O ano de 2015 foi bom para os criadores de suínos de Santa Catarina. Mas o aumento nos custos preocupa os criadores catarinenses. Essa alta afeta de forma diferentes os três tipos de produtores.
Os criadores são divididos da seguinte forma: 15% dos produtores criam os leitões, até o desmame; 15% são criadores independentes, que engordam os porcos por conta própria e arcam com todos os custos; e 70% são integrados, quer dizer, a indústria ou cooperativa paga a ração e dá assistência técnica e o criador entra com os custos dos galpões e a mão-de-obra para fazer a engorda.
O oeste catarinense é o maior polo de produção de suínos do Brasil. A região abriga cooperativas e agroindústrias de grande porte, além de contar com mais de seis mil criadores de porcos. A maior parte é de pequenos produtores.
O produtor Albino Valentini toca o sítio de 37 hectares, no município de Xaxim, com ajuda da esposa, dona Salete, e das filhas Simara, de 21 anos, e Simone, de 25 anos. A família conta que trabalha exclusivamente com a produção de leitões. Em galpões eles mantêm 198 matrizes, que geram uma média de 450 de porquinhos por mês. Mamando com vontade, aos 28 dias os leitões atingem cerca de oito quilos, momento certo para a venda. “Está na faixa de R$ 85 a R$ 87 o leitão. Sobra agora cerca de R$ 25 por leitão”, calcula.
O problema é que a margem de lucro vem caindo de uns tempos para cá. O grande vilão o preço da ração, composta principalmente por milho e soja, produtos que tem ficado mais caros nos últimos meses. “O preço do custo dessa ração hoje está em torno de R$ 1, 12 o quilo. Em cinco meses atrás estava em torno de R$ 0,95. A ração representa uns 65% por cento do custo de produção”, avalia Valentini.
A situação da família Valentini é típica dos produtores de leitão, que representam 15% dos criadores, como explica Losivanio de Lorenzi, presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos. “Hoje, praticamente 100% dos nossos produtores de leitões estão vinculados a uma cooperativa ou a uma agroindústria. Tem contrato de fornecimento desses animais. Mas, eles estão à mercê do mercado realmente porque eles absorvem todos esses custos de ração, da nutrição. O custo quem paga sempre é o produtor”, diz.
Outro grupo que está sofrendo com o aumento de custos é o dos criadores independentes. São pessoas que não têm contrato com grandes indústrias e fazem tudo por conta própria. “Pra ele, quando sobe o custo da ração, é sempre um prejuízo maior. É difícil às vezes ele conseguir se manter na atividade”, completa Lorenzi.
Para a grande maioria dos produtores da região, de cerca de 70%, o aumento do preço da ração não tem feito diferença nas contas da propriedade. Esse é o caso do produtor Alberto Biasotto. Ele tem 310 porcos e se dedica a engorda no modelo de integração, o mais comum pela região. O criador entra com instalações e mão-de-obra. “Eu consigo um lucro de R$ 25”, diz.
A indústria integradora fornece animais, medicamentos, assistência técnica e toda a ração. O presidente da integradora Aurora, Mário Lanznaster, afirma que a alta dos insumos, como ração e medicamentos importados, reduziu os ganhos da indústria. Mas parte da perda foi compensada com o aumento das exportações, que foram recorde no ano passado. Em 2015, o Brasil vendeu 555 mil toneladas de carne suína para outros países, com aumento de 9,7% em relação a 2014.
Uma boa notícia pro setor foi o início das vendas para a China nos últimos meses, além da liberação recente das exportações de Santa Catarina para a Coreia do Sul.
“É positivo sim. Mas esse mercado tem que ser conquistado. Tanto a China quanto a Coreia já têm quem os abastece. Eles vão vir aqui, vão visitar o nosso Ministério da Agricultura, vão visitar as agroindústrias, visitar os produtores. Aí, você passa a conquistar os clientes de lá que queiram comprar. Não é da noite para o dia, com certeza”, esclarece Lanznaster.
A Rússia foi o país que mais comprou carne de porco do Brasil no ano passado, com quase metade das exportações.