Redação (09/06/2008)- Os municípios de Vitória de Santo Antão (Zona da Mata Sul) e Bom Conselho (Agreste Meridional) vivem um momento de euforia econômica com a chegada da Sadia e da Perdigão. Rivais no mercado de alimentos, os grupos decidiram trilhar o caminho em direção ao Nordeste, instalando seus primeiros complexos industriais na região. A estratégia de desembarcar por aqui, num mesmo momento, não é uma coincidência. O aumento do poder de consumo do nordestino estimulou o apetite das duas companhias. A Sadia está investindo R$ 250 milhões em Vitória para erguer uma fábrica de embutidos, que vai fabricar salsicha, mortadela e lingüiça para abastecer o Nordeste. A unidade, com previsão de inauguração para o primeiro trimestre de 2009, vai gerar 1.500 empregos diretos. O burburinho na cidade é grande na expectativa pelos empregos e pelas oportunidades de negócios geradas pelo empreendimento. Só no canteiro de obras trabalham 500 profissionais, dos quais 95% são do município.
Desempregado há dois anos, Paulo Francisco de Barros Filho, 26 anos, pediu uma oportunidade na obra e foi atendido. Em fevereiro foi contratado pela Viero – empresa gaúcha responsável pela construção civil da Sadia. “Comecei como servente e fui promovido a auxiliar de escritório”, comemora, dizendo que também vai se candidatar a uma vaga na fábrica. O empresário Juca Brol também foi beneficiado pela chegada da Sadia. Instalado em Vitória há 8 anos com o restaurante Carnes & Galletos, as negociações para fornecer refeições aos operários no canteiro de obras aconteceram depois que executivos da Viero foram almoçar em seu restaurante. “Eles gostaram da comida e nos perguntaram se teríamos condições de fornecer. Começamos vendendo quentinhas debaixo de uma árvore na fase da terraplenagem. Hoje, fornecemos para o refeitório da Viero no canteiro de obras”, conta. Brol teve que contratar 13 pessoas para dar conta de entregar 277 refeições no café da manhã e outras 360 no almoço. O prefeito de Vitória, Demétrius Lisboa, diz que a vinda da Sadia está atraindo o interesse de outras empresas para a cidade. “Estamos recebendo consultas de pedidos de terrenos”, afirma.
Um dos empreendimentos que estão se instalando na esteira da Sadia é o laboratório Avipa (Avicultura Integral e Patologia Animal). “Na próxima terça-feira (10/06), vamos receber a visita de empresários de uma indústria de plásticos que já é parceira da Sadia em outros Estados”, adianta o secretário de governo, Jaime Lima.
Perdigão – O caso da Perdigão poderá ser ainda mais emblemático para Bom Conselho – município onde 62,4% da população tem renda média de até um salário mínimo. O investimento de R$ 280 milhões num complexo alimentício, que inclui uma fábrica de lácteos, uma unidade de embutidos, um centro de distribuição e uma Fazenda Modelo é dez vezes maior que a receita anual da cidade, estimada em R$ 25,6 milhões. O diretor de Relações Institucionais da Perdigão, Ricardo Menezes, lembra que a empresa atua como agente econômico e social nas regiões onde atua. Um exemplo é a unidade de Rio Verde, em Goiás, que se transformou em referência em cadeia produtiva do agronegócio no Brasil. “Quem chega a Bom Conselho já percebe as mudanças na cidade. Os impactos estão no mercado imobiliário, no comércio e no setor de serviços”, observa. Com apenas dois hotéis e sem conseguir abrigar os técnicos, funcionários e fornecedores da Perdigão, Bom Conselho precisa do socorro de Garanhuns para garantir hospedagem aos visitantes. “Na tentativa de minimizar essa carência vamos investir na construção de um prédio com 24 apartamentos para nosso pessoal”, adianta Ricardo Menezes. A Perdigão também está atraindo seus fornecedores para se instalar em Bom Conselho. Empresas como a catarinense Videplast – fabricante de embalagens plásticas – e a paulista Orsa – especializada em embalagens plásticas e cartonadas – estudam a implantação de unidades no município.
As prospecções também acontecem no sentido inverso, com empresários de Bom Conselho viajando para regiões onde a Perdigão está instalada em busca de oportunidades de negócios. Um grupo liderado pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) local visitou recentemente a unidade de Rio Verde, em Goiás.