As exportações do agronegócio do Rio Grande do Sul somaram US$ 5,1 bilhões no primeiro semestre de 2019, um recuo na ordem de 15,5% na comparação com o mesmo período do ano passado. Mesmo com a produção doméstica em alta, a soja tem grande influência neste desempenho negativo, com queda expressiva de 48,2%, tanto em termos de volumes embarcados quanto na média de preços. Os números também se explicam diante do cenário atípico vivido ao longo de 2018, quando houve uma forte demanda sobre o produto por parte da China, principal parceiro do setor primário gaúcho.
Mesmo assim, o complexo soja representa o maior peso nas exportações agropecuárias do RS nos primeiros seis meses do ano: US$ 1,6 bilhão. Os segmentos seguintes tiveram comportamento inverso, com crescimentos bastante significativos. O setor de produtos florestais fechou o período com a marca de US$ 1 bilhão exportado, alta de 56,2%. Já a cadeia do fumo e seus derivados cresceu 25,2%, passando dos US$ 794 milhões entre janeiro e julho.
Em quarta posição no ranking de importância em termos de exportações gaúchas, o segmento de carne somou US$ 659,5 milhões no período. No último trimestre (segundo trimestre de 2019), em especial, o setor teve o mais significativo salto em termos de vendas para o exterior: 74,4%, puxado pela comercialização das carnes de frango (+108,2%) e suína (+91%).
Estes números foram divulgados nesta terça-feira (27/8) pela Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag), durante a 42º edição da Expointer, em Esteio. Elaborado pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE/Seplag), o Painel do Agronegócio do RS avaliou também a geração de empregos formais pelo setor e projetou um cenário mais otimista para o fechamento do ano. “Apesar da fraca retomada na economia brasileira, o Rio Grande do Sul vem crescendo acima da média nacional. O agronegócio tem um peso importante, pois responde por mais de um terço do PIB gaúcho. Por isso, se confirmando este incremento nas exportações, nossa expectativa é de termos bons resultados na economia como um todo no segundo semestre”, avalia a secretária Leany Lemos.
Cenário internacional
Como os primeiros seis meses do ano foram marcados por uma baixa demanda externa (até julho, apenas 25% da safra gaúcha foi embarcada; em 2018, o percentual foi de 43,6%), a alta produção da safra atual é um indicador do potencial de crescimento das exportações de soja no segundo semestre. “Para tanto, é preciso que a conjuntura internacional ajude. Em especial, o mercado precisa reduzir o grau de incertezas diante do acirramento nesta disputa comercial entre EUA e China”, observa o economista Sergio Leusin Jr, que trabalhou na elaboração dos estudos.
Os reflexos do contexto externo ficam visíveis também quando se observa o desempenho das exportações do segundo trimestre deste ano, comparativamente ao mesmo trimestre do ano anterior. Houve uma queda no segundo período na comparação com os primeiros três meses em termos de valor (-18,1%) e no volume dos embarques (-14,5%), o que representou diminuição no faturamento na casa dos US$ 617,4 milhões. A soja respondeu sozinha por US$ 805 milhões deste prejuízo, dada a redução da demanda chinesa e de maior oferta no mercado internacional.
O trabalho sobre os indicadores do agronegócio mostra que a China ainda é o principal destino da produção gaúcha: 35,6%. No entanto, por causa da queda de compras de soja, os negócios com os chineses tiveram a maior queda absoluta: 34,8%, o que significou perda e US$ 978,1 milhões no primeiro semestre na comparação com igual período de 2018.
Em compensação, contrariando a tendência de queda, EUA e Arábia Saudita tiveram os maiores incrementos nas compras de produtos do agro gaúcho. Enquanto os americanos ampliaram a compra de máquinas e implementos (tratores), os árabes aumentaram a aquisição de carne de frango.
Empregos
Resultado direto da sazonalidade da produção agrícola no Estado, o número de pessoas com carteira assinada teve queda no segundo trimestre deste ano. Na comparação com os primeiros três meses, o estoque de empregos formais teve uma redução de 15.583 postos de trabalho, diferença entre as 34.593 admissões no período, diante dos 50.1276 desligamentos. “É um fenômeno que se explica pela desmobilização parcial dos trabalhadores contratados de maneira temporária para atender a colheira o recebimento da safra de verão, concentrada no primeiro trimestre”, destacou o analista do DEE, Rodrigo Feix.
Entre janeiro e março deste ano, o setor chegou a atingir uma marca histórica de 70 mil admissões no período, com um estoque de postos de trabalho crescendo em 25,2 mil empregos. Ao final do segundo trimestre havia 329.143 empregos com carteira assinada no agronegócio gaúcho, o que corresponde a cerca de 13% do total no Estado.
Feix observa, ainda, que a redução dos empregos no segundo trimestre ocorreu nos três segmentos que caracterizam o agronegócio: “antes”, “dentro” e “depois” da porteira. Conforme consta no painel, quem menos sentiu foi o primeiro segmento, formado por atividades relacionadas ao fornecimento de insumos, máquinas e equipamentos, com saldo negativo de 52 empregos.
O segmento “depois” da porteira (atividades agroindustriais e comércio atacadista) foi responsável pela perda de 6.477 empregos no segundo trimestre. Mas foi “dentro” das propriedades que a situação foi mais delicada: menos 9.054 postos em atividades da agropecuária, em especial na produção das lavouras permanentes (sobretudo pelo fim da colheita da maçã na região de Vacaria).
No acumulado
Nos primeiros seis meses, mostra o estudo coordenado por Feix, foram criadas 9.686 vagas com carteira assinada no agronegócio gaúcho. No mesmo período de 2018 tinham sido 10.913 empregos.
A cadeia do fumo é o setor com maior criação de vagas neste ano: 9.707 postos. As lavouras permanentes (com 1.454 postos) e a fabricação de máquinas e implementos (1.150) vêm na sequência. Este último setor, por sinal, registra uma curva positiva nos últimos três anos, acumulando neste período quase 1.800 novos empregos. Já a produção de lavouras temporárias (menos 1.679 postos) e a fabricação de conservas (menos 1.178) tiveram os maiores registros em termos de fechamento de vagas entre janeiro e julho deste ano.