O presidente da Associação Paulista de Criadores de Suínos (APCS), Valdomiro Ferreira Junior, mostrou preocupação com a situação vivida pelos suinocultores não só de São Paulo, mas de todo o país. Com custos elevados e preço em queda pelo suíno vivo, os suinocultores tem amargado fortes prejuízos. “A questão dos grãos pegou o setor de surpresa em função da questão climática que ocorreu no Sul. Nós tínhamos uma estimativa para 2022 que nós poderíamos ao longo do primeiro semestre reduzir os custos do milho e do farelo de soja. Entretanto, em função da questão climática e da especulação de mercado, ocorreu o contrário, os nossos custos subiram”, afirma Ferreira Jr.
O presidente da APCS indica que o custo em janeiro já se posicionou em um patamar maior do que em dezembro de 2020. Durante live exibida ontem (08/02) no canal TV Gessulli, Ferreira Jr apontou que o custo de produção em São Paulo, para granjas de até 500 matrizes, é de R$ 9,26, enquanto que para uma granja acima de 2 mil matrizes o custo é de R$ 8,09. Lembrando que, no cálculo de custos feitos pela APCS entram não só valores de alimentação, mas também depreciação das instalações, depreciação financeira e outros custos fixos e variáveis. É o chamado custo “cheio”.
“Para fazer uma média, pegando o R$ 9,26 mais o R$ 8,09 dividido por dois, nós poderíamos dizer que o custo médio hoje em São Paulo é de R$ 8,67. Esse custo, contra o preço de venda de R$ 5,33, que estamos praticando efetivamente no momento, nós estamos falando de uma perda para cada quilo vendido de R$ 3,34”, afirma Ferreira Jr. Com o suíno sendo entregue aos frigoríficos com um peso de 110 kg, o prejuízo para o suinocultor paulista por animal comercializado é de R$ 367,40. “Não há setor que aguente essa perda por muito tempo”, afirma o presidente da APCS.
COMO SUPERAR ESSES DESAFIOS
Durante a live no canal TV Gessulli, Ferreira Jr. destacou a necessidade de se atacar em três frentes com vistas a amenizar o problema, mesmo assim o “remédio é amargo”. O setor suinícola tem vivido – além da questão de custo – um problema de maior oferta de carne suíno no mercado interno, o que tem deprimido os preços. “Se o problema é excesso de oferta, temos de trata-lo como uma situação que pode nos levar a um verdadeiro caos, o qual já estamos passando; precisamos enxugar esse excedente”, afirma o presidente da APCS.
O foco estaria em melhorar o consumo interno da carne, repensar os níveis produtivos atuais e manter a qualidade do produto. Ferreira Jr. defende que haja uma parceria com os frigoríficos possibilitando melhorando o patamar de preço e mantendo os padrões de qualidade dos cortes suínos. “Eu defendo que nós não possamos ter grandes aumentos de uma semana para outra. O ideal é que nós pudéssemos planejar junto com os frigoríficos, nós pudéssemos ir melhorando semana por semana o preço do suíno, até chegar a um patamar que pelo menos não dê prejuízo, para que a gente possa escoar um pouco esse consumo. O que eu quero dizer com isso? Nós precisamos levantar o preço do suíno vivo e do suíno abatido”, explica.
De acordo com seus cálculos, o ideal seria um aumento de 35% no preço nominal. O que, embora o consumidor não possa responder a essa alta de uma vez, possa ser aplicada ao longo de um período, já que a situação econômica do país levou a uma maior concentração do consumo da proteína nas classes C, B e A. “No meu entendimento, esse consumidor tem condições de pagar mais pelo pernil, mais pela picanha, mais pelo lombo. Enfim, os inúmeros cortes que tem de carne suína”, destaca Ferreira Jr.
Um terceiro ponto destacado pelo presidente da APCS, e que não depende diretamente do produtor, é avançar e diversificar as vendas no mercado externo. E, para isso, manter a sanidade do rebanho suíno brasileiro. “Lembrando que a questão sanitária é o que nos faz exportar mais de um milhão de toneladas de carne suína para o mundo. Imagina se nós tivermos um problema sanitário. É um tsunami que vem na suinocultura brasileira. Então, é preciso tomar muito cuidado na questão sanitária para que continuemos escoando 20% da nossa produção para esses mercados globalizados”, aponta Ferreira Jr.