O vasto e multifacetado universo do agronegócio chega ao fim de 2018 vergastado pelas dificuldades que marcaram o cenário deste ano. O desemprego, a queda de renda da população, o baixo consumo das famílias, a elevação de custos dos insumos e a greve dos caminhoneiros formaram um conjunto de percalços cujos efeitos impactaram todos os segmentos da economia. Da mesma forma, os exagerados efeitos midíaticos das operações Carne Fraca e Trapaça devastaram injustamente a reputação de importantes empresas (tema que abordarei futuramente). O setor de alimentos – geralmente o último a sentir os efeitos da crise – não ficou incólume. Produtores e empresários rurais, agroindústrias e indústrias fornecedoras de insumos ao agro – praticamente todos os agentes econômicos fecharão o ano em vermelho.
É verdade que as eleições e a promessa de mudanças e transformações trouxeram um novo ânimo ao mercado – e aí reside a essência e a beleza da Democracia. Mas também é verdade que, nesse momento, não se manifestou ainda, concretamente, no mercado, qualquer sinal de melhora. As vendas da indústria de alimentos para o Natal, historicamente contratadas em outubro e até a primeira quinzena de novembro, decepcionaram.
Esse quadro de dificuldades não turva a previsão e a sensação de otimismo para o próximo ano. Empresários, trabalhadores e empreendedores esperam um novo cenário. Porém, há um forte consenso de que o novo Governo deve utilizar seu imenso capital político para apresentar de imediato um corajoso programa de reformas. Não será fácil, porque o tamanho do desafio fiscal do novo governo é enorme, especialmente porque, nos últimos três governos, a responsabilidade fiscal foi abandonada.
Somente um programa crível de ajustes viabilizará o crescimento da economia brasileira. Inescapavelmente, o primeiro e mais vigoroso movimento deve se dar na reforma da Previdência, mas, para equilibrar as contas públicas são necessárias medidas como a contenção de outras despesas, a redução do tamanho da administração pública, o corte de privilégios. Problema: o orçamento federal é super engessado e o governo consegue dispor de apenas 10% dos gastos não-financeiros.
A sociedade e o mercado esperam que, além das reformas, as políticas de ação do novo Governo marquem o fim de um ciclo de forte intervencionismo do Estado que se manifesta desde a democratização.
As formas mais eficazes para estimular a economia são os investimentos em infraestrutura (com um programa ambicioso em rodovias, ferrovias, hidrovias e geração de energia elétrica) e os estímulos às exportações. Aqui, mais uma vez, haverá a contribuição da agricultura e do agronegócio, com a capacidade já demonstrada, de oferecer um superávit de 100 bilhões de dólares/ano mediante a exportação de grãos, carnes, frutas, lácteos etc.
O Brasil tem pressa. É preciso acelerar as mudanças para recuperar o tempo perdido nesses quatro anos de crise. A agricultura fará mais uma vez a sua parte. Da futura Administração se espera responsabilidade fiscal, reformas profundas, adoção de princípios de meritocracia, com mais mercado e menos intervenção estatal.