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Agroindústria

Doux atrasa pagamento de integrados

Atraso no pagamento de frangos e suínos já completa dez meses. Em nota, empresa diz que "irá honrar todos os compromissos com integrados".

Doux atrasa pagamento de integrados

A novela dos atrasos nos pagamentos pelos frangos e suínos que a Doux Frangosul recebe dos seus quase 3 mil produtores integrados no Rio Grande do Sul está completando dez meses sem garantias de que vá acabar tão cedo. Representantes dos criadores reuniram-se cinco vezes com executivos da empresa entre 17 de abril e 20 de novembro para tentar solucionar o problema, mas hoje (01/12) a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS) ainda registra faturas vencidas há até 120 dias.

Segundo o presidente da entidade, Elton Weber, nos próximos dias a comissão de integrados da federação vai definir outras formas de pressionar a empresa. “Nada está descartado”, afirma o dirigente. As opções incluem desde protestos públicos até ações de cobrança na Justiça, diz.

A Fetag-RS não tem um levantamento fechado sobre o tamanho da dívida da Doux com os integrados, mas ela chega a “vários milhões de reais”, avalia Weber. O tamanho dos lotes varia de 15 mil a mais de 50 mil aves e cada uma delas vale de R$ 0,25 a R$ 0,30. No município de Montauri, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais local, Luiz Lampugnani, calcula que 30 criadores tenham, no total, cerca de 100 entregas pendentes, o equivalente a um crédito de pelo menos R$ 500 mil.

O prazo contratual para pagamento aos integrados é de 30 dias após a entrega dos animais para a Doux, mas em fevereiro esse intervalo começou a aumentar. Na época a justificativa foi o impacto da queda das exportações provocada pela crise econômica mundial, mas hoje, conforme o assessor de política agrícola da Fetag-RS, André Raupp, alguns integrados ainda não receberam pelos lotes abatidos de 8 a 26 de junho e uma “parcela expressiva” deles enfrenta atrasos de 30 dias.

“A empresa alega que está ampliando a produção, mas diz que não tem capital de giro suficiente porque não consegue acessar linhas oficiais de crédito”, relata Raupp. Procurada pelo Valor, a Doux não deu entrevista, mas em maio o diretor geral Aristides Vogt disse que a empresa estava abatendo quase 1,16 milhão de cabeças por dia, 3,6% a mais do que em junho de 2008, e que as perspectivas para o segundo trimestre eram “muito boas, com bons volumes já vendidos e preços em ascensão”.

Desta vez a companhia enviou apenas uma nota oficial por intermédio de sua assessoria, na qual afirma que “mesmo nos períodos de maior dificuldade” manteve o sistema integrado de produção operando e cumpriu com suas obrigações. “A empresa possui um cronograma de pagamento com os produtores e reitera que manterá o acordo assumido e irá honrar todos os compromissos, como o faz há mais de 35 anos”, diz o comunicado.

Raupp confirma que em outubro a Doux se comprometeu a pagar até 23 de dezembro pelos lotes mais atrasados, abatidos de 18 de maio a 26 de junho. Esse prazo, de fato, ainda não venceu, embora na reunião deste mês a Fetag-RS tenha cobrado, sem sucesso, a liquidação desse passivo até sexta-feira passada. “Já há um descrédito entre os produtores que a empresa vai cumprir o prazo de dezembro”, diz o assessor.

Além disso, de acordo com ele, o primeiro cronograma, acertado ainda no encontro de 26 de junho, previa que a empresa pagaria dentro dos 30 dias contratuais pelos animais recebidos a partir de 29 daquele mês. Isso não ocorreu e hoje, cinco meses depois, os atrasos de 15 a 30 dias são corriqueiros, explica o assessor. “Ninguém está recebendo com menos de 60 dias”, reforça o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Montenegro, Romeu Krug.

“Estamos há um ano nessa enrolação”, queixa-se o dirigente. De acordo com ele, há 70 integrados da Doux na cidade e quem consegue está migrando para outras agroindústrias porque a situação está “terrível”. Muitos produtores já tiveram suspenso o fornecimento de energia elétrica por falta de pagamento e estão com o nome incluído nos cadastros de proteção ao crédito, explica. “Não dá para pagar para trabalhar”, queixa-se Lampugnani, do sindicato de Montauri.

Nos últimos anos, a Doux vem vivendo dificuldades na Europa por conta da perda de competitividade. No Brasil, já se desfez de um ativo em junho deste ano: vendeu para a Marfrig suas operações de peru por R$ 65 milhões.