Com uma ampla carteira de negócios e de áreas de atuação – que se estendem pelos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e mesmo o vizinho Paraguai -, a C. Vale está superando sem grandes turbulências os desafios impostos em 2020. O principal deles é a pandemia, mas também o clima adverso para as lavouras do Rio Grande do Sul em 2019/20 (responsáveis por 20% de sua originação de soja, cuja temporada teve quebra de 46%). Resiliente, a cooperativa de 57 anos deverá faturar R$ 11,5 bilhões em 2020, alta de quase 30% em relação aos R$ 8,9 bilhões registrados no ano passado.
Alfredo Lang, presidente da cooperativa, afirma estar otimista também para 2021, mesmo diante de preocupações com o clima seco. Isto porque os preços das commodities subiram e o produtor estava capitalizado para investir na compra de insumos. Da temporada 2020/21, 47% da soja e 20% do milho da cooperativa já foram negociados no mercado.
Calcada em três pilares estratégicos – originação de grãos (36% da receita no ano passado), venda de insumos (25%) e de produtos com marcas próprias no varejo (29%) muito alinhados à sua industrialização -, a C. Vale se tornou uma das maiores cooperativas agrícolas do Brasil, com sobras de R$ 245 milhões no ano passado.
Na área de originação, recebeu na safra 2019/20, colhida este ano, 2,34 milhões de toneladas de soja e 1,46 milhão de toneladas de milho, o equivalente a 61 milhões de sacas. Desse total, exportou diretamente 17% e entregou a maior parte a tradings, ficando com uma fatia de 22% para produção de ração.
O grande projeto da C. Vale agora, anunciado em setembro, é construir uma esmagadora de soja em Palotina (PR), na qual investirá R$ 552 milhões em oito anos. A planta, que deverá começar a rodar em 2023, terá capacidade de processar 3 mil toneladas por dia, fortalecendo a agregação de valor perseguida pela cooperativa. “Começaremos com farelo e óleo, e depois vamos ampliar o leque com óleo refinado, margarina e maionese”, diz Lang.
Alinhada à estratégia agroindustrial, até o fim de 2020 será inaugurada, ainda, uma nova loja supermercadista da C. Vale em Assis Chateuabriand (PR). No hipermercado de 22,64 mil metros quadrados, que empregará 220 pessoas, foram aportados cerca de R$ 50 milhões.
Com marcas próprias de proteínas de frango e peixe comercializadas no varejo, a C. Vale também tem investido em abatedouros. São três: dois em Palotina, de frangos (com capacidade de abate de 615 mil aves por dia) e peixes (101 mil peixes por dia) e o mais novo em Umuarama (PR), apto ao abate de 90 mil frangos por dia. Aberto em julho em parceria com a Pluma Agroavícola, recebeu R$ 60 milhões em capital da Plusval, na qual a C. Vale tem 51% de participação e a Pluma, o restante.
Para 2020, a estimava é que a produção de carne de frango dos cooperados atinja 376 mil toneladas, a de tilápias 22 mil e a de suínos, 52 mil. À exportação é destinada 68% da carne de frango entregue à cooperativa, e 3% da tilápia. A China é o principal cliente da proteína avícola da C. Vale, que embarcou 94 mil toneladas ao país em 2019, mas, juntos, Rússia, África do Sul, Filipinas e Japão ainda respondem por uma parcela mais relevante.
“Em 1995, só 0,5% do faturamento da cooperativa vinha da indústria. Construímos um complexo avícola, investimos no processamento de raiz de mandioca, apostamos na produção e industrialização de peixes. E hoje a indústria responde por 20% a 25% do nosso faturamento”, conta Lang, que dirige a cooperativa desde aquela época.
E a estratégia continua sendo a mesma, segundo ele, de industrialização e atenção ao produtor e à equipe. Com a pandemia, a C. Vale aportou R$ 10 milhões em adequações nos abatedouros e ações em prol da comunidade do seu entorno. Em tempos difíceis, Lang defende que nunca pode faltar persistência.