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Concórdia (SC)

Agricultura familiar no município gera oito de cada dez empregos no meio rural.

Da Redação 24/07/2003 – Quase 30% dos 65 mil habitantes de Concórdia (SC) vivem nas cerca de 3,5 mil propriedades rurais de 10 hectares em média, onde exploram a criação de suínos, frangos e culturas diversas de subsistência. A agricultura familiar ocupa 95 % da população do município.

A região não é uma exceção. Hoje, no Brasil, quase 8 de cada 10 empregos no meio rural são gerados na agricultura familiar, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Nestet tipo de propriedade são necessários, em média, oito hectares para criar um posto de trabalho. Na agricultura empresarial, a média é de um trabalhador por 67 hectares, segundo informações da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul, a Fetraf-Sul, maior entidade do gênero hoje no país. Reúne 300 mil das 907 mil famílias do setor em 240 municípios dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A Fetraf-Sul é a uma das entidades organizadoras do III Seminário Nacional de Agricultura Familiar. Após a abertura do evento, a comitiva visitará uma feira onde estarão expostos os principais avanços do setor na região Sul. Segundo a Prefeitura da cidade, apenas entre 2002 e 2003 foram criadas 30 agroindústrias familiares na região. Na safra passada, Santa Catarina foi o estado com maior número de contratos do Programa de Agricultura Familiar (Pronaf).

As experiências do setor incluem a recuperação de conhecimentos tradicionais _ como bancos de sementes “crioulas”, uma alternativa às sementes de híbridos e transgênicos, pelas quais se pagam royalties cada vez mais onerosos para o produtor. Também incluem técnicas de manejo e ferramentas rústicas abandonadas na modernização das propriedades, mas que hoje são viáveis economicamente, bem como experiências de produtos agroecológicos (sem uso de fertilizantes ou defensivos industrializados).

A exemplo do que aconteceu no lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar, em junho, no Palácio do Planalto, Lula deverá reencontrar ali alguns dos agricultores cujas propriedades visitou durante uma das Caravanas da Cidadania, em 2001. “O presidente vai rever um povo que, além de buscar uma vida melhor para si, com vida social e contato com a natureza, encara o desafio de produzir alimentos para erradicar a fome no Brasil”, diz o coordenador geral da Fetraf-Sul, Altemir Tortelli. Ele também integra o Conselho de Segurança Alimentar federal.

“Toda essa terra produz alimentos exportados para quase 100 países do mundo”, informa o prefeito da cidade, Neodi Saretta (PT). A região de Concórdia é berço de algumas das maiores agroindústrias do país. As empresas locais lideram o mercado exportador de carnes bovina, suína e de frango. Somente a Sadia, fundada em Concórdia há 59 anos, abate na unidade pioneira 230 mil frangos e 4,3 mil suínos diariamente. A carne é produzida pelo chamado “sistema de integração”: o frigorífico fornece o pinto, a ração e assistência técnica aos pequenos granjeiros, depois compra a produção. A unidade de Concórdia gera 4,4 mil empregos diretos e garante 70% da arrecadação do município.

As entidades da agricultura familiar, por seu lado, buscam uma alternativa ao modelo de parceria, que, graças à constante busca por ganhos de produtividade das grandes empresas, não absorve os agricultores com as menores propriedades. “O modelo também não admite que o produtor busque outros compradores, determinando o que ele irá receber”, acrescenta Tortelli.

 
Segundo ele, os esforços das entidades dos trabalhadores são para estimular o cooperativismo e dar assessoria técnica para o produtor agregar ele mesmo valor à sua produção. “Só assim ele vai retirar seus produtos dos mercadinhos marginais e ficar livre da dependência das grandes indústrias”, diz Tortelli.