O conceito de PLF (Precision Livestock Farming) conhecida como Zootecnia de precisão (ZP) oferece uma gama de tecnologias para monitorar continuamente os animais de produção e seu ambiente imediato. Essas tecnologias têm o potencial de ajudar os produtores a tomar decisões que resultarão em redução das perdas localizadas, maior lucratividade, melhoria no bem-estar animal e menor impacto no planeta.
Existe uma diversidade tecnológica entre as propriedades agrícolas no Brasil, tendo diversos níveis produtivos, por isso, é importante o questionamento de até que ponto o uso das ferramentas da zootecnia de precisão em uma propriedade é interessante e se os resultados podem ser alcançados com a implantação de um programa eficaz, a tomada de decisão deverá ser realizada para cada caso.
Para isso, é importante avaliar as vantagens e desvantagens em relação a zootecnia de precisão que podem ser levantadas, sendo alguns dos benefícios a identificação eletrônica, garantindo a qualidade e rastreabilidade do produto e uso de técnicas avançadas para o levantamento de dados precisos (utilização das ferramentas como a inteligência artificial (IA) e/ou a internet das coisas – IoT), estabelecendo-se os padrões de qualidade e de bem-estar. Enquanto um dos pontos negativos seria a baixa percepção do usuário, quanto aos benefícios trazidos por essas técnicas no controle de qualidade, incluindo a possibilidade de agregar valor ao produto, a redução de perdas com a identificação dos gargalos, e os diferentes pontos de vista existentes, seja ele, do consumidor ou do produtor.
Dessa forma, a aplicação das ferramentas da zootecnia de precisão ainda é um desafio na cadeia de produção animal no Brasil, pois a adoção de novas técnicas para a redução de perdas e maximização do potencial de produção do animal ainda são usadas de forma errônea ou são aplicadas em certas condições de produção que podem não ser adequadas. Por outro lado, podem ser utilizadas com eficiência por grandes empresas na tomada de decisão baseadas na avaliação de big data, porém, com uma determinada resistência na ponta da cadeia, juntamente com os produtores.
A cadeia de produção animal brasileira já tem usado da pecuária 4.0, conceito onde o meio rural é visto como um setor empreendedor e inovador, podendo revolucionar as áreas de atuação, mesmo com todas as restrições relacionadas a conectividade, que aos poucos vão sendo resolvidas. Com isso, as inovações tecnológicas e os diversos aplicativos têm sido desenvolvidos neste contexto por pesquisas fomentadas por instituições públicas e privadas; e também resultantes de startups.
Sabe-se que os sensores, atuadores e controladores são importantes elementos na capitação e processamento de informações no meio agro. No conceito da Zootecnia de Precisão o animal é um biossensor, seja de contata direto (vestimenta) ou indireta, podendo ser previstas situações que podem necessitar da interferência humana com antecedência que possibilite a prevenção e melhores resultados nos diferentes desafios, sejam eles sanitários, ambientais, reprodutivos ou produtivos.
Dentre as diversas ferramentas disponíveis existem as que podem atuar melhorando os sistemas de alimentação e de água, controles do ambiente para melhor conforto e o bem-estar dos animais, sistema de limpeza, podendo ainda interferir positivamente na reprodução e sanidade de rebanhos de diversas espécies de animais de produção.
Nos processos produtivos atuais, é de extrema importância às respostas em tempo real, com um controle inteligente, decisões ágeis e eficazes, podendo representar uma grande vantagem nos ganhos e redução de perdas. Embora ferramentas como a Inteligência Artificial (IA) não sejam de uso tão recentes, a aplicação no meio rural ainda é recente, sendo que na maioria das vezes encontram-se embutidas nas tecnologias disruptivas voltadas para zootecnia de precisão.
Inicialmente surgiram as primeiras aplicações voltadas para a ambiência animal, cujas tomadas de decisão utilizavam sistemas especialistas (ex: árvore de decisão, lógica fuzzy, redes neurais). Mas na sequencia os sistemas de reconhecimentos de padrões surgiram (análises de imagens, identificação de padrões seja de imagens ou de sons), na tentativa de identificar anomalias promovendo melhorias na cadeia produtiva, o que ainda hoje conta com grandes aplicações e desenvolvimentos.
Por outro lado, os sistemas de maneira geral vêm se beneficiando do crescimento exponencial da rede Internet, da miniaturização dos dispositivos embarcados (nanos) e da queda de preço desses dispositivos que já se conectam a Internet (Internet das Coisas – IoT). Verifica-se que todo esse avanço tem contribuído a velocidade de transmissão de grande massa de dados e dos mais variados tipos e origens (dados enviados de sensores, web, e-mail, som, imagem e vídeos). Essas informações aliadas a algoritmos inteligentes compõem o Big Data, ferramenta poderosa para tomadas de decisões estratégicas em qualquer campo. As ferramentas que compõem a Zootecnia de precisão são dinâmicas, adaptativas e surge rapidamente com os auxílios das ciências exatas, matemática (modelos e algoritmos) acelerando todo o processamento e acerácea dos dados em tempo real.
Izally Carvalho Gervázio – Zootecnista, Mestre em Ciência Animal e Pastagem. ESALQ/USP.
Tung Chuin Wen – Eng. Eletrônico, Doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícolas, ESALQ/USP.
Iran José Oliveira da Silva- Eng. Agrícola, Dr. Ambiência e bem-estar animal, Coordenador NUPEA/ESALQ/USP.