Redação (30/06/2008)- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncia esta semana sua aposta para a queda dos preços dos alimentos a partir do próximo ano, apesar dos indicativos de que o setor de fertilizantes ainda pressionará os custos da produção agrícola: o novo plano de safra com R$ 78 bilhões que serão distribuídos entre os grandes produtores e o segmento da agricultura familiar, responsável pela produção dos principais produtos que pesam nos índices de inflação. O governo considera que o choque de oferta de alimentos, associado à continuidade do processo de alta dos juros pelo tempo que o Banco Central considerar necessário, trará a inflação para o centro da meta de 4,5%, no próximo ano.
A nova safra começa em setembro e, até lá, não faltarão recursos para o plantio e comercialização. Um total de 65 bilhões de reais serão repassados a médios e grandes produtores, como já adiantou o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Trata-se de um incremento de 7 bilhões em relação aos 58 bilhões de reais que financiaram a safra atual de 2007/2008. Em relação à agricultura familiar, o governo injetará 1 bilhão em novos recursos, garantindo uma soma de 13 bilhões de reais. "O presidente vai surpreender a todos com o anúncio da nova safra", disse um assessor do Palácio do Planalto.
A aposta é que a maior oferta de alimentos possibilitará um recuo no preço e, portanto, menor pressão inflacionária. Apesar da escalda do preço do petróleo e de outras fontes de pressão sobre a inflação – como o ainda elevado níveis de consumo doméstico – persiste entre os auxiliares de Lula a convicção de que a maior parte da inflação é provocada pelos produtos alimentícios, tese também defendida pelo Ministério da Fazenda.
A tentativa do choque de oferta de alimentos, no entanto, deve ser acompanhada de uma política monetária ainda restritiva nos próximos meses, segundo uma fonte do governo. "Diante do cenário atual, o BC ainda continuará envenenando o mercado", como definiu um assessor ao se referir ao movimento de alta das taxas de juros (taxa Selic), atualmente de 12,25% ao ano.
Alguns itens do plano de safra são conhecidos porque, desta vez, o Ministério da Agricultura não enfrentou a resistência da Fazenda na definição dos recursos para safra. "O discurso do Mantega é agrícola", comemora Stephanes. Nos últimos anos, quando a oferta de grãos excedia a demanda, os embates entre Fazenda, Agricultura e Desenvolvimento Agrário eram comuns. Mas esse cenário mudou diante do impasse provocado pela alta dos preços dos alimentos. Entre as medidas já definidas está a ampliação da produção de excedentes exportáveis para reforçar o saldo comercial do País.
Com a liberação de mais recursos e a correção dos preços mínimos – que servem de base para as políticas de apoio à comercialização – o governo quer colher uma safra superior a 150 milhões de toneladas. Parte desse esforço caberá à agricultura familiar, responsável por dois terços da produção dos 150 produtos medidos pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo. O governo dará mais dinheiro aos pequenos agricultores, mas exigirá que eles aceitem avanços tecnológicos que serão oferecidos pela Embrapa. A meta é garantir nesse segmento um aumento de 18 milhões de toneladas de produção até 2010, principalmente em leite, milho, feijão, arroz, mandioca, trigo, aves, café, frutas, arroz e cebola.