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"Modelo atual se esgotou. Precisamos de um novo sistema de crédito rural"

Leia entrevista de Reinold Stephanes, ministro da Agricultura, avaliando o agronegócio brasileiro em 2008.

Redação (13/01/2009)- O ano passado foi bom para o agronegócio brasileiro, mas o campo já sentiu os efeitos da crise internacional. Em relação a esse aspecto, em 2009 os problemas continuam, mas a boa notícia é que os preços internacionais dos principais grãos cultivados no país começaram a reagir. Na entrevista abaixo, o ministro da Agricultura, Reinold Stephanes, afirma estar confiante com relação à safra 2008/09, mas garante que o governo federal irá apoiar e intervir no mercado caso haja necessidade. A reestruturação do crédito rural e a revisão da política de preços mínimos estão entre as principais preocupações da Agricultura para este ano, conforme o ministro.

2008 foi um bom ano para o agronegócio brasileiro? Por quê? Quais os principais destaques positivos e negativos no ano?

2008 foi um ano muito bom em termos de produção e preços. Até que a crise chegou e derrubou as cotações dos produtos agrícolas no mercado mundial. Por outro lado, derrubou também o preço dos fertilizantes no mercado internacional, o que em teoria seria uma boa notícia. Mas isso não repercutiu internamente. Embora o preço do fertilizante já tenha caído em média 70% no mercado internacional, internamente as três grandes empresas que controlam o mercado brasileiro tentam manter o preço elevado. Não houve queda do preço doméstico. Inversamente, quando houve o aumento do preço dos adubos no mercado internacional, no primeiro semestre do ano passado, isso foi imediatamente repercutido no mercado interno.

Quais as perspectivas para a agricultura brasileira em 2009?

O plantio da nova safra se deu em 98% da área cultivada no ano passado, o que é considerado bom. Esperamos uma queda de 8% na produção de grãos, principalmente em função da seca no Sul, onde houve uma quebra acima de 20% na safra de grãos do Paraná. Os preços, pelo menos nesta última semana (passada), estão reagindo por causa de quebras na Argentina, onde haverá perdas grandes na produção de trigo e soja. Então, os preços do trigo, da soja e do milho estão melhorando, o que é um cenário positivo para esses três produtos.

O Brasil plantou uma safra com custos elevados e dificuldades de crédito. Agora, no momento de negociar a produção, o mercado enfrenta problemas de liquidez. Como o governo pretente apoiar a comercialização em 2009?

É fundamental que o governo se mantenha atento à comercialização porque a próxima safra vai depender do sucesso da comercialização desta. Seriam necessários R$ 5 bilhões e R$ 4 bilhões já estão no orçamento. Se for o caso, o governo comprará estoques e lançará contratos de opção de venda. Mas os preços, que estavam em queda, ou estabilizaram ou estão crescendo. A soja tem tendência positiva e o milho e o trigo estão melhorando. O feijão, em função da quebra, também mantém preços. Há uma grande preocupação com o café, que há seis anos tem preços baixos, que não cobrem os custos de produção.

A correção no preço mínimo é uma das principais reivindicações do setor produtivo. O senhor acha possível corrigi-los?

Essa é uma questão que nós temos que enfrentar. Não só em relação ao preço mínimo, mas uma política de preço. Se discute muito se temos uma política de renda ou uma política de preço. É muito difícil encontrar critérios justos para elaborar uma política de renda, mas nós temos condições técnicas para estabelecer uma política de preço eficiente, em qual o governo garante um preço pouco acima do mínimo para remunerar o produtor. O preço mínimo só remunera o custo variável e, mesmo assim, está defasado para alguns produtos. Mas é possível que não haja necessidade de correção dos valores para esta safra se os preços de mercado continuarem reagindo.

O senhor considera que a dívida agrícola seja um entrave ao crescimento do agronegócio no país? É preciso fazer uma revisão do crédito rural?

É preciso fazer uma revisão de todo o sistema de crédito rural. Tem um grupo de técnicos do Banco do Brasil, dos ministérios da Fazenda e da Agricultura que já está fazendo isso. Mas ainda não há previsão de prazo para uma solução, pois é uma questão complexa porque envolve endividamento agrícola, riscos climáticos e política de preço. Embora tenhamos feito uma boa reestruturação da dívida rural, talvez uma das melhores ou a melhor já feita, ela foi feita dentro de um panorama otimista. A agricultura ia bem, o mercado ia bem, o mundo estava crescendo. Aí veio a crise e mostrou que essa não era a solução. Primeiro porque o agricultor endividado é considerado um agricultor de risco. Então notamos que este modelo que adotamos até agora já está esgotado. Temos que encontrar uma solução definitiva, que é o que esse grupo está fazendo.

Como o agricultor deve se preparar para 2009? Quais as recomendações para a comercialização desta safra de verão?

Tem que ficar muito atento. O Paraná, que tem a base da sua agricultura nas cooperativas, está em vantagem, pois elas já têm uma boa inteligência desenvolvida nessa área e estão muito bem articuladas com o Mapa. Quando há problemas, detectamos isso imediatamente através das cooperativas. No caso do Paraná, também há o Deral, que é considerado um órgão de muita inteligência nessa área.