O tema da eficiência energética ainda precisa ser discutido no meio empresarial brasileiro, avaliam palestrantes do workshop “Parceria energética Brasil – Alemanha: Eficiência energética na indústria”, durante o 36º Encontro Econômico Brasil Alemanha (EEBA). O diretor da subseção de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME), Carlos Alberto Pires, explicou que o Brasil possui uma matriz energética limpa, pois 45% da energia e 80% da eletricidade vêm de fontes renováveis. Apesar disso, a eficiência energética ainda é um desafio a ser superado. “Não há como mencionar eficiência energética sem se atrelar às questões da produtividade e da capacidade de fazer frente a um mercado cada vez mais competitivo”, disse.
Devido às disparidades entre as regiões brasileiras, como em relação a capacitação profissional e expectativas empresariais, é difícil, na avaliação de Pires, levar o conceito de eficiência energética a todo o empresariado industrial. Outro ponto é a necessidade de um mercado robusto que ofereça serviços específicos, por meio de empresas de conservação de energia, em processos térmicos, por exemplo. Nesse sentido, Pires assegurou que o governo tem buscado formas de estimular esse mercado, como a eliminação de barreiras de financiamento. “Queremos completar o leque de opções para que o empresário possa usar a eficiência energética não só para redução de custo, mas também para o aumento da produtividade”, destacou.
O diretor de Tecnologia e Inovação do SENAI, Marcelo Prim, afirmou que tem trabalhado para desmistificar a eficiência energética junto à indústria nacional, mostrando que é possível ter ganhos expressivos em cima de investimentos de curto prazo via programas orientados a resultados. “Há um mal entendimento de que, para se ter eficiência energética na indústria, há que se fazer investimentos em bens de capital, na compra de novas máquinas, deixar as antigas que gastam mais energia pra trás”, contou.
Por meio de programas pilotos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), em parceria com o governo, o gasto médio de energia das empresas tem reduzido em até 26%. Em 2017, 48 pilotos foram realizados em pequenas e médias empresas no Brasil. “Com o planejamento da produção e o conhecimento do processo produtivo e de quando a energia é mais cara e mais barata, pode-se reduzir o gasto da energia”, contou Prim.
Outro projeto-piloto, destinado a grandes empresas, prevê o investimento de R$ 600 mil – R$ 300 mil do governo e R$ 300 mil da empresa – em métodos de gestão da produção durante 24 meses (três meses de intervenção e 21 meses de manutenção). A empresa precisa manter o ganho de eficiência energética estabelecido nos três primeiros meses, pois se voltar atrás nas ações de gestão, terá de devolver os R$ 300 mil de subvenção.
No âmbito da parceria entre Brasil e Alemanha, a diretora da subseção de Relações Internacionais de Energia do Ministério Federal de Economia e Energia (BMWi), Ursula Borak, disse que desde 2008 os países discutem questões sobre energia. Atualmente, o foco são eficiência energética e energias renováveis.
Borak lembrou que em maio deste ano ocorreu o primeiro dia energético bilateral, em São Paulo, quando representantes do governo, universidades, empresas discutiram a eficiência em edifícios. Ainda segundo ela, o tema de energias renováveis é novo na Alemanha, tendo em vista a criação do programa de transição energética (Energiewende), mas que o Brasil participa dessa discussão há algum tempo. Nessa mudança de matriz, Borak explicou que um dos desafios é aumentar a capacidade das redes de transmissão de energia do Norte em direção ao Sul da Alemanha.
Evento
O 36º Encontro Econômico Brasil Alemanha (EEBA) é organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela BDI, com apoio da Prefeitura de Colônia e da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo). O evento ocorre de forma intercalada entre os dois países.
Neste ano, cerca de 260 participantes brasileiros estão em Colônia. A delegação empresarial brasileira é liderada pelo vice-presidente da CNI Paulo Tigre e conta também com a participação dos presidentes das Federações Estaduais das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN), Amaro Sales de Araújo; de Santa Catarina (FIESC), Glauco José Côrte; do Rio Grande do Sul (FIERGS), Gilberto Petry; de Roraima (FIER), Rivaldo Neves; do Maranhão (FIEM), Edílson Baldez; e de Minas Gerais (FIEMG), Flavio Roscoe. Integram ainda a comitiva o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi, e os diretores regionais do SENAI do Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Roraima e Santa Catarina.