“O maior assunto agrícola do mundo”. Assim o economista Alexandre Mendonça de Barros, sócio-diretor da consultoria agrícola MB Agro e membro do conselho de administração da Minerva Foods, define o surto do vírus da peste suína africana que atingiu o plantel da China.
Responsável por cerca de 50% da carne suína produzida no planeta, a China corre um risco real de liquidar parcela relevante de seu rebanho, indicou Mendonça de Barros. Embora ainda seja cedo para estimar o potencial de redução da produção de carne suína do país asiático, não é impossível que o volume atinja 5 milhões de toneladas, ou cerca de 10% da produção chinesa.
“Há quem diga que a redução pode chegar a 5 milhões de toneladas. Não consigo ousar [e fazer projeção], mas não é impossível”, afirmou ele durante encontro realizado pela Minerva com analistas e investidores, na manhã de ontem em São Paulo. Além de representar um fatia importante da produção chinesa, o volume de 5 milhões de toneladas que atualmente circula no mercado é também significativo se comparado ao comércio global de carne suína. Por ano, a exportação do produto gira em torno de 8 milhões de toneladas a 8,5 milhões de toneladas, ressaltou.
Na apresentação, Mendonça de Barros argumentou que o vírus da peste suína africana, que se espalhou pela China desde agosto passado, é de difícil de controle. Embora não prejudique a saúde humana, o vírus pode ser transmitido a outros animais – inclusive em carnes congeladas e processadas até cinco anos após a produção. Para evitar a disseminação, é preciso incinerar os animais. “Não há como curar ou como se defender da peste suína africana. Não tem vacina. A única solução é exterminar o rebanho”, afirmou, ressaltando que outra fragilidade da China é o controle sanitário. Segundo ele, só 20% das granjas adotam padrões sanitários adequados.
Se o cenário negativo se confirmar, o mercado agrícola poderá sofrer diversos efeitos colaterais. Para os frigoríficos brasileiros, os reflexos seriam positivos. “Vamos ver o crescimento das importações chinesas de carne”, afirmou o economista. Nesse sentido, a missão de técnicos chineses que está agora no Brasil pode ser positiva, já que Pequim pode autorizar mais frigoríficos brasileiros a exportarem ao mercado chinês. Na Minerva, uma unidade foi visitada na última sexta-feira, de acordo com Luiz Alves Luz, executivo que comenda as operações de carne bovina da companhia no Brasil.
Do outro lado, uma redução relevante da produção de carne da China em 2019 pode afetar as exportações de soja, ressalvou Mendonça de Barros. O Brasil é o maior fornecedor de soja aos chineses. Neste ano, os embarques de soja brasileira ao país ganharam ainda mais força devido à guerra comercial entre os Estado Unidos e a China. Pequim sobretaxou o grão americano.