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Produzindo em casa

Os gastos com rações são responsáveis por boa parte dos custos da produção avícola. Iniciar a sua própria fabricação pode parecer uma boa alternativa, mas é necessário avaliar diversos fatores antes do investimento.

Redação AI (Edição 1104/2002) – Para começar a pensar em uma fábrica de rações em sua propriedade, o avicultor deve primeiro numerar determinados fatores e verificar quais as suas disponibilidades ou quais investimentos serão necessários para isto. Com estes dados nas mãos, o produtor poderá nortear suas ações e aí sim decidir pela instalação ou não de sua própria fábrica.

Um dos primeiros itens é a infra-estrutura da região. É importante a disponibilidade de energia elétrica, preferencialmente em rede trifásica. O engenheiro agrônomo da Embrapa Suínos e Aves, Jorge Vitor Ludke, especialista em produção animal, comenta que a opção de se instalar um transformador na rede elétrica deve ser avaliada. Isto traria melhoria na qualidade da energia, afirma. O produtor também deve verificar a facilidade de acesso e condições da estrada que vai até a granja, que passará a ser trafegada por caminhões de carga.

A sua própria produção de milho também é um fator importante. Este é o principal insumo utilizado na composição da ração, mas é preciso verificar se a sua produção atenderá a demanda ou será preciso completá-la com a compra de quantidades adicionais do produto. Para o engenheiro agrícola João Luiz Mendo Trigo Chichorro Rodrigues, da Mendes e Mendo, empresa especializada em engenharia e projetos, uma alternativa para os pequenos produtores seria criar uma associação para a formação de um centro de armazenamento, no qual poderiam retirar suas necessidades semanais. Isto facilitaria muito, porque há melhores condições de compra dos grãos quando feita em larga escala, explica. Esta alternativa também é apontada por Ludke para a própria fábrica de ração. Os ingredientes poderiam ser adquiridos em grandes volumes, possibilitando a redução dos custos. A aquisição conjunta destes ingredientes poderia ser feita por meio da formação de cotas entre os produtores.

O pesquisador da Embrapa Suínos e Aves entende que tanto esta como a opção de implantar sozinho a fábrica vai depender dos resultados de uma análise de investimento e, também, da disponibilidade de recursos financeiros próprios para o projeto. Inicialmente deve-se calcular o custo fixo por tonelada de ração produzida. Entre os índices para o cálculo, estão incluídos a depreciação das instalações e equipamentos e o custo financeiro, caso os recursos sejam obtidos por meio de empréstimo.

Nos custos variáveis estão incorporados gastos com energia elétrica e mão-de-obra. Mas antes de toda esta avaliação, o produtor deverá dimensionar o mínimo necessário para a produção. Outro fator importante é o levantamento do preço dos ingredientes e insumos utilizados para compor as rações, considerando o frete, alerta Ludke.

ViabilidadeUm avicultor com produção anual de cinco lotes de frangos de corte por ano, tendo cada um aproximadamente 10 mil aves alojadas e conversão alimentar de 2,0, teria como pagar os custos de implantação da fábrica de rações em três anos. Ludke explica que neste caso estaria estimado uma redução de 6% no custo final da ração produzida na granja em comparação com o preço de compra do produto pronto. Neste exemplo, o custo de implantação da fábrica estaria sendo pago com a economia proporcionada pela própria produção da ração.

Quem trabalha com poedeiras estaria realizando um cálculo semelhante, mantendo a mesma redução de 6% no custo com alimentação. Para que o investimento seja pago com esta economia seriam necessários cinco anos. Isto, levando em consideração que o produtor adquira frangas para reposição com 16 semanas e mantenha seu plantel até a idade de 80 semanas, com um consumo médio de 110 gramas. O total de aves alojadas deve permanecer em torno de 5 mil por este período.

Em termos financeiros, Ludke estima que o investimento pode chegar a R$ 12 mil para a implantação da fábrica. Com este valor o avicultor montaria um conjunto simples composto pelo galpão e equipamentos como balança, triturador com acessórios (motor elétrico e ciclone) e misturador (veja box). Um equipamento complementar de alta utilidade em uma fábrica de ração seria uma máquina inativadora do grão de soja, sugere o pesquisador.

Saber escolher – No momento em que for optar por um equipamento, o produtor deve avaliar bem a sua escolha. Roque Miguel Ansante, atualmente na Munters do Brasil, já trabalhou mais de 20 anos neste mercado e alerta para as diferenças entre os equipamentos. Ele explica que há modelos baratos, mas produzidos com uma chapa mais fina, o que diminui consideravelmente o seu período útil. Então, ao invés de durar dez anos, vai durar três, cinco anos, afirma. Quer dizer, o produtor terá uma geração de equipamentos mais simples e leves, mas que seguramente terá de ser trocada num prazo mais curto.

Além disto, a manutenção permanente é importante para se evitar problemas com os equipamentos. Ela pode ser dividida em dois conjuntos. Um deles é o motor, cuja parte elétrica deve ser checada regularmente. Preventivamente, também é necessária a instalação de um sistema de desarme automático para evitar sobrecargas, principalmente no moinho, além de se evitar o acúmulo de poeira nos motores. O outro, é a manutenção preventiva do conjunto de peneiras e de caracóis ou roscas, instalando imãs nas bocas de alimentação. Isto evita a entrada de metais no moinho ou no misturador, afirma Ludke.

A fábrica também deve possuir um planejamento para a adoção de sistemas de proteção preventiva, o que minimiza os riscos de acidentes dos funcionários, e medidas de biossegurança, para evitar a contaminação dos ingredientes e das rações por patógenos. Isto pode ser contemplado com a adoção das boas práticas de produção ou fabricação, comenta o pesquisador da Embrapa.

A formulação das rações pode ser feita com o auxílio de programas específicos de computador, visando uma melhor adaptação do nível nutricional das rações às exigências nutricionais de cada fase produtiva do plantel. Mas sempre é importante o acompanhamento técnico de um nutricionista, mesmo no caso de se comprar concentrados ou núcleos, fazendo somente a mistura na granja.

O básico

Uma fábrica de rações de pequeno porte deve possuir este conjunto básico de equipamentos:

Balanças

A fábrica deve possuir balanças com capacidades diferentes. É necessário uma balança pequena, com capacidade entre 5 e 10 quilos, para a pesagem de pré-misturas de microminerais e vitaminas, minerais e eventuais promotores de crescimento. A balança grande (foto) será utilizada para a pesagem de ingredientes que compõem a maior proporção da ração, devendo possuir uma capacidade para até 200 quilos.

Triturador

O produtor deve optar por um moinho que tenha a capacidade mínima para moer 20 a 25 sacos de milho por hora. É importante determinar o tamanho das partículas do milho moído, pois este é um fator que irá influenciar no desempenho das aves e nos gastos com energia elétrica.

Misturador

Misturadores verticais com capacidade para 500 quilos por mistura. São mais indicados a fábricas de pequeno e médio porte. Equipamentos de menor porte podem parecer mais econômicos no momento da aquisição por serem mais baratos, mas é preciso avaliar a quantidade diária e o número de rações diferentes que serão fabricadas e o custo com a mão-de-obra, além de se racionalizar o tempo de operação. Há três tipos de misturadores: os verticais, os horizontais e os em Y. Cada um possui vantagens e desvantagens que devem ser consideradas conforme as suas necessidades.