A recente volta do fenômeno climático El Niño, confirmada pela Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA) no início de junho, levanta preocupações sobre seus possíveis impactos na agricultura.
Enquanto isso, o setor já lida com um cenário de alta nos preços das commodities, principalmente devido a questões como o clima adverso para as safras nos Estados Unidos e a incerteza no Mar Negro em relação ao escoamento dos grãos da Ucrânia.
Especialistas alertam que o principal efeito negativo pode ser sentido nos preços dos alimentos.
O que é o El Niño?
O El Niño provoca o aquecimento das águas na região central e leste do Oceano Pacífico, o maior oceano do planeta.
De acordo com a Nottus Meteorologia, o fenômeno climático resulta em um aumento de 1,2ºC na porção central do Pacífico e de 3ºC na região leste do oceano.
De acordo com os modelos da empresa de meteorologia, o El Niño deve atingir maior intensidade entre outubro e novembro. Além disso, há probabilidade acima de 95% de o fenômeno persistir até o final do ano e acima de 90% para o trimestre de janeiro a março de 2024.
Em geral, o fenômeno resulta em maior volume de chuvas no Sul do Brasil e tempo mais seco nas regiões Norte e Nordeste do país, com calor acima do normal no Sudeste, Centro-Oeste e oeste da Amazônia.
Impactos na agricultura
Desirée Brandt, meteorologista na Nottus, identifica cinco principais desafios para a agricultura com a confirmação do fenômeno:
1. Irregularidades nas chuvas para o Sudeste e Centro-Oeste;
2. Corte precoce das chuvas no Verão (impacto na safrinha);
3. Chuvas abaixo da média no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia);
4. Aumento do risco de tempestades com ventania e granizo no Sul do Brasil, especialmente na Primavera;
5. Maior possibilidade de surgimento de pragas e doenças nas lavouras.
Consequentemente, de acordo com a economista Luciana Rabelo, do Itaú BBA, o El Niño pode provocar um efeito inflacionário nos alimentos.
“O fenômeno traz um viés de alta para a inflação dos alimentos este ano, principalmente para hortifrútis, que são mais sensíveis às mudanças climáticas e cuja produção é concentrada na região Sul e Sudeste do país. Em 2023, esperamos que a alimentação no domicílio desacelere para 0,6% (de 13,2% em 2022) influenciada, principalmente, pela queda nos preços das commodities agrícolas e pela valorização do real”, afirma.
Além disso, segundo o BBA, o impacto do El Niño tende a ser mais negativo para o milho e de resultado misto para a soja. De acordo com o banco, em metade dos eventos registrados, houve uma queda na produção de milho.
Em relação à soja, os dados são menos conclusivos, com uma redução na produção apenas nos dois últimos fenômenos registrados, sendo a queda menos intensa do que a observada no milho.