Redação (O ex-ministro da Agricultura e atual vice-presidente e diretor de operações do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (Brde), Francisco Turra, vai trocar a vida pública pelo setor privado. Ele confirmou na sexta-feira passada que vai deixar o banco de fomento pela presidência da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef). Ele planeja dedicar as próximas semanas ao seu desligamento da instituição financeira para assumir o novo posto no início de abril.
À frente da entidade, ele terá o desafio de representar o setor em negociações importantes para a conquista e prospecção de novos mercados, assim como intermediar conversações entre as indústrias e os governos federal e estadual.
Em tempos de rigor sanitário da União Européia, Turra também prevê uma atenção aos cuidados com a sanidade da avicultura brasileira, que mobiliza mais de 1,3 milhão de famílias de produtores e deve exportar US$ 6 bilhões neste ano.
Qual será a sua missão à frente da Abef?
Francisco Turra – Uma das minhas missões é resolver um problema de cotas de exportação que nós ganhamos num contencioso com alguns países (na Organização Mundial do Comércio). Também manter a sanidade em níveis os melhores possíveis para conquistar mercados, para que não tenhamos nenhuma surpresa, já que estamos presentes em 163 mercados do mundo. Há também a manutenção de um padrão de qualidade cada vez mais exigido pelos mercados. Temos que ir trabalhando e capacitando o próprio agricultor. Temos que fazer esse link com as empresas junto ao governo federal e também junto aos governos dos estados para que possamos continuar nesse desenvolvimento sustentável, respeitando regras da OIE (Organização Mundial de Sanidade Animal). Uma outra questão importante é manter e ampliar a abertura de mercados exterior.
Quais mercados estão na mira?
JC – Nas últimas semanas, os exportadores da carne bovina vêm tendo trabalho com o rigor sanitário da União Européia. Há um temor de que isso também possa ocorrer com a avicultura brasileira?
Turra – A gente não pode deixar que aconteça. Temos que agir proativamente, tomando medidas que se ajustem ao gosto dos consumidores. Porque a maior fria do mundo é a gente dizer arrogantemente que não deve explicação a ninguém. Hoje, quem manda no comércio mundial é o consumidor. E temos que nos adequar à sua vontade e as exigências sanitárias e de qualidade.
Que medidas podem ser adotadas?
Turra – Por exemplo: continuar capacitando fortemente os agricultores e exigindo que o governo, principalmente a Secretaria de Defesa Agropecuária (órgão do Ministério da Agricultura), possa responder sempre a todos os questionamentos que venham da OMC ou de países que conosco se relacionam. O que aconteceu com a carne bovina é que muitos questionamentos que vieram foram ignorados.
JC – O setor deve cobrar do governo federal políticas para compensar questões como a alta dos insumos e a valorização do dólar?
Turra – Por enquanto, o produtor vive a crise da desvalorização do dólar. E também da alta dos insumos. Ou seja, tem que haver uma política para estimular, por exemplo, o plantio de milho, que é o principal componente da ração avícola. E tem que haver uma regulação, não pode ter períodos de baixos estoques. O governo tem de promover políticas para estimular o aumento da produção brasileira. Resolver também esses detalhes da importação de milho, mesmo que seja transgênico, que é o único disponível no mercado. (Atualmente há restrições no Brasil à compra para fins comerciais de milho geneticamente modificado).
Ao convidá-lo para a presidência, a Abef seguiu o exemplo de entidades como a Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), que são comandadas, respectivamente, pelos ex-ministros Pratini de Moraes e Odacir Klein. Por que essas entidades estão buscando executivos no setor público?
Turra – Porque cada um viveu profundamente a sua experiência. Por exemplo, no meu caso, de ministério e de Conab, eu vivi intensamente essa experiência da organização da agricultura brasileira. Essa experiência é um patrimônio interessante para que hoje a gente possa implementar na prática. Acho isso normal, saudável.