A resistência bacteriana é uma das temáticas mais discutidas nos últimos anos. Principalmente no setor produtivo animal, desde que a União Europeia baniu o uso dos antibióticos como aditivos na alimentação. Uma das motivações europeias foi a possível resistência cruzada entre os antibióticos vancomicina, de uso humano, e avoparcina, de uso veterinário. A decisão levou consumidores em todo o mundo a atribuir aos antimicrobianos utilizados como aditivos nas rações a culpa pelo aumento dos casos de resistência bacteriana.
Para o especialista em farmacologia e professor titular da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), João Palermo Neto, ainda não dá para criar frangos e suínos no mesmo espaço sem usar os aditivos antimicrobianos. O assunto foi apresentado durante a reunião do Grupo de Trabalho de Sanidade Animal da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), realizada no início de julho, em Brasília.
Para o professor, é possível que no futuro isso seja admissível, mas que “acha muito difícil”, principalmente se considerarmos países tropicais e subtropicais como o Brasil, cujo clima favorece as bactérias persistirem no meio ambiente por mais tempo, com temperaturas ideais para a multiplicação. “Os aditivos antimicrobianos são substâncias que regulam as bactérias na microbiota intestinal, evitando perdas de peso porque permitem uma correta absorção dos nutrientes”.
O especialista exemplifica a situação da seguinte forma: entre o nascer de um pintinho e seu abate são pouco mais de 30 dias. “Imagine 50 mil aves. O que representa um dia de atraso, para o ganho de peso, no período de abate? Quanto come uma ave e multiplique por 50 mil? Veja quantas toneladas de ração a mais serão necessárias. Gastando mais, o produto fica mais caro na gôndola do mercado”.
Estudo científico – Ainda não há nenhuma pesquisa que aponte a relação causal entre o uso dos aditivos em veterinária e o aumento da incidência de bactérias resistentes. Palermo explica que muitas pesquisas têm sido desenvolvidas na tentativa de substituir os antimicrobianos por outras substâncias, como probióticos, prebióticos, alguns extratos de plantas (alho, noz moscada, canela). “Os mais adiantados são os probióticos, com os quais se pretendem regularizar a microbiota intestinal por meio da administração de bactérias de uma flora boa. Eles produzem um bom efeito. Mas ainda não se conseguem usar estes produtos em grande escala”, apontou Palermo.
Avicultura brasileira – Na atualidade, a produção avícola exige muito rigor na prevenção e tratamento de doenças, para atender as exigências sanitárias dos países importadores. Por isso, observa o professor, a epidemiologia aliada ao melhoramento genético e à formulação correta de rações têm sido os grandes responsáveis pelo sucesso da avicultura brasileira, junto ao uso de medicamentos veterinários e, em especial, dos antimicrobianos. No entanto, ressalta Palermo, mesmo com todo o cuidado, pode-se surgir resíduos na carcaça ou ovos dos animais tratados e propiciar o desenvolvimento de resistência bacteriana.
Mas, acrescenta o especialista, estas concentrações de resíduos são seguros aos consumidores. “É preciso clareza aos consumidores que é possível a produção de alimentos saudáveis empregando-se medicamentos veterinários em animais de produção. Basta empregar apenas aqueles que tenham sido aprovados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), na forma correta recomendada pelos fabricantes, isto é, na dose e posologias certas e observando-se o período de carência”.