Lideranças do agronegócio divergiram sobre o conteúdo do Plano Safra 2016/17, que foi divulgado na quarta-feira (04/05) pelo governo federal. O novo plano prevê um valor recorde de R$ 202,9 bilhões de crédito disponível para financiamento agrícola, montante 8% superior ao do ciclo anterior. Os recursos para custeio e comercialização a juros controlados – reajustados em 0,75%, tendo como teto 12,75%, ainda abaixo da Selic – totalizam R$ 115,8 bi, 20% a mais que o destinado na temporada passada, restando R$ 53 bi para captação a taxas de mercado.
Entre os principais pontos criticados pelos dirigentes, houve convergência com relação ao aumento dos juros – embora fosse previsível dada à conjuntura econômica –, o volume de crédito considerado baixo para o seguro rural e a desconfiança de que, caso haja a troca na presidência da República, este plano fique só no papel. Por outro lado, a antecipação do anúncio do plano – ainda que por razões políticas – foi criticada por algumas lideranças, mas elogiada por outras. O mesmo aconteceu no que diz respeito ao montante total de crédito rural ofertado, tido por alguns dirigentes como satisfatório e por outros aquém do necessário.
CNA e Famato
Segundo o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, o anúncio do plano foi inadequado, especialmente porque foi rompida a tradição de discussão prévia do conteúdo com o setor agropecuário. “O documento contém pontos altamente negativos como as elevadas taxas de juros, omissão em relação ao seguro rural e queda no nível de investimento.”
De acordo com Martins, o volume de recursos está dentro das expectativas do setor. O problema, disse o presidente da CNA, está em saber se o dinheiro será realmente liberado. Por sua vez, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, avaliou como insuficiente o montante total de crédito disponível para financiamento. “A proposta dos produtores rurais era de R$ 225 bi, por isso o plano não atende às expectativas.”
Ao menos no tocante ao seguro rural, tanto Martins quanto Prado concordaram que o valor de R$ 400 milhões dedicado à subvenção é baixo. “A verba mínima necessária deveria superar R$ 1 bilhão”, assinalou o presidente da CNA. No que diz respeito aos juros, o dirigente da Famato ressaltou que causou insatisfação as taxas para grandes produtores. “Houve um incremento de 0,75%, saindo de 8,75% para 9,5%, enquanto que a proposta do setor produtivo era de redução para 7,5%.”
Ocepar e SNA
O gerente técnico e econômico da Ocepar, Flávio Turra, analisou como pontos favoráveis do plano o aumento geral do volume de recursos e a antecipação da divulgação em comparação com anos anteriores, o que foi de encontro ao posicionamento da CNA, que criticou o fato de que o adiantamento fez com que sugestões do setor não fossem contempladas no documento. Por outro lado, a Ocepar também rechaçou o aumento geral nas taxas de juros e o montante insuficiente de recursos para o subsídio ao seguro rural.
Já o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antônio Alvarenga, considerou o plano bem estruturado, com inovações, segundo ele, interessantes e importantes para o setor. “O agronegócio tem um calendário regido pela natureza. Os recursos precisam estar disponíveis no tempo certo para que os agricultores façam seus investimentos de custeio da safra no momento apropriado”, afirmou em referência positiva à divulgação antecipada do plano.
“O plantio não pode atrasar. O pior que poderia acontecer seria permitir que as turbulências políticas atrapalhassem o lançamento do plano e, consequentemente à liberação dos recursos para os produtores rurais.”