Da Redação 19/07/2005 – Em 1999, os engenheiros eletrônicos Cleber Rinaldo Manzoni e Clécio Aragão Biscassi decidiram apostar no conhecimento acadêmico como negócio e fundaram, em Catanduva (SP), a empresa de base tecnológica Enalta. Com interesse em apostar no agronegócio mas sem capital para tal, os sócios fizeram uma parceria com a Embrapa Instrumentação Agropecuária para desenvolver um projeto de produção e venda de um sistema de controle de pulverização de defensivos.
“Na época, era impossível ter recurso para fazer a transferência de tecnologia. Desenvolvemos o trabalho com apoio da Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo] e da [incubadora] Parqtec, de São Carlos [SP]”, conta Cleber Manzoni. A Enalta, que começou com um produto, dois sócios e receita anual de R$ 50 mil, hoje emprega 25 funcionários e fatura R$ 750 mil por ano com produtos de irrigação, colheita e pulverização para cana e soja.
A companhia, sediada em São Carlos, é uma das muitas que investiram na transferência de tecnologia da Embrapa para gerar negócios. Atualmente, os royalties recebidos pela Embrapa estão concentrados no segmento de sementes. José Roberto Perez, gerente-geral da Embrapa Transferência de Tecnologia, afirma que, dos 1,5 mil contratos que a estatal mantém com empresas privadas, 98% são em sementes. Ao todo, a Embrapa espera captar em royalties R$ 17 milhões neste ano, ante R$ 12 milhões em 2004. Em 2003, foram R$ 9 milhões.
“A Embrapa tem apresentado crescimento significativo nas parcerias, e a tendência é ampliar esse trabalho com a aprovação pelo Congresso do projeto de lei de inovação tecnológica”, diz Perez. Hoje a Embrapa tem 170 produtos patenteados no Brasil, 89 deles também registrados no exterior. A estatal conta com 66 marcas de produtos no mercado interno e uma no exterior que podem ser produzidas por empresas privadas.
Segundo Ladislau Martin Neto, chefe da Embrapa Instrumentação Agropecuária, a estatal tem feito grande esforço para colocar no mercado uma série de equipamentos desenvolvidos desde a década de 1990. “A Embrapa quer estimular a criação de empresas de base tecnológica e tirar sua tecnologia das prateleiras dos laboratórios de pesquisa”. Segundo ele, a estatal tem 60 pedidos de patente para equipamentos de instrumentação agropecuária. Do total, 13 estão sendo colocados no mercado neste ano via projetos de transferência de tecnologia com empresas privadas.
Até agora, oito equipamentos – entre eles o sistema de língua eletrônica para análise de bebidas, o extrator de amêndoas de frutas da Amazônia e um detector precoce de morte súbita dos citros – já encontraram parceiros comerciais. Em agosto, a Embrapa deverá abrir edital, por meio do Ministério de Ciência e Tecnologia, para buscar parceiros para outros cinco projetos.
A Agri-Tillage do Brasil – dona da marca Baldan e com faturamento de R$ 200 milhões por ano – e a Gil Equipamentos Industriais, de Ribeirão Preto (SP), que fatura R$ 6 milhões por ano, são duas das empresas que neste ano fecharam parceria para produzir tecnologias da Embrapa.
A Gil produz quatro equipamentos agrícolas desenvolvidos pela estatal e pretende criar um projeto de negócios para comercializar mais dois produtos – um aparelho de ressonância magnética para medir o teor de gordura em alimentos e um equipamento portátil para serrar madeira. Marcos Antonio de Oliveira, diretor da companhia, afirma que o trabalho com a Embrapa começou em 1992 e o interesse é fechar novas parcerias.
Já a Agri-Tillage iniciou parceria com a Embrapa há dois anos e planeja lançar neste semestre, no Brasil, e em países da América Latina e da África, um sistema de distribuição de calcário criado pela Embrapa. O diretor industrial Sylvio Ferreira não tem previsão do volume de vendas do sistema, mas confia na alta tecnologia e no baixo custo do sistema. “É um equipamento que agrega valor à marca da empresa, além de elevar seu perfil tecnológico”, acredita Ferreira.