Os impactos da estiagem, que já prejudicaram o desempenho do PIB do setor de agro no segundo trimestre, devem se agravar nos próximos meses, avalia Alessandra Ribeiro, economista-chefe da Tendência Consultoria. Para ela, há ainda o risco de a questão climática afetar o setor no próximo ano, com atraso na produção.
O PIB do agronegócio registrou um recuo de 2,8% na comparação com os três meses imediatamente anteriores, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta.
As produções de milho e de algodão devem ficar nos destaques negativos do ano, ambas fortemente afetadas pela estiagem, afirma a economista, ressaltando que a Conab já revisou para baixo a sua projeção para produção de milho, que deve recuar 15,5%. Para o algodão, a própria Tendências prevê uma queda de 22%.
Por conta da sazonalidade bianual da safra do café, o desempenho ruim da produção no setor já era calculado pela Tendências, que projetava recuo de 4,5% no PIB de agro. “Acabou vindo menos negativo do que prevíamos, mas a direção era essa mesmo”.
De modo geral, o resultado do PIB veio em linha com as estimativas da Tendências, que já projetava o recuo de 0,1% confirmado esta manhã pelo IBGE. Diante disso, a consultoria não vai revisar sua projeção para o ano, que permanece sendo de um crescimento de 5%. “Já estávamos numa ponta mais cautelosa e o resultado de hoje reforça nossas estimativas”, diz.
Além dos impactos que a seca produziu nas culturas do algodão e do milho, a geada atingiu também a produção de café, aponta o economista Ecio Costa, professor de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
No entanto, parte do desempenho ruim do setor, diz ele, já era esperada, por conta da sazonalidade do grão. “Além disso, a média história de desempenho do agro entre abril e julho é mais fraca que no primeiro trimestre”, afirma.
Na comparação com o segundo trimestre do ano anterior, o setor de agro — que responde por cerca de 6,8% do PIB sob a ótica a oferta –, cresceu 1,3%, com ganhos de produtividade em algumas lavouras como soja (9,8%) e arroz (4,1%). O café, por sua vez, apresentou recuo de 21% e o algodão, queda 16,7%. Na mesma comparação, a produção de milho caiu 11,3%.