As aquisições fazem parte do DNA da JBS e, em tempos de caixa recheado, nada mais natural que analistas e investidores fiquem a espera de novas compras da companhia dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Neste ano, porém, as oportunidades de aquisição estão caras, o que intensificou os projetos de construção (“greenfield”) de fábricas pelo grupo, no Brasil e fora.
Durante teleconferência na última sexta-feira, o CEO global do grupo, Gilberto Tomazoni, disse que a JBS tem uma “história de aquisições” e está “sempre avaliando” novas possibilidades. No entanto, frisou, isso não ocorrerá de qualquer maneira.
“É fundamental que as aquisições sejam feitas pelo preço certo. Não é porque tem caixa robusto que vai fazer aquisições a qualquer custo”, afirmou. Nesse sentido, Tomazoni citou um anúncio feito no início da última semana. A Plumrose, negócio de alimentos processados da JBS nos EUA, informou que pretende investir cerca de US$ 200 milhões para construir uma nova fábrica voltada à produção de especialidades típicas da Itália, como salames e presuntos.
De acordo com Tomazoni, a decisão pelo investimento “greenfield” ocorreu porque as alternativas de aquisições para ampliar o negócio da Plumrose não valiam a pena. Os valores pedidos embutiam múltiplos (relação entre valor de firma e Ebitda) muito altos.
Aos analistas, o CEO da JBS USA, André Nogueira, acrescentou que o crescimento da Plumrose é um dos principais focos da companhia. Desde 2017, quando comprou o negócio por cerca de US$ 230 milhões, a Plumrose vem expandindo a atuação nos Estados Unidos. O faturamento da companhia, que era de cerca de US$ 500 milhões, deve fechar o ano em US$ 800 milhões, afirmou Nogueira. Com a nova fábrica, pode chegar a US$ 1,2 bilhão, projetou. Outros projetos “greenfield” para a Plumrose estão no radar da JBS.
Mas o negócio americano de alimentos processados não é o único negócio a receber investimentos orgânicos. No fim do ano passado, a JBS anunciou um pacto de investimentos de R$ 8 bilhões no Brasil até 2024. A expansão da Seara deve receber a maior parte dos aportes.
Em comum, Plumrose e Seara encarnam o objetivo da JBS de ampliar a área de produtos com marca e valor agregado e, com isso, a rentabilidade do negócio no longo prazo. A expectativa é que isso também ajude a valorizar a empresa brasileira.
É também para melhorar a percepção dos investidores sobre o valor da companhia que a JBS trabalha para listar ações das operações internacionais em uma bolsa nos EUA. Na sexta-feira, Tomazoni afirmou que o processo para preparar o grupo para a listagem, que havia sido posto em segundo plano devido à urgência da pandemia, foi retomado. “Estamos voltando a tratar da listagem, sim. Não temos um prazo pra que ela ocorra, mas dados os passos necessários, o processo precisa ser executado”, disse o executivo, respondendo a um analista. Tomazoni garantiu ainda que, “seguramente”, a operação não ocorrerá em 2020.