Camarão, picanha e cerveja são só alguns dos alimentos apreendidos pela Polícia Federal e Receita Federal que a usina de Itaipu Binacional transforma em biometano, um combustível que pode substituir gasolina e diesel em veículos leves e pesados.
Desde 2017, o Centro Internacional de Biogás (CIBiogás), que opera na hidrelétrica, desenvolve projetos para gerar este tipo de combustível a partir de material orgânico, como sobras de comida do restaurante que atende os funcionários da estatal e mercadorias apreendidas na Tríplice Fronteira, como cacau, chiclete, bebidas energéticas, cigarro e cargas de soja, milho e farelo usadas para esconder drogas.
A planta, que é um dos muitos braços da estatal que realizam atividades paralelas à geração de energia hidrelétrica, tem capacidade para transformar até 9 toneladas de mercadorias diariamente, mas, em média, recebe 1,5 tonelada por dia. Biodigestores, isto é, bactérias, são inoculadas nos rejeitos orgânicos para fazer a decomposição e transformar a massa em biogás, que é composto por gases metano (entre 50% e 70%) e carbono (30% a 45%).
Na última etapa, o biogás é purificado, ou seja, o dióxido de carbono (CO²) é retirado para que se obtenha biometano com um grau de pureza entre 94% e 98%. A partir de 500 kg de matéria orgânica é possível obter entre 150 e 180 metros cúbicos de biometano.
Embora não seja o caso desta planta, o dióxido de carbono que resulta da purificação do biometano também poderia ser explorado comercialmente, por exemplo, para o abate “humanizado” dos animais, sobretudo suínos, e na indústria alimentícia para a adição do CO² em refrigerantes e cervejas.
O próprio biometano produzido na estatal também não é explorado do ponto de vista comercial. “O papel desta planta é atrair tecnologia, conhecimento, desenvolver e reproduzir para o mercado”, explica Rafael Gonzalez, diretor e presidente da CIBiogás.
O setor do biometano é promissor, de acordo com a ABiogás (Associação Brasileira de Biogás), já que o gás é um combustível que poderia garantir uma oferta energética a preços estáveis, uma necessidade no atual cenário de alta nos preços de gás natural e derivados do petróleo.
Recente levantamento do potencial de produção de biogás no Brasil feito pela associação aponta um volume de 121 milhões de Nm3 (metro cúbico normal, ou seja, em condições de pressão e temperatura previamente estabelecidas) por dia, contra 137 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural de origem fóssil, que são produzidos atualmente.
Segundo a associação, essa quantidade de biogás seria suficiente para substituir 70% do consumo de óleo diesel por caminhões e ônibus no país e reduziria em 96% as emissões de CO², o que inclusive aproximaria o Brasil das metas de descarbonização previstas pela COP-26, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima realizada em novembro passado em Glasgow, na Escócia.
Hidrogênio verde
A produção de biometano não é o único projeto de Itaipu para a geração de energia de fontes alternativas. Outro programa da estatal é a pesquisa para produzir hidrogênio verde a partir da energia hidrelétrica da usina. Por meio da eletrólise, uma descarga elétrica quebra a molécula da água (H²O), liberando hidrogênio, de forma limpa.
As aplicações práticas do hidrogênio “solto” vão de combustível para foguetes à construção de bombas, até finalidades industriais, como a hidrogenação (adição de hidrogênio) da manteiga e empregos na indústria farmacêutica, produção de amônia e fertilizantes.
O projeto de geração de hidrogênio verde da estatal não tem finalidade comercial, mas é um programa de pesquisa que, desde dezembro de 2014, quando foi lançado, já formou mais de 30 estudantes universitários e engenheiros.