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Agroindústria

Câmbio ainda pesa na BRF

Valorização cambial não ajudou operacionalmente o balanço de estreia da BRF-Brasil Foods. Exportações foram prejudicadas.

Câmbio ainda pesa na BRF

O câmbio valorizado não ajudou operacionalmente o balanço de estreia da BRF-Brasil Foods. O primeiro resultado oficial da combinação de Perdigão e Sadia trouxe queda de receita e de margens, com a exportação prejudicada. Mas a dor de cabeça com o dólar está certamente muito menor do que há um ano, quando a moeda americana disparou por conta da crise financeira internacional. Exatamente em novembro de 2008, chegavam à Sadia os questionamentos dos acionistas sobre as perdas bilionárias com derivativos alavancados, anunciadas dois meses antes. Passado um ano, a empresa é hoje subsidiária integral da antiga Perdigão.
Apesar de o negócio estar com a margem da atividade apertada, o fim da pressão dos derivativos e a injeção de capital de R$ 5,3 bilhões deixaram o balanço inaugural da BRF no azul.
A companhia teve lucro líquido de R$ 211 milhões no terceiro trimestre, ante prejuízo de R$ 1,6 bilhão – reflexo das perdas com derivativos pela Sadia. O número de 2008, contudo, é apenas para efeito de comparação (pro forma), já que as empresas ainda não estavam unificadas. Sozinha, a Perdigão teve perda de R$ 52 milhões de julho a setembro do ano passado.
Embora tenha prejudicado os dados da atividade, o dólar contribui na linha financeira e foi fundamental para o lucro. A BRF teve receita financeira líquida de R$ 223 milhões, ante a uma perda de R$ 2,1 bilhões no que teria sido o terceiro trimestre de 2008.
O próprio diretor de finanças e relações com investidores da empresa, Leopoldo Saboya, atribuiu o resultado do trimestre ao “impacto positivo do câmbio sobre a exposição líquida em dólar”. O lucro operacional, antes da conta financeira, ficou em apenas R$ 58 milhões, comparado a R$ 150 milhões de igual período de 2008 – queda de 61%. Vale lembrar que até metade de setembro do ano passado, antes do estouro da crise, as empresas mostravam números fortes.
Mas a parte do efeito do câmbio que é negativa para o balanço é mais fácil de ser explicada desta vez: diz respeito somente à venda de produtos alimentares.

O cenário externo ainda afetado pela crise levou a BRF a exportar menos, mais barato e com um dólar mais baixo. As exportações caíram 12%, para R$ 2,3 bilhões e tiveram efeito cascata no balanço. A receita líquida total caiu 6%, para R$ 5,3 bilhões.
De acordo com Saboya, “o mercado externo ainda puxa para baixo os resultados operacionais”. No terceiro trimestre, os volumes vendidos no exterior caíram 12,6% e os preços foram 17% menores em dólar.
Esse cenário afetou as margens da BRF. A bruta foi de 20,8% no trimestre, abaixo dos 21,3% do mesmo período de 2008. O lucro antes dos juros, impostos e depreciação (lajida) foi de R$ 291 milhões, 13% abaixo dos R$ 336 milhões pro forma de 2008. Com isso, a margem Lajida caiu para 5,5%, ante 6%, na mesma comparação.
“Ainda sentimos dificuldades de repassar preços”, observou. Ele disse que os mercados mais resistentes a elevar preços são a Europa e Eurásia, mas já se vê melhoras no Oriente Médio, por exemplo. “A recuperação vai continuar, porém lentamente, ainda mais porque esta é normalmente uma época de mercado externo menos aquecido.”
Com a queda nas exportações – por causa da demanda ainda fraca e do dólar desvalorizado -, o peso das vendas internacionais na receita bruta da BRF caiu para 42%. Tradicionalmente, Perdigão e Sadia tinham 50% de sua receita no mercado doméstico e 50% no externo. “Esse balanço vai mudar no curto prazo para 40% na exportação e 60% no mercado doméstico”, disse Saboya.
Ele admitiu que o ciclo de ajuste no mercado externo está sendo “mais duradouro do que se imaginava”. Contudo, disse que os resultados foram positivos no mercado doméstico. No terceiro trimestre, as vendas de produtos elaborados e processados cresceram 6,3% em relação ao mesmo intervalo de 2008 e os preços ficaram estáveis. As vendas de lácteos no período caíram 14,6%, mas a empresa conseguiu elevar os preços em 13%.
Apesar de estar otimista com as vendas no mercado doméstico neste fim de ano, Saboya avalia que a receita da BRF neste ano deve crescer pouco, na casa do 1%, em relação ao ano passado, considerando a soma de Sadia e Perdigão. Em 2008, as duas juntas faturaram pouco mais de R$ 25 bilhões (bruto). A razão são as exportações fracas. Ele acredita que as vendas podem recuar até 5% em volume este ano pelo mesmo motivo.
Ainda que o resultado do terceiro trimestre tenha sido consolidado, Perdigão e Sadia continuam a operar de forma independente e só tiveram autorização do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para coordenar as atividades de exportação das duas empresas. A expectativa, de acordo com o diretor de finanças, é de que uma decisão saia no primeiro trimestre de 2010. Ele não quis dizer em quanto estima os ganhos de sinergia, mas afirmou que “confia no intervalo dos analistas”. Os especialistas projetaram entre R$ 2 bilhões e R$ 4 bilhões na época do anúncio da fusão.
Embora não tenham integrado as atividades, Perdigão e Sadia integraram as finanças. Ao fim de setembro, as empresas tinham juntas dívida bruta de R$ 9 bilhões e caixa de R$ 4,5 bilhões – resultado da capitalização de R$ 5,3 bilhões em julho. A integração da área financeira foi permitida pelo Cade, inclusive, por conta das dificuldades enfrentadas pela Sadia. A BRF transferirá até o fim do ano R$ 3,5 bilhões a sua subsidiaria – R$ 1 bilhão a mais do que o prejuízo com os derivativos.
Os analistas já esperavam números mais fracos operacionalmente no terceiro trimestre. Contudo, os dados ficaram abaixo da expectativa de Denise Messer, analista da Brascan Corretora, por exemplo. Ela projetou receita e margens maiores para o período.