Redação (14/05/2008)- O Brasil avisou aos EUA que quer uma solução imediata para o corte de tarifas sobre o etanol num acordo da Rodada Doha, disse ontem o embaixador brasileiro junto a Organização Mundial do Comércio (OMC), Clodoaldo Hugueney.
"Já dissemos aos EUA que isso deve ser resolvido o mais rápido possível", reiterou ele, na véspera de uma reunião em Roma entre o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e a principal negociadora comercial dos EUA, Susan Schwab, para discutir a rodada.
Washington rejeita cortar a tarifa de importação de US$ 0,54 por galão de etanol, alegando que não se trata de alíquota, mas de "outras taxas". Na prática, se essa posição prevalecer, o etanol seria o único produto excluído de liberalização num acordo de Doha. É um cenário inaceitável para o o governo Lula, que fez do produto um dos eixos de sua política externa.
Para fontes do setor privado, a "briga do momento" é mesmo sobre o etanol, e o caminho natural é o produto se transformar num contencioso entre Brasil e EUA.
"Será um processo demorado, até porque toma tempo avaliar os argumentos legais, e o Itamaraty demora muito para tomar decisões, mas vai acabar virando um contencioso", avalia uma fonte do agronegócio.
Já o embaixador Hugueney vê como especialmente problemático hoje a lei agrícola americana para os próximos cinco anos, negociada entre os líderes do Congresso na semana passada, que eleva para US$ 300 bilhões os gastos no setor, aumentando as subvenções até para a produção de etanol.
A Casa Branca ameaça vetar a Farm Bill, mas o secretário americana de Agricultura, Ed Schafer, reconheceu que a administração Bush enfrentará uma situação "penosa" para manter um veto presidencial nesse caso.
O Brasil quer saber de Schwab se os EUA vão ou não se comprometer com corte profundo de subsídios internos para ter um acordo em Doha. Por sua vez, o agronegócio brasileiro indicou ao Itamaraty que apóia um acordo na OMC, mas que o ministério deve brigar por mais ambição agora que os preços das commodities estão altos no mercado internacional.
Avalia que o Brasil não pode perder a oportunidade dos preços altos, que significam menos subsídios e maior demanda externa, para tentar arrancar mais concessões dos importadores. Mas, como um negociador lembra, quem quer concessão tem de pagar também.