Distribuidoras de gás natural e produtores de biogás já mapearam 27 novas plantas de biometano com potencial de conexão à rede de gasodutos nos próximos anos, no país.
O levantamento foi feito pelo grupo de trabalho conjunto formado pela Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) e pela Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), em maio, com o objetivo de desenvolver o uso do combustível renovável pelas concessionárias estaduais.
A expectativa das associações é que a produção nacional de biometano atinja os 2,2 milhões de m³/dia até 2027. Desse total, 1,3 milhão m³/dia deve vir do biogás produzido no setor de saneamento (como aterros sanitários). O segmento sucroenergético, por sua vez, deve responder por 700 mil m³/dia e o segmento agroindustrial por mais 200 mil m³/dia.
São Paulo, com 15 plantas, é o estado com mais projetos novos, seguido pelo Rio Grande do Sul (6). Há projetos novos mapeados também no Rio de Janeiro, Pará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Amazonas.
O diretor de Estratégia e Mercado da Abegás, Marcelo Mendonça, acredita que, daqui a dois anos, na próxima grande janela de contratação de molécula por parte das distribuidoras, a participação do biometano já será consideravelmente maior no país — e ajudará as concessionárias estaduais a diversificar o portfólio de suprimento.
Para além das 27 novas unidades de biometano já mapeadas no curto prazo, segundo ele, a produção nacional avançará ainda mais nos próximos cinco a dez anos.
Mendonça destaca que o Brasil sequer produz, hoje, 1% do seu potencial — da ordem de 100 milhões de m³/dia.
“Atualmente, produzimos 400 mil m³/dia e injetamos na rede aproximadamente 100 mil m³/dia. É muito pouco. Mesmo levando em consideração que esse potencial de 100 milhões de m³/dia inclui áreas onde a produção e o escoamento de biometano seria muito difícil. Se conseguirmos viabilizar 20% disso, será uma grande conquista, que mudará o panorama da distribuição de gás no país”, disse à agência epbr.
Biometano em veículos pesados
Mendonça, contudo, não acredita que todas as usinas de biometano serão, necessariamente, conectadas à rede das distribuidoras.
Ainda segundo o executivo da Abegás, seria um desperdício, para o país, ignorar o potencial de uso do produto na frota de veículos pesados, como caminhões e ônibus — que independe, muitas vezes, da interligação entre a planta de biogás e a rede de gasodutos.
“Precisamos agregar novos mercados. A nossa estimativa é de que a utilização de 30 milhões de m³/dia de biometano para substituir o diesel utilizado por esses veículos, faria o Brasil economizar de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões por ano em importações [de diesel]”, comentou.
A substituição do diesel por biometano já é feita com sucesso em Estocolmo (Suécia) e em Los Angeles (EUA), onde os ônibus urbanos utilizam apenas o gás renovável.
“É importante introduzir o biometano nas políticas públicas. Essa substituição, por exemplo, reduziria em muito a nossa dependência do diesel importado e certamente teria um impacto muito positivo nos preços”, concluiu.