A Granja Faria, que durante a maior parte dos seus 15 anos de existência atuou apenas como fornecedora de ovos férteis e pintinhos de um dia a grandes indústrias avícolas, está prestes a dar o primeiro passo para construir sua própria cadeia de restaurantes. Batizada de Eggy, a rede de fast food, que terá o ovo como item central, abrirá sua primeira unidade na próxima terça-feira. A inauguração materializa a estratégia de sua companhia-mãe de fazer das vendas ao consumidor final sua principal fonte de receita – e reafirma o protagonismo crescente do produto na indústria de proteínas animais no país.
A loja de estreia da Eggy ficará no Itaim Bibi, em São Paulo, na região da Avenida Faria Lima, hoje o principal centro financeiro do país. O plano da empresa é abrir 30 unidades nos próximos dois anos. Além de lojas de rua, a rede terá também unidades em aeroportos e shoppings.
A Granja Faria foi fundada em Nova Mutum (MT) em 2006 por Ricardo Faria, empresário que, na época, detinha também o controle da Lavebras, do segmento de lavanderias industriais. A concorrente Atmosfera comprou a Lavebras por R$ 1,3 bilhão em 2017, mesmo ano em que a Granja Faria entrou no mercado de ovos comerciais. Para a operação, ela criou a marca Ares do Campo, que adota o sistema de criação de galinhas soltas. A empresa já tem 1,2 milhão de galinhas sob esse modelo e prevê chegar a 2 milhões no ano que vem. Todos os ovos que serão servidos na rede Eggy sairão da produção com galinhas soltas.
Na prática, com a entrada da Granja Faria no segmento de ovos comerciais, redes de supermercados passaram a fazer parte de sua carteira de clientes, antes formada só por empresas como BRF e JBS. “Como o mercado de ovos férteis é de nicho, há menos espaço para crescimento. Antes, atuávamos em apenas um segmento, que fatura R$ 1 bilhão por ano. Agora, estamos também em um de R$ 20 bilhões”, diz o CEO da Granja Faria, Denilson Dorigoni.
Com a compra da Avícola Catarinense, em 2013, a empresa abriu a série de aquisições de granjas com a qual ela ampliou sua estrutura de produção de ovos férteis. A companhia adotou essa estratégia também para se expandir no segmento de ovos comerciais. Nos últimos quatro anos, entre compras, aportes em tecnologia e distribuição, os investimentos totais da Granja Faria somam R$ 1,3 bilhão, afirma Dorigoni. Na lista de aquisições estão as da paranaense Granja Marutani e da gaúcha Granja Stragliotto, fechadas em 2018, as das mineiras Iana Alimentos e Aviário Santo Antônio, ambas de 2019, e a da Ovos Prata, do Rio Grande do Sul, anunciada no ano passado.
Entram na conta dos investimentos em quatro anos os R$ 300 milhões previstos para 2021. Neste ano, a empresa comprou a goiana Alex Alves e fechou outra aquisição, a ser divulgada em algumas semanas, afirma Dorigoni.
Com a expansão de suas atividades, a Granja Faria decidiu começar a produzir os grãos para a ração que consome – o insumo representa 70% de seus custos. A empresa comprou uma área de 100 mil hectares na região do Matopiba (confluência de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) para o cultivo de grãos e já fez o primeiro plantio, ainda como preparação da terra, em 2020/21.
O aumento dos preços da carne no país nos últimos tempos tem sido um dos motores do consumo de ovos, já que eles são usados como item alternativo – e mais barato – no cardápio das famílias. No entanto, a inflação dos alimentos não explica todo o quadro, já que o avanço do segmento não é de agora. Em duas décadas, o consumo de ovos no Brasil passou de 94 para 251 unidades per capita, volume que já é superior à média global, de 230 ovos por pessoa.
Sob esse pano de fundo, a Granja Faria, que teve receita de R$ 785 milhões em 2020, projeta faturar R$ 1,2 bilhão neste ano. Antes de a companhia entrar no segmento de ovos comerciais – operação que, desde o fim do ano passado, tem também, em São Paulo, um serviço de ovos por assinatura, o Club -, sua receita anual era de R$ 185 milhões.