Redação (08/02/2008)- O Sindicarnes-SC, sindicato que representa as indústrias de carnes de Santa Catarina, está negociando para que a missão russa que deve vir ao Brasil nas próximas semanas para inspecionar 43 frigoríficos já pré-selecionados para exportação de carnes visite o maior número possível de frigoríficos de suínos Estado, que está sem vender carnes aos russos há mais de dois anos.
"A idéia é incluir suíno no roteiro do boi", diz o diretor-executivo do Sindicarnes-SC, Ricardo Gouvêa. "Estamos conversando com o Ministério da Agricultura, que está em contato com os russos, para que eles venham ver suínos. A informação que tive foi que eles estariam no país ainda neste mês de fevereiro", acrescenta. A data não está confirmada.
A lista de frigoríficos que saiu em janeiro, com 43 nomes, deixou de fora Santa Catarina, principal Estado produtor de suínos. Os russos, responsáveis pela listagem, priorizaram a carne bovina e incluíram seis estabelecimentos de carne de São Paulo, cinco de Minas, dois de Tocantins, dez de Mato Grosso do Sul, quatro do Paraná, seis do Rio Grande do Sul, quatro de Goiás, cinco do Mato Grosso e um de Rondônia.
Os russos fizeram a escolha dessas plantas ainda que desde 1º de dezembro tenham oficialmente retirado o embargo à produção de Santa Catarina, São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Amazonas e sul do Pará, depois de reconhecer que a situação de risco sanitário para produção animal nesses Estados mudou. Para Gouvêa, a manutenção de embargo russo aos suínos, sem seleção de qualquer planta industrial catarinense, é mais uma questão de abastecimento. "Devem estar conseguindo comprar suínos de outros locais", afirma.
Embora o Estado esteja com negociações em andamento para vender para outros mercados, essas vendas ainda não começaram. Santa Catarina está em negociação com China, Japão e Chile, e já recebeu visitas de técnicos dos três países. "Estamos insistindo com os russos porque temos um bom padrão de qualidade".
As novas tentativas de acordo com os russos são ainda mais relevantes se levado em contato o contexto do mercado, depois que a lista de cerca de 2,6 mil fazendas de boi apresentadas pelo Brasil à União Européia, como aptas a realizar exportação ao bloco, foi negada pelos europeus. O volume de carne bovina que antes seria para a UE agora está sendo redirecionado ao mercado interno. O movimento já reduz preços na cadeia bovina e poderá afetar todas as carnes, inclusive a suína no mercado nacional. Desde a semana passada, entretanto, o suíno resiste e não há alteração no preço. De acordo com o Sindicarnes-SC, o quilo está em R$ 2 para o suinocultor integrado à agroindústria, embora o mercado estime queda entre R$ 0,10 e R$ 0,15 para os próximos dias.
Wolmir de Souza, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), teme conseqüências para a suinocultura. "No desespero do embargo europeu, ainda que ele deva ser de curto prazo, produtores de boi podem vender logo para não perder mais dinheiro". Segundo ele, há risco de agravamento da situação da suinocultura pelo maior volume de carnes no mercado interno. "Mas por enquanto nenhuma empresa cancelou compras de suínos e o recuo de preços previsto ainda é especulação".
Segundo o produtor independente de suínos, Gervásio Zanella, de Águas Frias, no oeste catarinense, há comentários de queda por conta do volume de carne bovina no mercado interno, mas isso ainda não ocorreu na prática. Ele afirma que as agroindústrias continuam comprando e o preço está estável em R$ 2,35 para o produtor independente. Zanella, que tem na engorda 10 mil suínos, segue à espera da abertura russa.
Para a Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc), todo o mercado de carne começará em breve a ser afetado com a queda no preço por conta do embargo da UE. "A carne bovina é a preferida do brasileiro e, quando barateia, derruba o consumo das outras carnes", acredita Enori Barbieri, vice-presidente da Faesc.