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Genética

MG se rende ao transgênico

Cerca de 90% dos produtores rurais que cultivam milho no Triângulo Mineiro vão colher, em 2010, a primeira safra GM.

MG se rende ao transgênico

Cerca de 90% dos produtores rurais que cultivam milho no Triângulo Mineiro colherão, em 2010, a primeira safra do produto geneticamente modificado. Desde que foi autorizado o uso de 11 tipos de sementes transgênicas pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em 2007, esta é a primeira vez que os produtores conseguiram quantidade suficiente de sementes modificadas para substituir o plantio convencional do produto na safra.

Com o gene da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), embutido no milho, que não agride a saúde humana e que faz a resistência da planta melhorar, principalmente contra o ataque de lagartas, os produtores esperam ter um ganho de, no mínimo, 7% na produtividade. É o caso do agricultor Delmiro Longhi, proprietário de uma fazenda com 2,4 mil hectares de plantação a 13 km de Romaria. “A expectativa é que tenhamos maior lucratividade. Já tivemos menos despesas com o manejo, uma vez que, com o plantio de transgênicos, nós diminuímos a aplicação de agrodefensores, do uso de água e de combustível para os equipamentos”, afirmou.

Na avaliação do produtor Jorge Verde, que conta com uma fazenda de mil hectares de plantação a 20 km de Nova Ponte, a tendência é que todo o cultivo do milho na região seja feito por meio de sementes transgênicas. “Era inviável plantar aqui com a quantidade de pragas que temos. Agora, com os transgênicos, a realidade é outra”, disse.

Na região do Triângulo Mineiro, estima-se que a área total plantada de milho – entre convencional e transgênico – se aproxime de 160 mil hectares, com uma produção em média de 5,2 mil kg/hectare, segundo levantamento feito com base em informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Reserva legal: 10% da área de cultivo

Mesmo com os produtores trocando as sementes naturais por outras geneticamente modificadas, o cultivo da planta não-transgênica deve permanecer. Por recomendação técnica, 10% da área total de cultivo deve ser feito com sementes naturais. É a chamada área de refúgio, que propõe manter a população de pragas suscetíveis ao efeito inseticida dos transgênicos, impedindo o surgimento de pragas resistentes.

De acordo com o técnico de uma empresa de sementes Ademir Torchetti o plantio com áreas de refúgio é essencial. “É uma técnica usual que preservará a eficiência da biotecnologia e preservará o milho natural”, disse.

Cientistas

Apesar da eficiência na produtividade, o uso de transgênicos ainda não é consenso entre cientistas do ramo. O geógrafo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Roberto Resende dos Santos afirma que ainda são obscuras as consequências no meio ambiente advindas da troca do cultivo tradicional pelo transgênico. “A troca descaracterizará a paisagem original. Ainda não temos como afirmar se a flora e fauna sofrerão alterações significativas”, afirmou.

A eficiência das chamadas áreas de refúgio também são uma dúvida pontual para a engenheira agrônoma da UFU Erika Sagata. “É uma prática que não garante totalmente que as pragas não ficarão resistentes. Além disto, há a questão da contaminação dos campos através de polinização [processo de reprodução das plantas]”, disse.

Na defesa dos transgênicos, a agrônoma e diretora-excutiva da ONG Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Alda Lerayer, disse que, na ciência, não existe o risco zero. “Apesar disso, os transgênicos são uma ferramenta biotecnológica estratégica para contribuir com a diminuição dos problemas da produtividade e da fome”, afirmou.