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Criadores de avestruz podem ter mais problemas

A preocupação agora é a falta de mercado para 40 toneladas de carne da ave.

Redação (05/03/2008)- Mais de dois anos depois do fechamento da Avestruz Máster, os mais de 900 investidores que fazem parte da Associação dos Criadores de Avestruz do Triângulo Mineiro (Acatrim) ainda lutam para tentar conseguir o ressarcimento dos investimentos. O problema dos estrutiocultores agora é a comercialização da carne no Brasil e no exterior. Os brasileiros não têm o hábito de comer a carne da ave e, para exportar, é preciso conseguir incorporar a carne de avestruz no Plano Nacional de Controle de Resíduos em Produtos de Origem Animal (PNCR), assim como está ocorrendo com a carne bovina.

Enquanto não conseguem comercializar a carne das aves que já foram abatidas desde que a Acatrim assumiu o comando das fazendas da região, a associação segue amargando prejuízos com a estocagem de cerca de 40 toneladas, o equivalente a 1,4 mil avestruzes. Para armazenar essa quantidade em câmaras frias, a associação paga em média R$ 5 mil, por mês, para a empresa Brasfrigo, que fica em Luziânia (GO). "Hoje a estocagem é o nosso maior custo. Estamos estocando porque não conseguimos vender essa carne, pois o mercado interno não consome e não podemos exportar", declarou.

De acordo com o presidente da associação, a carne de avestruz pode ser armazenada por até dois anos. Por isso existe uma preocupação quanto à liberação das exportações ou o aumento das vendas internas, já que a carne das primeiras aves abatidas começa a vencer no fim deste ano. "Nós já precisamos vender o estoque dos primeiros abates, nem que seja mais barato, para não perdermos", completou.

Somente com a incorporação da carne de avestruz no PNCR é que os criadores vão conseguir exportar a carne e os miúdos in natura para os países da União Européia, que é um dos maiores consumidores mundiais. "Infelizmente nós temos que ter o cliente para comprar. A nossa grande expectativa realmente é a liberação da exportação, pois lá fora já existe o hábito de comer a carne de avestruz, diferentemente do Brasil, onde isso ainda precisa ser trabalhado", explicou o presidente da associação, Guilherme de Souza.

Além do PNCR, a União Brasileira de Avicultura também elabora um programa de rastreabilidade, que consiste em implantar o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Avícola (Sisavi) para aves destinadas à produção de carne e produtos derivados. Segundo Guilherme, estes processos não são rápidos. "Já estão sendo feitas as análises, incclusive tivemos algumas reuniões em Brasília. Nossa expectativa é que isso fique pronto até o fim deste ano", disse.

Associação

A Acatrim nasceu alguns meses antes da crise que se iniciou em novembro de 2005. Dos 2.759 investidores, hoje pouco mais de 900 são filiados, sendo que nem todos contribuem mensalmente para a manutenção da organização. A mensalidade custa R$ 20 por associado e gera cerca de R$ 10 mil por mês que são utilizados para pagar as despesas de contabilidade, custos jurídicos e a estocagem da carne, além de ajudar na manutenção das 330 matrizes de elite e da única fazenda que restou. Uma das propriedades foi vendida para custear o plantel, que está na Fazenda Sobradinho, próxima ao Distrito Industrial. Para agregar mais criadores da ave no Estado e se fortalecer no mercado, a Associação dos Criadores de Avestruz do Triângulo Mineiro (Acatrim) está passando por um processo de migração para Cooperativa de Avestruz do Triângulo (CAT). Junto a esse processo, a cooperativa está criando o grupo Bravest, que vai oferecer três marcas, a Nobless, para venda de carne; a Kouros, para o couro; e a Elegance, para as plumas. O grupo espera atender aos mercados interno e externo. Sócios são condenados a ressarcir investidores

A dissolução das empresas

Struthio Master Avestruz Ltda. e JRF Avestruzes Ltda., conhecidas como Avestruz Máster, foi decretada pela Justiça de Uberlândia, na sexta-feira da semana passada. Os sócios da empresa Jerson Maciel da Silva, Ramires Tosati Júnior, Fabrício Silva Ferreira Tavares e Elisabete Helna Maciel da Silva Almeida foram também condenados pela Justiça de Uberlândia ao ressarcimento dos consumidores que investiram na compra de avestruzes fornecidas pela empresa. As duas empresas e seus sócios também não poderão celebrar negócios mobiliários sem autorização do órgão competente. Mas ainda cabe recurso a esta decisão. "Para nós, essa sentença não muda nada no dia-a-dia, pois somos nós que estamos tratando das aves e cuidando da administração de tudo", explicou o presidente da Acatrim, Guilherme de Souza.

Jerson Maciel da Silva morreu no fim de fevereiro, mas as pendências jurídicas serão respondidas por seus sócios. O Ministério Público Estadual baseou-se no relatório da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que apontou irregularidades na gestão do grupo e também na forma de comercialização das avestruzes. A Justiça levou em consideração que foi prometido aos clientes um lucro mensal de cerca de 10%, em investimentos que variavam de R$ 1 mil a R$ 50 mil. Além disso, segundo a Promotoria de Justiça, nem o empreendimento nem os sócios tinham autorização para operar no mercado financeiro.

Caso
Com cheques sem fundos nas mãos e Cédulas de Produto Rural (CPRs) vencidas – papéis vendidos aos investidores em troca de rendimentos de até 10% ao mês – os credores de todo o País correram para a porta da sede da Avestruz Máster, em Goiânia, e, em sua filial, em Uberlândia, no dia 4 de novembro de 2005. Fornecedores, franqueados e investidores cobravam uma dívida inicialmente calculada em R$ 6 milhões. 

O dono da empresa Jerson Maciel e seus sócios desapareceram por quase 15 dias até se apresentar à Polícia Federal. Logo depois, mais credores buscaram reaver o dinheiro investido. O colapso financeiro foi inevitável. Aves morreram e a Máster acumulou um passivo estimado em R$ 1,7 bilhão. O patrimônio da empresa alcança hoje R$ 60 milhões, entre imóveis, fazendas, veículos e um helicóptero. Esse volume de recursos, no entanto, é irrisório perto do passivo.

A Avestruz Máster tinha cerca de 56 mil credores entre pessoas físicas e jurídicas. Estima-se que a dívida da empresa seja de aproximadamente R$ 40 milhões com os 2.759 investidores do Triângulo Mineiro. Cerca de 80% deste montante possui menos de três aves, o que corresponderia a R$ 5 mil.