A primeira experiência profissional que eu tive com a Nanotecnologia, foi quando o diretor de Novos Negócios de uma multinacional no Brasil, onde queríamos desenvolver um produto eficaz para o controle de formigas no mercado Florestal. Essa praga é o principal problema das florestas plantadas no Brasil, e os ativos que ainda funcionavam eram muito antigos e alguns com problemas de toxicologia e não permitidos para alguns países importantes e restringidos por certificações importantes nesse mercado, como o FSC, dentre outros.
O princípio ativo em questão era muito eficaz para as formigas, a tal ponto que o efeito dele era imediato e isso não fazia com que o produto fosse levado até o formigueiro, e precisávamos que sua liberação fosse lenta e ocorresse apenas dentro do formigueiro para que pudesse atingir o maior número de indivíduos. Tentamos fazer por métodos tradicionais,, mas mesmos as formulações mais modernas que ajudam nesse “slow-release” não foram satisfatórios.
O melhor resultado que tivemos na época foi desenvolvido por um grupo de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos, por meio do Dr. Valtencir Zucolotto e sua equipe na área de Nanotecnologia. Os efeitos foram bastante promissores e rápidos. Valtencir Zucolotto é Professor Titular do Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia do Instituto de Física de São Carlos / USP.
Passado algum tempo, onde devido a outros projetos fiquei longe do desenvolvimento desse produto, vi um artigo, e uma reportagem do grupo de nanotecnologia da USP falando sobre drogas para o uso no tratamento do Câncer e isso me intrigou a escrever esse artigo.
Causa-me estranheza não ver o uso da Nanotecnologia na agricultura, e que em minha opinião, é uma das tecnologias mais revolucionárias para o presente e para os próximos anos. Mas por que ainda não temos resultados práticos na agricultura com o uso dessa tecnologia, como temos na Medicina, na Indústria, nos cosméticos e em outros segmentos?
“O termo nanotecnologia se popularizou nos anos 1980 com o engenheiro K. Eric Drexler, que propôs que, um dia, máquinas nanométricas conseguiriam manipular os átomos. “Nano é uma dimensão muito pequena”. Falamos de uma escala um milhão de vezes menor do que o milímetro”, ou seja, é o “design e a produção de estruturas, materiais e dispositivos a partir do controle da forma e do tamanho em escalas nanométricas”, e com o uso disso podemos melhorar e aperfeiçoar as propriedades físicas e químicas de qualquer material.
Hoje em dia existem mais de 9000 Produtos baseados em nanotecnologia no mercado e que são utilizados de diversas maneiras na: eletrônica, construção, cosméticos, defesa, medicina entre outros. Segue um link que traz todos os produtos separados por setor https://product.statnano.com. , e como podemos ver, são poucos os usados ??na Agricultura.
Na medicina, por exemplo, a nanotecnologia está prometendo soluções para várias doenças crônicas e fatais, como câncer, Parkinson, Alzheimer, diabetes, problemas ortopédicos, doenças relacionadas ao sangue, pulmões, sistema neurológico e cardiovascular. O tamanho do mercado Global de cuidados com a saúde através do uso da Nanotecnologia deve chegar a US $ 306,100 milhões até o final de 2025. E qual será o mercado dessa tecnologia na Agropecuária?
Podemos usar nanotecnologia na agricultura, na pecuária, avicultura, suinocultura, e para muitas aplicações como:
1 – Revestimento inteligentes com liberação de fungicida / inseticida /coatings para o tratamento de sementes
2- Nanocápsulas para liberação controlada de agroquímicos, produtos biológicos e fertilizantes
3- Nano capsulação biológica para melhoria fixação Nitrogênio, menor liberação de ativos
4- Sensores inteligentes para solos, plantas e zoonoses
5- Revestimentos antibacterianos para frutas
6 – Embalagens inteligentes para produtos pereciveis
7- Como já desenvolvido para os humanos, remédios para serem utilizados em nossos rebanhos, aves, peixes, suinocultura etc..
Apesar dos grandes avanços que a nanotecnologia tem proporcionado a diversos setores industriais, ainda existem desafios a serem superados, principalmente relacionados aos aspectos relativos à Nanorregulação e à Nanossegurança.
Este último termo, em particular, tem sido aplicado especificamente a situações relativas à saúde e ao meio ambiente dos trabalhadores. Vale ressaltar que, em termos globais, os países que mais concentram esforços para a certificação e padronização de nanoprodutos, em todos os setores, são China (165), Reino Unido (122), Irã (104), Estados Unidos (71), (StatNano, 2020)
No Brasil, em particular, a união de esforços entre governo, academia e setores industriais resultou no Projeto de Lei 88/2019, criado para estabelecer o Marco Regulatório da Nanotecnologia e o Programa Nacional de Nanossegurança.
O programa é um incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de nanotecnologias e visa fortalecer a aplicação das nanotecnologias nas empresas brasileiras, contribuindo para o aumento da produtividade e da competitividade no cenário internacional.
Em situações em que não há regulamentações específicas, muitos setores industriais têm utilizado as diretrizes da International Organization for Standardization (ISO). Para nanotecnologia, a ISO / TC 229 é o comitê responsável pelo desenvolvimento de normas e padrões para sua terminologia, metrologia, instrumentação, segurança, etc.
É claro para mim que a nanotecnologia terá um papel significativo em todos os campos industriais. Junto com outras tecnologias, como inteligência artificial, aprendizado de máquina, IoT, big data, realidade virtual e aumentada e computação em nuvem, a nanotecnologia tem uma aptidão extraordinária para inovações e revelações marcantes que podemos trazer com urgência para a agricultura.