Executivos do setor de viagens corporativas esperam uma retomada do mercado de eventos e feiras de negócios apenas em 2022. Entre as empresas, 41% também visualizam esse prazo para retomada de eventos em níveis próximos a 2019, segundo uma pesquisa de maio com 100 companhias brasileiras realizada pela Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (Abracorp). Por enquanto, as empresas estão em “stand by”, aguardando o avanço da vacinação no país e também questões de ordem política, que envolvem abertura de fronteiras para brasileiros e definições sobre quais vacinas serão aceitas nos destinos, diz Leonel Andrade, presidente da CVC Corp.
Ele não vê, porém, um encolhimento do mercado de eventos no médio e longo prazo por acreditar que a pandemia gerou “uma demanda reprimida” e as empresas vão voltar a investir pelo networking e relacionamento. Essa demanda poderá compensar, na visão de Andrade, uma possível perda de até 30% desse mercado com a substituição de viagens de negócios mais rotineiras, de curto deslocamento, entre estados brasileiros próximos, como Rio-SP.
Gervásio Tanabe, presidente executivo da Abracorp, concorda. “Aquelas viagens que o executivo saía de manhã e voltava à noite perderão espaço. Viagens para fins de treinamentos também poderão cair”, afirma. Em compensação, o mercado verá a demanda de viagens de negócios que aliam lazer crescer – principalmente pela expansão do trabalho remoto, diz Tanabe.
André Castellini, sócio da Bain & Company e especialista em aviação, também analisa que as viagens de negócios para lançamentos de produtos perderão espaço porque é “mais eficiente e menos custoso on-line”. Ele acredita que haverá espaço para reuniões que abrem o relacionamento e para a conclusão do negócio. “No nosso caso, que estamos ainda em regime de experimentos, já vemos que se antes tínhamos necessidade de ter oito viagens para projeto de três meses, agora provavelmente teremos apenas duas e seis reuniões virtuais.”
A agenda ESG é um fator também levado em conta pelas organizações que repensam suas políticas de viagens corporativas no longo prazo, diz Janine Goulart, sócia responsável pela área de mobilidade global de pessoas da KPMG. Uma pesquisa global realizada pela consultoria com 70 executivos de diversas áreas, (maioria da área de RH), incluindo brasileiros, indica que 67% das empresas pretendem monitorar as emissões de carbono ocasionadas por suas viagens de trabalho no futuro. “Essa agenda está na pauta e vemos alguma preocupação para construir uma política de viagens mais sustentável, aliada a redução de custos e também mudanças de mentalidade a partir da maior adoção de videoconferências”.
No relatório ESG de 2020, a operadora TIM apontou uma redução de emissões indiretas de gases de efeito estufa (escopo 3) de 29.353 em 2019 para 18.946 toneladas de dióxido de carbono equivalente no ano passado. A operadora explica que, em 2020, devido à pandemia e ao home office, houve uma “redução significativa das emissões associadas às viagens e ao ‘commuting’ dos funcionários”.