O CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, anunciou nesta quarta-feira (20) que a gigante francesa do varejo se compromete a não comercializar carne proveniente do Mercosul, bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A decisão, comunicada por meio de uma carta publicada nas redes sociais de Bompard, ocorre em meio a protestos de agricultores franceses contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.
O Carrefour França ainda não esclareceu se a medida se aplica a todas as lojas europeias ou apenas às operações francesas. Já o Grupo Carrefour Brasil afirmou que a decisão não altera suas operações no país, que continuarão comprando carne de frigoríficos nacionais.
Reações no Brasil
A declaração gerou críticas do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e de associações do setor. O Mapa reafirmou a qualidade e sanidade das carnes brasileiras, ressaltando que o país cumpre rigorosos padrões internacionais e abastece o mercado europeu há mais de 40 anos. Além disso, destacou o compromisso com a rastreabilidade e sustentabilidade, inclusive com propostas apresentadas à União Europeia para adequação ao Regulamento de Desmatamento (EUDR).
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) lamentou a postura do Carrefour, considerando-a contraditória para uma empresa que opera 1.200 lojas no Brasil abastecidas principalmente por carne nacional. A Abiec alertou que a produção local da França não é suficiente para atender à demanda interna, o que pode impactar os negócios do grupo.
Já a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) classificou o anúncio como uma medida protecionista disfarçada de preocupação com padrões de qualidade. Em 2023, o Brasil respondeu por 27% das importações de carne bovina da União Europeia, enquanto o Mercosul foi responsável por 55%.
Contexto do mercado
O anúncio do Carrefour ocorre semanas após a Danone enfrentar polêmica semelhante, quando um executivo afirmou que a empresa havia deixado de importar soja brasileira. A declaração foi posteriormente desmentida pelas operações locais da companhia.
Essas movimentações empresariais coincidem com a proximidade da implementação da nova legislação ambiental da União Europeia, que visa restringir a importação de produtos oriundos de áreas desmatadas. Apesar do início previsto para dezembro deste ano, a regra foi adiada para 2025.
Impacto no Acordo Mercosul-UE
Especialistas avaliam que as decisões recentes podem dificultar as negociações para a ratificação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. O Mapa acredita que esses anúncios refletem interesses protecionistas e garantiu que não aceitará ações que desmereçam a qualidade dos produtos brasileiros.
A declaração de Alexandre Bompard, por sua vez, reforçou um apelo aos setores de alimentação fora do lar na França para que sigam o exemplo do Carrefour e priorizem carnes de origem local.
Resposta brasileira
O Brasil, maior exportador mundial de carne bovina e de aves, mantém parcerias comerciais com cerca de 160 países. Em meio à controvérsia, o governo e as associações do setor reiteraram o compromisso com uma produção responsável e de alta qualidade, destacando a importância do agro brasileiro para a segurança alimentar global.