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Crise sanitária

Analistas descartam contágio em ações de Sadia e Perdigão após episódio da febre aftosa.

Da Redação 17/10/2005 – Há um grupo de analistas mais céticos em relação aos reflexos que o episódio da febre aftosa pode provocar em algumas ações de empresas de alimentos, basicamente Sadia, Perdigão e também Avipal. Mas a grande maioria não enxerga a menor chance de contágio dos papéis dessas empresas pelos embargos a carne de algumas regiões do país.

Marcos Pereira, da Corretora HSBC, diz que o forte da receita dessas empresas é a carne de aves e, por isso, elas nada devem sofrer com o episódio. Sadia e Perdigão, lembra, têm cerca de 50% da receita proveniente da venda de carne de aves. E ele acha pouco provável que os embargos a outras carnes além da bovina sejam significativos. Pereira, porém, está revendo o preço das ações dessas empresas. “Não por conta do evento febre aftosa, mas sim porque essas empresas já estão sendo cotadas hoje muito próxima do nosso preço alvo”. Ele não adianta qual a recomendação que em breve soltará para os papéis. Diz apenas que espera os resultados do terceiro trimestre serem divulgados para então tornar pública sua recomendação para as ações de Sadia e Perdigão.

Este ano, as ações PN da Perdigão acumulam valorização de 15% e os papéis PN da Sadia exibem no mesmo período uma perda de 4%. As ações da Avipal apresentam uma perda de 9,8%. No mesmo período a variação do Ibovespa foi de 14%.

A recomendação de Marcelo Kawassaki, analista da Fator Corretora é de manutenção dos papéis da Sadia e Perdigão. Para as ações da Sadia ele projeta preço de R$ 6,75, que, se confirmado, embute uma alta de quase 20%. Para as ações da Perdigão o preço alvo projetado por Kawassaki é de R$ 79,62, o que sinaliza também um potencial de alta de 20%. Já para a Avipal, a recomendação é de venda. A ação, diz, tem um preço alvo de R$ 7,64 por lote de mil, ou seja, ele já não enxerga potencial de alta que justifique o investimento, uma vez que o papel foi negociado na sexta muito próximo a esse preço, a R$ 7,45.

Kawassaki faz parte do grupo dos analistas mais céticos. Segundo ele, a reação da Rússia foi menos drástica do que a esperada. A julgar pelo que ocorreu em junho de 2004 , quando foi anunciado um foco de aftosa no Pará, a expectativa era de que a reação russa viesse nas mesmas proporções da época, quando o país restringiu as exportações de quaisquer tipos de carnes de todo o país. Esse embargo durou até fevereiro deste ano. Apenas Santa Catarina escapou do embargo russo na época, porque é o único Estado brasileiro com certificado de área livre de febre aftosa.

“Entramos em contato com as empresas e elas não esperam que a Rússia estenda as proibições a outros Estados, o que poderia ser bastante prejudicial às suas operações, já que a Rússia representou até agosto 11% das exportações de aves e 64% das exportações de suínos brasileiros”. Mas Kawassaki observa que as decisões russas são voláteis e nada impede que o país proíba exportações de carnes de outros Estados a qualquer momento.

O clima continua negativo na avaliação de Kawassaki. Ele ressalta pontos que causam um impacto negativo nos papéis de Sadia, Perdigão e Avipal, mesmo que as exportações não sejam afetadas no curto prazo. “O evento expôs o dilema que o setor convive, no qual o governo federal e o Ministério da Agricultura não estão se entendendo na questão de verbas a serem liberadas”. O segundo ponto analisado por Kawassaki é a pressão altista da soja decorrente de uma safra americana menor que a prevista, que pode elevar custos de produção. Sadia e Perdigão anunciaram a entrada no mercado bovino neste ano, apenas para exportações.