O trigo foi na contramão das cotações de soja e milho e encerrou o pregão de hoje (19/11) em alta na bolsa de Chicago. Os lotes com entrega para março, os mais ativos no momento, subiram 0,42% (3,50 centavos de dólar), a US$ 8,3425 o bushel.
Atualmente, o preço do trigo está em seu maior patamar em quase nove anos em Chicago. Na bolsa de Paris, referência para a Europa, as cotações são as mais altas em quase 40 anos.
A soja encerrou a sexta-feira em leve baixa, reflexo das preocupações do mercado financeiro com a possibilidade de novas medidas de restrição para a circulação de pessoas por causa da covid-19. Com falta de novidade nos fundamentos, o grão não teve força para avançar.
O contrato da oleaginosa para janeiro, o mais negociado atualmente, caiu 0,16% (2 centavos de dólar), a US$ 12,6325 o bushel. A segunda posição, que vence em março, por sua vez, desvalorizou-se 0,12% (1,50 centavo de dólar), encerrando a US$ 12,750 por bushel.
A notícia de que a Áustria voltará a adotar um lockdown nacional a partir da próxima semana fez o mercado global se retrair durante o pregão. A preocupação é que outros países europeus, entre eles a Alemanha, possam decretar novamente os bloqueios, já que os casos da doença têm crescido tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.
No entanto, Craig Turner, analista da Daniels Trading, acredita que os efeitos sobre os preços dos grãos serão limitados devido ao feriado de Ação de Graças nos EUA. “O Dia de Ação de Graças será na próxima semana, então o volume [de negociações] nos EUA e a participação dos operadores serão menores, enquanto as notícias de restrições na Europa se intensificarão. O lado bom é que todos agora sabem como são as paralisações limitadas e completas. O mercado viu como a demanda caiu e depois se recuperou”, disse ele à Dow Jones Neswires.
O mercado não identificou nenhuma grande novidade nos fundamentos do grão. Os preços subiram de patamar após o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) projetar na semana passada uma safra menor do que o esperado por analistas e investidores, mas o bom andamento do plantio na América do Sul mantém a percepção de uma retomada na recomposição dos estoques globais de soja para 2021/22.
“Embora tenhamos tido momentos de empolgação nesta semana, os grãos terminam a semana em baixa. Acho que nada disso é uma surpresa, já que havia poucas notícias para inspirar ‘touros’ ou ‘ursos’”, afirmou, em relatório, o analista Dan Hueber, em referência aos animais que simbolizam alta e baixa das cotações.
O milho também fechou o dia em queda. O contrato para março, o mais líquido, caiu 0,39% (2,25 centavos de dólar), para US$ 5,770 o bushel. A preocupação com novas medidas de restrição, somada à baixa procura pelo milho americano, não permitiu ao cereal avançar na sessão.
“A demanda recente por milho, soja e trigo tem sido mista, com importadores surgindo de maneira irregular e, em seguida, recuando quando o mercado sobe. Isso não é incomum, mas torna mais difícil estimar com precisão a demanda”, analisou Karl Setzer, da AgriVisor, em relatório.
Segundo ele, a questão agora é se a demanda voltará a subir no restante do ano. “A partir de agora, isso parece ser mais provável no milho”, diz. “A Ucrânia está exportando milho, mas o volume é limitado. Espera-se uma grande safra de milho na América do Sul neste ano, mas ela não estará pronta até o fim da primavera. Até lá, os Estados Unidos provavelmente verão sua demanda por milho aumentar”.
No Brasil, a consultoria Safras & Mercado cortou hoje sua previsão para as duas principais safras de milho no país em 2021/22 — a estimativa, de 122,5 milhões de toneladas em agosto, passou a 119,2 milhões. Ainda assim, se a projeção se confirmar, a colheita será 31,4% maior que a da temporada anterior, em que houve forte quebra.
A produção do milho de verão no Centro-Sul do Brasil deverá atingir 25,7 milhões de toneladas nesta safra 2021/22, calcula a Safras & Mercado. No último levantamento, de agosto, a expectativa era de que a colheita fosse de 25,5 milhões de toneladas. Se a nova previsão se concretizar, a produção crescerá 18,8% em relação a 2020/21, quando houve quebra e a produção foi de 21,6 milhões de toneladas.
Para a segunda safra, que será cultivada após a colheita da soja, a produção deverá chegar a 81,7 milhões de toneladas, volume inferior à estimativa de agosto, de 84,8 milhões de toneladas. O motivo para o corte foram ajustes de área e produtividade previstas para o ciclo. A nova projeção representa um aumento de 42,9% em comparação com as 57,1 milhões de toneladas colhidas na última temporada.