Especialistas avaliam que os embargos à carne brasileira serão derrubados em pouco tempo, seja porque as investigações da Polícia Federal têm escopo menor que o inicialmente pensado, seja por causa da elevada dependência em relação ao Brasil nesse mercado. O país responde por 20% das exportações mundiais de carne bovina e 40% das de frango. Ontem, mais três países — México, Suíça e Japão, além de Hong Kong — levantaram restrições a carnes brasileiras. Outros dois voltaram atrás: a Coreia do Sul, que havia suspendido importações, liberou o fornecimento, e o Chile sinalizou que revisará a interrupção e a limitará a 21 frigoríferos suspeitos. Ao todo, cinco países, Hong Kong e a União Europeia, mantêm restrições.
A avaliação de pesquisadores e analistas do setor é que as nações que barraram os produtos brasileiros terão grande dificuldade de substituí-los, especialmente no caso na carne bovina. Em valores, o Brasil é o maior exportador do produto: foram US$ 4,3 bilhões em 2016. Em volume, fica no mesmo nível que a Índia, mas os números indianos são inflados pois entra na conta a carne de búfalo. Além disso, dizem especialistas, a mercadoria indiana é de qualidade inferior. Austrália e EUA vêm em seguida no ranking de exportadores, mas ambos têm restrições para aumentar a produção.
— O rebanho da Austrália equivale ao do Mato Grosso. E o país tem pouca disponibilidade de água. Já os Estados Unidos têm pouca oferta de terras — afirma Sérgio de Zen, da Esalq/USP.
Para André Nassar, ex-secretário de Política Agrícola e diretor da Agroicone, Argentina e Uruguai poderiam ser beneficiados com as suspensões, mas a produção de ambos é bem menor. Em 2016, as exportações argentinas somaram 210 mil toneladas e as uruguaias, 385 mil toneladas. O Brasil exportou 1,9 milhão de toneladas.
— Pelo tipo de corte, argentinos, uruguaios e até australianos poderiam aproveitar essa janela de oportunidade. Mas estruturalmente, é quase impossível substituir o Brasil. A suspensão vai ser revertida rapidamente — diz Nassar.
Ontem, a Suíça suspendeu a importação de quatro unidades brasileiras de processamento de carne, e a Argentina informou que apertaria o controle sobre as importações. Já o México suspendeu as compras de frango. O Japão deixará de importar frangos e outras carnes dos 21 frigoríferos suspeitos. E Hong Kong interrompeu as compras de frango e carne bovina, seguindo a China, que reterá as exportações de carnes brasileiras em seus postos até obter esclarecimentos satisfatórios.
Juntos, China e Hong Kong respondem por mais de 30% das vendas externas de carne bovina. No frango, a China é o segundo destino das exportações. E é no Brasil que têm origem 70% das importações chinesas de aves, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
— No mercado de frango também é difícil substituir o Brasil — diz Ricardo Santin, vice-presidente de mercado da ABPA.
Em outras situações de embargo a produtos brasileiros, como no caso da vaca louca em 2001, as restrições caíram rapidamente. Na época, o Canadá suspendeu as importações de carne. Parceiros no Nafta, México e EUA o seguiram. Mas, por pressão dos empresários americanos, que usavam a carne em vários produtos, o governo dos EUA voltou atrás.