as dificuldades apontadas pelas companhias em ampliar investimentos e a tendência de redução do ritmo de avanço do consumo nos próximos anos.

Segundo Mário A. Barbosa Neto, presidente da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), as vendas de fertilizantes no país deverão registrar salto médio anual de 4% nos próximos anos, ante a média de 8,5% prevista para entre 2000 e 2004 – apesar do resultado deste ano, quando a demanda deverá no máximo repetir as 22,356 milhões de toneladas de 2003.

Nesse cenário, prevê Barbosa, que também preside a Bunge Fertilizantes (maior misturadora de adubos do mercado interno), o consumo chegará a 30 milhões de toneladas em 2010, com a soja, carro-chefe da agricultura nacional, absorvendo 11 milhões, ante 8,9 milhões em 2004. Entre os Estados, o Mato Grosso deverá manter a liderança no consumo em 2010, com 5,5 milhões de toneladas, ante as 4,1 milhões deste ano.

Para acompanhar o crescimento e reduzir a dependência brasileira das importações de adubos – que respondem por mais de 60% da demanda -, as empresas reunidas na Anda concordam que é preciso investir, e identificam os desafios para tal. “É preciso haver isonomia tributária entre o produto nacional e o importado, que não paga ICMS, padronização da qualidade, infra-estrutura adequada, consciência ambiental e disponibilidade de crédito”, disse Barbosa.

Entre os gargalos, a situação dos portos mereceu “menção honrosa” no evento de ontem e foi citada por diferentes participantes. Cálculos de George Wagner B. E Sousa, presidente da Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil (Ama-Brasil), que reúne pequenas e médias companhias, indicam que apenas em demourrage (tempo de espera dos navios) o setor já paga cerca de US$ 130 milhões por ano. “Também temos que ficar atentos à deteriorização das relações de troca entre os fertilizantes e os produtos agrícolas”, afirmou.

Esse cenário decorre do aumento dos preços dos fertilizantes no Brasil – fruto, segundo as empresas, de elevações no mercado externo – e da queda das cotações de commodities importantes como soja e milho no mercado externo. Assim, em outubro passado eram necessárias 19,9 sacas de soja para adquirir uma tonelada de adubo; em setembro de 2003, eram 13,5.

No caso da Fosfertil, maior produtora de matérias-primas para adubos do país, seu presidente, Francisco Gros, identificou outro obstáculo: o papel da Petrobras no fornecimento de gás natural, matéria-prima para nutrientes nitrogenados usados na formulação dos fertilizantes. “Temos planos para investir US$ 400 milhões na área de nitrogenados, mas será que a Petrobras fornecerá gás a preços competitivos?”, indaga. Mário Barbosa, da Anda, informou que, na Argentina, o gás pode ser comprado por US$ 0,80 por milhão de BTU, ante US$ 1 na Venezuela e de US$ 4 a US$ 5 no Brasil.

Com o cenário menos favorável para o setor de fertilizantes, Décio Zylberstajn, coordenador Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial da Universidade de São Paulo (Pensa/USP), chamou a atenção para a necessidade de as empresas se preocuparem com suas respectivas saúdes financeiras, num ambiente em que os investimentos podem ser relegados a um segundo plano.

Mas, no que depender dos resultados previstos para o acumulado de 2004, as empresas começarão a “surfar” em 2005 com balas na agulha. Como conseguiram repassar seus próprios aumentos de custos este ano, as companhias estão colhendo bons resultados. “O retorno financeiro das empresas do setor será muito bom em 2004, melhor até que em 2003, quando a demanda brasileira foi recorde”, afirmou um executivo do setor.

A Fosfertil, controlada pela holding Fertifos – esta nas mãos de Bunge, Cargill e Fertibrás, majoritariamente -, viu sua receita líquida crescer 9,8% até setembro sobre o mesmo período de 2003, para R$ 1,497 bilhão. O lucro líquido da empresa saltou 22,6% na mesma comparação e alcançou R$ 315,8 milhões. As misturadoras Adubos Trevo (controlada pela norueguesa Yara, maior grupo de fertilizantes do mundo) e Fertibrás (capital 100% nacional) também registraram melhores resultados nos nove primeiros meses do ano.