Da Redação 25/05/2005 – A resistência das indústrias de insumos que atuam no Rio Grande do Sul em avalizar os pedidos de refinanciamento de cooperativas agrícolas gaúchas está emperrando a liberação de recursos pelos bancos. Em reunião ontem (dia 24), representantes das cooperativas decidiram buscar apoio dos bancos e do governo federal para que o refinanciamento passe a ser feito com o aval do Tesouro Nacional, utilizando para isso a linha de crédito de R$ 1 bilhão (com recursos do FAT), que deverá ser lançada no próximo mês de junho.
Rui Polidoro Pinto, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro), diz que o setor deverá pressionar ainda mais o governo para que a linha de crédito seja aprovada. “Falamos com bancos e indústrias de insumos e o impasse está criado. Agora é rezar para o governo liberar os recursos”.
Como adiantou o Valor na semana passada, a nova linha prevê a aquisição, pelos bancos, dos títulos de crédito dos produtores em poder das empresas, como notas promissórias, duplicatas e Cédulas de Produto Rural (CPR). Os bancos emprestarão aos produtores valor igual ao dos títulos, descontado deságio de 9,75%, a uma taxa de juros anual de TJLP menos 1% .
Antônio Wünsch, presidente da Cotrimaio, de Três de Maio (RS), diz que a linha está sendo vista como a “salvação” para os produtores. Ele diz que os bancos estão dispostos a fazer o refinanciamento, mas as indústrias de insumos se recusam a dar o aval, o que está impedindo produtores de obter recursos. “Com a linha do FAT, será possível rolar a dívida com o aval do governo, e não mais das indústrias de insumos”, afirma Wünsch.
Torvaldo Marzolla Filho, presidente do Sindicato da Indústria de Adubos no Rio Grande do Sul (Siargs), confirma o desinteresse das indústrias em avalizar os agricultores. “O prazo de cinco anos é longo e vai comprometer a capacidade de investimento do setor”, diz. Segundo ele, as cooperativas gaúchas renegociam dívida de R$ 3 bilhões, sendo R$ 350 milhões com as indústrias de fertilizantes. Já os agricultores não ligados a cooperativas tentam refinanciar dívidas totais de R$ 300 milhões no Estado. Para Marzolla Filho, o governo precisa socorrer o setor em crises climáticas. Ele não sabe se as empresas aceitarão avalizar os refinanciamentos caso o governo não libere a linha de R$ 1 bilhão.
José Carlos Vaz, gerente-executivo da diretoria de agronegócios do Banco do Brasil, diz que a linha do FAT dará ânimo aos produtores e poderá acelerar a procura por CPRs e letras de crédito do agronegócio (LCA). Esses títulos poderão ser emitidos pelos bancos para refinanciar parte das dívidas. De janeiro até 23 de maio, o banco negociou R$ 1,95 bilhão em CPRs, o dobro que no mesmo período de 2004, e a meta é chegar a R$ 6 bilhões no acumulado do ano, ante R$ 4,5 bilhões no ano passado. Vaz diz que a procura por LCAs também é grande. O BB fez 7 leilões desde março, negociando R$ 73 milhões. A meta do banco é negociar R$ 500 milhões no ano.
Marcelo Michaluá, diretor de finanças da Rio Bravo, concorda que a linha do FAT ajudará a elevar os negócios com os títulos agrícolas, principalmente no segundo semestre, quando há previsão de queda da taxa de juros. Ele observa que os títulos do agronegócio, que hoje oferecem taxas de juros anuais próximas a 24%, concorrem com os títulos públicos, que têm risco menor e taxa de 19,75%.